Idosos com mais de 80 anos serão os próximos da fila para imunização contra a covid-19 no Distrito Federal, a partir de segunda-feira. As vacinas serão aplicadas em 36 salas, 30 delas em unidades básicas de saúde e outras seis em locais considerados estratégicos pela Secretaria de Saúde, como escolas e ginásios. O primeiro dia de vacinação desse público prioritário, composto por 42.355 pessoas, começará às 13h, excepcionalmente. A lista completa de endereços está disponível no site do Correio — www.correiobraziliense.com.br.
À medida que novas doses chegarem, o grupo vacinado deve ser ampliado. Os próximos contemplados, segundo a Saúde, serão idosos a partir de 75 anos e pacientes acamados, com dificuldade de locomoção, assistidos pelas rede pública e privada e um cuidador por núcleo familiar.
A expectativa do governo é de receber mais de 100 mil doses da CoronaVac hoje. As vacinas fazem parte de um lote de 8,7 milhões que o Ministério da Saúde distribuirá entre as unidades da Federação. O governador Ibaneis Rocha (MDB) havia adiantado, em entrevista ontem, que até quarta-feira os imunizantes estariam disponíveis. A capital federal vacinou 44,3 mil pessoas. Apesar do avanço na imunização, especialistas alertam para a alta da média móvel de casos registrados nos últimos dias e para a possibilidade de um aumento de contaminações após o carnaval, mesmo sem festas oficiais.
Mesmo sem a certeza do número de doses que devem ser entregues, o governador alertou que elas não serão suficientes para uma cobertura total e imediata. “Não vai dar para todo mundo, então vamos vacinando de acordo com a chegada”, frisou, após o evento de entrega da revitalização da Estrada Parque Indústrias Gráficas (Epig), ontem.
Em relação à proximidade do feriado de carnaval, marcado para 16 de fevereiro, o chefe do Palácio do Buriti informou que não pensa em adotar medidas restritivas específicas para a data, mas que a fiscalização contra festas clandestinas e o descumprimento das regras sanitárias devem continuar. “Como não haverá blocos de rua, estamos esperando que seja mais tranquilo, mas vamos manter as fiscalizações”, completou. Além disso, a restrição de horário para bares e restaurantes continuará em vigor, com limite de funcionamento até as 23h.
Cenário
Apesar da tranquilidade do governo e do avanço da vacinação no DF, Breno Adaid, pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), do Departamento de Ciência do Comportamento, e coordenador do mestrado em Administração do Centro Universitário Iesb alerta para o número de casos. Na última quinta-feira, a média móvel de novos infectados — cálculo da média de casos nos últimos sete dias — ficou em 1.037, a maior desde setembro de 2020, quando o índice chegou a 1.064. Segundo Breno, esse valor indica que, no período analisado, houve um aumento muito brusco de casos. “Quando a média apresenta um crescimento muito rápido, significa que muitos casos foram registrados nos últimos dias, e isso pode levar a uma busca maior por leitos e por assistência”, observa.
Na avaliação de Adaid, o aumento é uma consequência natural da movimentação de festas e viagens de fim de ano e, caso o comportamento das pessoas não mude, pode se repetir no meio de fevereiro. “Com as possíveis novas cepas circulando e o comportamento das pessoas a favor da disseminação do vírus, pode ser que, após o carnaval, se tenha um aumento de 30% no número de novos casos”, afirma. Até o momento, a Secretaria de Saúde do DF não registrou casos de novas cepas do vírus na capital.
O DF registrou, em 24 horas, 1.087 novos casos e 14 mortes pela doença, segundo boletim epidemiológico divulgado, ontem, pela Saúde. No total, são 275.688 casos confirmados e 4.533 mortes. Do total de infectados, 264.783 se recuperaram. A taxa de transmissão calculada pela pasta está em 0,83. Índices maiores do que 1 indicam avanço da pandemia.
Riscos
Caso as pessoas realizem festas com aglomeração e sem cumprir os protocolos de segurança sanitária, seja no carnaval, seja em qualquer outra época, há risco de um aumento grave do número de casos e isso, de acordo com o epidemiologista e professor do Departamento de Saúde Pública da UnB Mauro Sanchez, pode levar a um colapso do sistema de saúde.
O especialista afirma que, em casos de aglomerações, há dois principais riscos. “Primeiro, a própria pessoa pode se infectar e desenvolver a doença, seja de forma grave ou não. Segundo, ela pode transmitir para alguém que seja do grupo de risco e esta pessoa pode ter complicações sérias”, comenta Sanchez.
Após uma pessoa ser infectada, ela transmite o vírus por cerca de uma semana antes de apresentar sintomas. “Ou seja, uns 10 ou 15 dias depois da eventual aglomeração, se, de fato, acontecerem, pode ser que haja um aumento brusco de casos e muitas pessoas doentes. Tudo por causa de uma imprudência desnecessária”, completa.
Além disso, Sanchez considera que, se casos de aglomerações, como festas clandestinas, forem registrados durante o carnaval, os esforços de vacinação podem ser em vão. “É preciso que as duas frentes de combate estejam combinadas para que possamos vencer esta pandemia”, diz.
Em relação aos possíveis casos de descumprimento de medidas sanitárias e à realização de festas clandestinas, a Secretaria de Saúde informou, em nota, que a Vigilância Sanitária continuará intensificando as ações de fiscalização em bares, restaurantes, shoppings, centros comerciais e outros locais.
A Lei nº 6.437/1977 prevê autuação quando um estabelecimento oferece alto risco de contaminação em massa. O flagrante do desrespeito às normas pode gerar a aplicação de multa que varia entre R$ 2 mil a R$ 2 milhões, dependendo das irregularidades encontradas pelo órgão fiscalizador. A nota reforça que a pasta “continua orientando a população para evitar aglomerações, manter o uso de máscara e higienizar as mãos com água e sabão ou álcool em gel”.
» Colaborou Ana Maria Campos
* Cerca de 5% das doses recebidas fazem parte da reserva técnica para suprir possíveis perdas que possam acontecer ao longo da campanha. Dessa forma, há estoque para uma eventual reposição.
O cidadão que flagrar desrespeitos por parte do comércio local tem duas opções: o telefone 162 (Ouvidoria) ou o 190. Já quem flagrar irregularidades no processo de vacinação pode denunciar ao Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), por meio de formulário eletrônico, pelo endereço www.mpdft.mp.br/ouvidoriainternet/#/ouvidoria ou pelo número 0800-644-9500 (ligação gratuita), em dias úteis, de 2ª a 6ª, das 12h às 18h.