Ronald Biggs comprovou que o Brasil é um paraíso para os ladrões
Com certeza, a etapa da vida que nos faz sentir mais saudades, é aquela da passagem da infância para a adolescência, e, em seguida, a da juventude. O menino está ansioso para ser considerado rapaz, pouco se dando conta de que ainda terá que ultrapassar a adolescência. A fase da afirmação, aquela em que saímos da dúvida na direção da consciência total. Quando acontece a mudança da voz, agora mais grave. Voz de homem!
As lembranças da infância são sempre as mais gostosas, as que nos machucam mais – é a certeza de que, o que aconteceu de errado foi algo involuntário, que acaba ficando gostoso de reviver.
Uma das boas lembranças da fase de criança, além das famosas fases do, “engole o choro”, “te mete comigo, que pau te acha” ou apenas o sonoro, “quando chegar em casa, a gente conversa”, foi aquela em que você, de forma inocente, mas esperando um retorno, se deixava usar para alguma coisa.
Nunca discordamos de alguns petistas educados, aqueles que não se acham donos do mundo, os que sabem de tudo e vivem dizendo que outros não sabem de nada, aqueles que só eles são homens retos e corajosos, quando, de forma acertada, dizem que, “corrupção” não foi inventada pelo PT. É verdade, sim. Corrupção é algo antigo e alguns quadros petistas apenas modernizaram essa prática, incutindo nela a tecnologia. A Petrobras é a melhor prova prática disso.
E por que essa afirmativa?
Ora, lá pelos idos dos anos 50, na minha infância sofrida, mas feliz por ter sido honesta, lembro que o bairro tinha apenas um campo de futebol, local onde a meninada passava as tardes aprendendo a jogar. E, vez por outra, pelo menos em duas vezes por ano, o único campo de futebol era “cedido a troco de alguma coisa” (imagina-se o que, né não?) para a instalação e funcionamento do Circo Garcia, um dos mais longevos do nordeste.
Elefantes, macacos, leão, malabaristas e demais membros de uma trupe que dava inveja aos concorrentes. Três ou quatro dias antes, o circo chegava, e a montagem começava. No mesmo dia da estreia, por volta das 14/15 horas um aprendiz de palhaço, megafone à mão e sobre pernas de paus, se fazia acompanhar por dezenas de crianças, caminhando a anunciando a esperada estreia da noite.
Ao fim do anúncio ou de cada parte dele, pedia à meninada para ser acompanhado na algazarra:
– E arrocha, negrada!
Mas, o mais importante daquela tralha toda, era que, o menino que quisesse ter direito ao acesso gratuito, tinha que acompanhar o “anunciante” até o circo, e, lá, receber uma marca ou um carimbo num dos braços, uma espécie de “passe livre”.
Era dolorido enfrentar a mãe na hora do banho, pois ela queria sempre “esfregar o filho” para garantir a higiene completa. E ficava aquela celeuma (na verdade, para não apagar o “passe livre”):
– Mãe, deixa que eu sei banhar sozinho!
Moral da lembrança: a corrupção pagou para alguém para usar o campo de futebol, único lazer da meninada. Alguém recebeu para ceder temporariamente, algo que não lhe pertencia. Tivemos algo parecido com isso.
Mas, não há como mudar isso, pois, se o PT não inventou essa doença, acabou encontrando campo e tempo para disseminar e até modernizar sua prática.
O Brasil sempre foi um paraíso para a escória vinda da Europa. Um dos melhores exemplos: o ladrão inglês Ronald Biggs.
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CORRIDA DE ROLIMÃS
Antigo carrinho de rolimãs
Um pedaço de tábua, uma lata velha com pregos, um pequeno martelo, cola, uma serra tico-tico, liberdade para criar e disposição – eram esses os ingredientes para construir um brinquedo. Não havia shopping, não havia play-ground e muito menos a fábrica Estrela.
Nós éramos nossas fábricas. Nós éramos nossas alegrias – e quando saíamos dos limites impostos pelos nossos pais, e nunca pela polícia, o relho comia. Sem frescura ou mimimi. Ninguém ficava esquizofrênico, ninguém fazia psicanálise, e ninguém se achava vítima de bullying.
Campos abertos repletos de soltadores de pipas; praças cheias de buracos de jogos de peteca; campeonatos de pião. Atitude comum: jogando bola na rua, era obrigatória a parada para a passagem de alguém. E ninguém reclamava nada.
Comum, também, era a bola cair dentro do quintal de algum vizinho. Affmaria!
O dia da criança era todo dia!
Havia sempre o cuidado de “escolher o time” com meninos que morassem na mesma rua – para o caso da bola cair no quintal de alguma mãe brava. O menino que orava na casa onde a bola caía, ia pegar de volta.
Assim, foi durante anos a meninada de muitos lugares brasileiros – que, hoje, o tempo de quando não havia celular está deixando muita saudade.
Sem tablete, mas com carrinho de rolimãs. Sem celular, mas com peteca. Sem vídeo game, mas com uma enorme coleção de gibis mensais.
Quando surgiram as primeiras ruas asfaltadas em alguns bairros, os meninos mais engenhosos e criativos logo inventaram as corridas de rolimãs – com certeza foi ali que foi inventada a Fórmula 1.
Por anos, esse foi o “kit-man” dos muitos coxinhas e homofóbicos de hoje.