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Cerca de 60 pessoas, principalmente empresários, reuniram-se, ontem, em frente à Câmara Legislativa para protestar contra as medidas restritivas
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O Distrito Federal deve receber, hoje, mais 26,2 mil doses da CoronaVac, imunizante contra a covid-19 produzido pelo Instituto Butantan, em São Paulo, em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac. Caso a remessa chegue, começará, amanhã, a vacinação de pessoas com 75 anos. A Secretaria de Saúde (SES-DF) calcula que o grupo seja composto por cerca de 9.363 idosos. O Executivo local pretende, até o fim de março, finalizar o atendimento de todos os brasilienses com mais de 70 anos. Se a previsão se concluir, em abril, terá início a aplicação das doses em pessoas com 65 anos ou mais, além do público em geral.
A ampliação da campanha de imunização é uma das principais medidas para combater o avanço da pandemia da covid-19. Entre segunda-feira e ontem, a SES-DF confirmou 563 novos casos de infecção pelo novo coronavírus e 22 mortes pela doença. Com isso, o total de contaminados chegou a 299.399, e o de vítimas, a 4.887. Além disso, por volta das 18h, 88,67% dos leitos públicos e privados em unidades de terapia intensiva (UTIs) voltados a esses pacientes estavam ocupados. Do total de 459 vagas, apenas 43 estavam disponíveis, e nove, bloqueadas.
Até ontem, 143 mil pessoas haviam sido imunizadas contra o novo coronavírus. Segundo o governador Ibaneis Rocha (MDB), o Executivo local conta com a distribuição de cerca de 30 milhões de doses pelo Ministério da Saúde para todo o país, neste mês. Com isso, outros trabalhadores devem entrar nos grupos prioritários nas próximas semanas. “Fiscais e auditores da (Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística) DF Legal, assistentes sociais e conselheiros tutelares. Mandei fazer um levantamento das áreas mais sensíveis, para decidir em conjunto com a Secretaria de Saúde”, afirmou.
Desde o início da pandemia, o Distrito Federal recebeu seis remessas com os imunizantes, um total de 240.560 unidades. Até ontem, 52.680 pessoas haviam recebido as duas doses. Em estoque, a SES-DF conta com 10,2 mil doses de vacinas contra a covid-19. Questionado sobre os envios ao DF, o Ministério da Saúde informou que está “elaborando o cronograma de distribuição da nova remessa de vacinas do Instituto Butantan”.
Na avaliação de Ana Helena Germoglio, infectologista do Hospital Águas Claras, a vacinação deve ocorrer de forma “sistemática e gradativa”, priorizando grupos com maior risco de evolução para casos graves. Só após a imunização de cerca de 80% da população, segundo ela, será possível controlar a circulação viral e reduzir o número de casos. “A pandemia tem desafiado pesquisadores e gestores a encontrar medidas que evitem o colapso dos sistemas de saúde e reduzam as mortes. Estudos sugerem que o distanciamento social, desde que bem adotado pela população, é efetivo, especialmente quando combinado à testagem ampla, ao isolamento de casos confirmados e à quarentena dos contactantes”, ressaltou a médica.
ProtestoApesar de especialistas defenderem a adoção de medidas restritivas e de distanciamento social para evitar a disseminação do novo coronavírus, o Distrito Federal encontra-se na sétima posição no ranking que avalia o índice de isolamento nas unidades federativas, com uma taxa 37,02%. Os dados são da plataforma Inloco. Ainda assim, ontem, mais de 60 manifestantes se reuniram em frente à Câmara Legislativa (CLDF) para protestar contra o fechamento de alguns setores. A medida, decretada pelo Executivo local, começou a valer no domingo.
Ao som de buzinas e vestidos com blusas pretas ou com as cores da bandeira do Brasil, os manifestantes levantavam cartazes e faixas com dizeres como “Queremos trabalhar” e “Salvar empregos também é salvar vidas”. O ato, que durou mais de três horas, foi coordenado pelo bolsonarista Renan Silva Sena — preso em junho por gravar vídeos xingando Ibaneis e atacando instituições como o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional. Renan é o mesmo que, em maio, hostilizou enfermeiras durante um protesto silencioso promovido pela categoria na Praça dos Três Poderes. “Estamos lutando pelos nossos direitos. Não pense vocês que o lockdown vai quebrar a todos. Isso é uma mentira. Pelo contrário, ele atingirá somente a nós, empresários”, disse ele, ontem.
A maioria dos manifestantes eram empresários que pediam a reabertura do comércio. Aurileia da Silva, 45 anos, administra uma loja de roupa de bebês na Feira dos Goianos, em Taguatinga Norte, e teme ficar sem salário este mês. “Meu marido está desempregado, e tenho uma filha jovem para sustentar. Quero saber o motivo pelo qual os hospitais de campanha e os leitos de UTI foram desativados. Somos a favor dos cuidados com a pandemia, mas, por causa de um erro político, todos pagam”, criticou.
PolêmicaA medida restritiva gerou polêmica entre a comunidade médica, após o Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF) publicar uma nota contrária à suspensão das atividades. Ontem, o presidente da entidade, Farid Buitrago, disse ser contrário a lockdowns e considerou ineficaz a proposta do DF. “Para evitar a transmissão, é preciso adotar ações diferentes. O vírus se transmite a todo momento”, comentou. O representante do CRM-DF também cobrou a expansão da imunização contra a covid-19. “Foram atendidas poucas pessoas. Sabemos que a disponibilidade de doses é pequena, mas a população precisa ser vacinada.”
Após a divulgação do texto, a Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) e a Sociedade de Infectologia do Distrito Federal (SIDF) divulgaram notas de repúdio ao posicionamento do conselho. “Surpreende-nos sobremaneira a afirmação do CRM-DF ao argumentar contra uma medida destinada a evitar a morte das pessoas afetadas pela doença”, disse o texto do grupo vinculado à instituição de ensino. No documento da SIDF, houve críticas e a informação de que não houve consulta ao grupo representante dos infectologistas “antes da emissão dos posicionamentos recentes, que são a favor do tratamento específico precoce para covid-19 e contra o lockdown”.
Suspensão de ações fora da pautaUm projeto de decreto legislativo (PDL) que tentava suspender as medidas restritivas em vigor no Distrito Federal tramita na Câmara Legislativa. A proposta tinha previsão de entrar na pauta ontem, mas ficou de fora. O presidente da Casa, Rafael Prudente (MDB), explicou que a matéria não foi a votação por falta de quórum — mínimo de
13 deputados. “Meu receio é de o apreciarmos e não termos votos necessários para seguirmos adiante. Também não quero criar falsas expectativas para os empresários, sendo que não há ilegalidades no ato do governador. Se colocarmos um veto hoje (ontem), amanhã, a Justiça libera o lockdown novamente”, disse o parlamentar.