RIO - O corpo do jornalista e político Wagner Montes está sendo velado no saguão do Palácio Tiradentes, sede do Parlamento fluminense, no Centro do Rio, na manhã deste domingo. No local, amigos e fãs se despedem do deputado estadual. A família, bastante abalada, não quis falar com a imprensa. Em cima do caixão, há uma bandeira da escola de samba Beija-Flor de Nilópolis. Entre as dezenas de coroas de flores no local, uma chama a atenção: foi enviada pelo apresentador Silvio Santos. Montes morreu aos 64 anos, neste sábado, em decorrência de uma infecção generalizada e falência de múltiplos órgãos .
— Vim ontem e hoje. Era muito fã dele. Cheguei 14h e fiquei até 22h. Foi um apresentador muito importante para o Rio. Uma vez eu estava em um restaurante e fui falar com ele. Ele autografou a minha camisa do Brasil. Foi um bom político, vai deixar saudade — diz Édson Rosa, de 49 anos, segurando um cartaz escrito "Vá com Deus #WagnerMontes".
Às 13h, o corpo será transportado para o crematório do Cemitério da Penitência, no Caju, onde haverá uma cerimônia de despedida fechada para a família e amigos próximos. Wagner Montes nasceu em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, e era formado em Direito pela Universidade Gama Filho. Ele estava internado há dois meses no hospital Barra D'Or.
O presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), deputado estadual André Ceciliano, afirma que, mesmo debilitado nos últimos meses de vida, Wagner Montes contagiava a todos com sua alegria.
— Ele era muito presente, muito trabalhador e muito alegre. Companheiro valoroso, estava sofrendo muito nos últimos meses. Nas últimas vezes, ele veio de cadeira de rodas. Então ele pedia: "Dez minutos. Dez! Só dez!". Dez era o número dele — recorda, rindo, Ceciliano.
O deputado estadual Gilberto Palmares (PT) lembrou da convivência:
— Eu convivi com ele 14 anos, sempre em partidos diferentes, com orientações políticas diferentes, mas isso não impediu que a nossa relação fosse extremamente cordial. Às principais votações em defesa do servidor público a gente votou junto, do mesmo lado. As pessoas lembram do llado irreverente, lado comunicador, mas quero registrar esse fato. Votamos muitas vezes do mesmo lado contra o processo de privatização do estado.
Bastante emocionada, aos prantos durante a cerimônia, a feirante Mara Lima de Oliveira, de 55 anos, não esconde a tristeza no adeus ao ídolo:
— O ano de 2019 começou horrível. Gostava muito do trabalho dele. Era fã. Uma pessoa que vai fazer muita falta. Ele era uma pessoa muito boa em tudo o que ele fazia. Vai fazer falta em tudo — afirma Mara.
Wagner ganhou notoriedade ao apresentar noticiários policiais, de cunho popular, no rádio e na televisão. Com pitadas de humor, adotava o bordão "escraaacha". Em 2018, foi eleito deputado federal pelo PRB com 65.868 votos para um mandato que iria até 2022. Ele já havia atuado na Alerj de 2007 a 2018, passando por partidos como PDT e PSD. Nas eleições de 2010, obteve 528.628 votos, tendo sido o candidato mais votado.
A morte de Wagner Montes gerou comoção no meio político. O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, decretou três dias de luto oficial na cidade. "Hoje, há em cada olhar uma lágrima, em cada lar uma oração e em cada coração um voto de pesar e de saudade, pelo falecimento do líder, servidor do povo e amigo de todos, Wagner Montes que a morte nos arrebatou inesperadamente", disse o prefeito, por meio de nota enviada à imprensa.
"É com profundo pesar que recebemos a notícia do falecimento do deputado federal, Wagner Montes (PRB). Somos solidários aos familiares e amigos neste momento difícil", diz a nota da direção do PRB do Rio.
Carreira de jornalista há mais de 40 anos
Montes começou sua carreira como jornalista em 1974 na Super Rádio Tupi e, em 1979, tonou-se apresentador do programa "Aqui e Agora", da TV Tupi. Ele trabalhou por 17 anos no SBT, emissora na qual participou do "O Povo na TV" e como jurado do "Show de Calouros". Atuou nas rádios Record e América, em São Paulo, e na Manchete, no Rio, e na Rede CNT. Em 2003, migrou para a TV Record e apresentou os programas "Verdade do Povo", "Cidade Alerta Rio", "RJ no Ar" e "Balanço Geral".
— Eu trabalhei com ele em "O Povo na TV", um programa que ajudava muita gente. Eu era auxiliar de serviços gerais. A memória que fica é de uma pessoa de valor, com humanidade, que sempre gostou das coisas certas, de carinho e do respeito pelo ser humano. Vim desejar que ele descanse em paz — diz, emocionado, Reginaldo Reis, de 55 anos.
Nas eleições de 2006, Montes se afastou da TV para concorrer a uma vaga na Alerj. Foi o terceiro mais votado, pelo PDT, com mais de 100 mil votos. Em fevereiro de 2007 inaugurou a coluna semanal "Escraaaacha!", publicada às sextas-feiras no jornal "Meia-Hora".
Primeiro vice-presidente da Alerj na legislatura de 2015 a 2018, Montes chegou a presidir o parlamento fluminense na ausência de Jorge Picciani (MDB), ex-presidente da Casa que está em prisão domiciliar. Ele não chegou a se manter na presidência por motivos de saúde.
Em 1981, Montes sofreu um acidente com um triciclo e precisou amputar a perna direita. Para se locomover, usava uma prótese. Montes deixa a mulher, a atriz e apresentadora Sônia Lima, de 59 anos, e dois filhos — um, fruto do relacionamento com Sônia; outro, fruto de um relacionamento de um ano com a Miss Brasil de 1983, Cátia Pedrosa.