Com a proximidade da vacinação contra covid-19 para pessoas com comorbidades, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) deu início ao cadastramento desse público — estimado em 513 mil habitantes, considerados apenas aqueles com menos de 60 anos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O objetivo do registro é confirmar quantos brasilienses fazem parte do novo público-alvo da campanha (leia mais na página 16). As enfermidades elegíveis constam no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra Covid-19 (PNO), do Ministério da Saúde. No entanto, a capital federal incluiu outras condições na lista, como grávidas e puérperas (leia Tipos).
Indivíduos com algum diagnóstico incluso na relação devem se cadastrar pelo site vacina.saude.df.gov.br. O agendamento ocorrerá gradativamente, de acordo com o número de doses disponíveis e enviadas ao DF pelo governo federal. A subsecretária de Planejamento à Saúde, Christiane Braga, afirma que só quem fizer o registro poderá receber as doses. “A inscrição não tem data para acabar, mas, quanto antes a pessoa fizer, melhor para agilizar os próximos passos”, ressaltou.
Caso o paciente faça tratamento contra a doença crônica na rede pública de saúde, o sistema da SES-DF confirmará essa informação, e será possível imprimir o comprovante de agendamento. Se não for o caso, a pessoa deverá levar, no dia da vacinação, além do documento emitido após o término da inscrição, um relatório médico que comprove a comorbidade indicada. Embora o PNO preveja que a vacinação ocorra por meio da apresentação de qualquer comprovante, como exames ou receitas, a secretaria distrital aceitará apenas laudos.
O único público que deve ter conduta diferenciada são as grávidas. Com ou sem comorbidades e sendo atendidas ou não na rede pública, elas devem se cadastrar e apresentar, no momento da vacinação, um relatório médico comprovando que a gestante recebeu todas as orientações de saúde e que não tem qualquer contraindicação.
Controle
A primeira etapa da vacinação de pessoas com comorbidades tem previsão de começar na terça e seguir até quinta-feira. O agendamento, segundo a Christiane Braga, começará na segunda-feira. “A expectativa é de que ele ocorra um dia antes da vacinação de cada grupo”, completou a subsecretária. Nesta primeira fase, estão inclusas pessoas com síndrome de Down; deficiência permanente e de 55 a 59 anos; gestantes ou puérperas com comorbidades; bem como pessoas em terapia renal substitutiva.
A previsão é de que as cerca de 5 mil doses da vacina da Pfizer/BioNTech, previstas para chegarem ao DF na segunda-feira, além de algumas doses da Oxford/AstraZeneca, atendam a esse novo público. Depois, a imunização contemplará pessoas com todas as demais comorbidades, e continuará por ordem decrescente de faixa etária, começando por indivíduos com 59 anos.
“Fizemos essa separação para facilitar o acesso das pessoas e a distribuição das doses, além de evitar filas desnecessárias e uma corrida pelas vacinas. Precisamos fazer isso de forma controlada, porque há pacientes com doenças graves que não podem ficar muito tempo expostos”, comentou Christiane. Ela explicou que mesmo quem perder a data de agendamento, poderá agendar a vacinação depois. “Além disso, quem tomar a primeira dose terá a segunda garantida”, completou.
Calendário
Assim como ocorre com os outros grupos, a vacinação de pessoas com comorbidades avançará de acordo com as doses recebidas pela Secretaria de Saúde, não sendo possível escolher imunizantes de preferência. Werciley Júnior, infectologista-chefe do Hospital Santa Lúcia, avalia que não há hierarquia de gravidade entre as doenças do plano de vacinação: “Todas merecem igual atenção, nenhuma é pior do que outra”, enfatizou. “Essas são enfermidades associadas, normalmente crônicas, que o paciente tem há algum tempo e com a qual convivem. Nem todas puderam entrar na prioridade da vacinação. As listadas são aquelas que podem agravar um quadro da covid-19”, explicou Werciley.
Especialista em doenças infecciosas e médico dos hospitais de Base e das Forças Armadas (HFA), Hemerson Luz faz um alerta quanto aos riscos: “É preciso tomar cuidado com doenças cujo tratamento pode piorar a condição do paciente em caso de contágio pela covid-19. Alguns remédios diminuem a imunidade. Inclusive, caso a enfermidade esteja descompensada, a vacina pode não ter o efeito desejado. Nesses casos, é importante que a pessoa procure um médico para saber se pode se imunizar ou não. Se a comorbidade estiver tratada e controlada, normalmente, o paciente está liberado”, afirmou o especialista.
A inclusão de novos grupos e o avanço da campanha de vacinação dependem do envio de doses pelo Ministério da Saúde. Enquanto isso, profissionais da rede de saúde privada e da segurança pública seguem em atendimento, bem como idosos.
Tipos
Confira todas as condições previstas pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal para vacinação contra a covid-19
Cirrose hepática
Síndrome de Down
Doença renal crônica
Insuficiência cardíaca
Mulheres em puerpério — até dois meses
após o parto
Arritmias cardíacas — alteração no ritmo
dos batimentos cardíacos
Doença cerebrovascular — inclui acidente vascular cerebral (AVC) e demência vascular
Valvopatias — problemas nas quatro
válvulas cardíacas que impedem o retorno
do sangue ao coração
Síndromes coronarianas —presentes nas pessoas com suscetibilidade às doenças
ou que tiveram infarto
Hipertensão arterial resistente (HAR) — o paciente tem a pressão arterial controlada
por diferentes tipos de medicação
Cor pulmonale e hipertensão pulmonar — eleva a pressão cardíaca por alteração no pulmão, prejudicando a respiração do indivíduo
Cardiopatia hipertensiva — causada pela alteração da função cardíaca devido ao aumento da pressão, levando ao inchaço do coração
Diabetes mellitus — inclui os tipos 1,
aquele em que a pessoa nasce com a
condição, e tipo 2, quando a enfermidade
é adquirida ao longo da vida
Hipertensão arterial estágio 3 — condição de hipertensão arterial dividida em estágios crescentes de gravidade, conforme faixa de pressão cardíaca
Doenças da aorta, dos grandes vasos e
fístulas arteriovenosas — envolvem pessoas
sob tratamento de diálise e doenças dissecantes, como aneurisma da aorta
Próteses valvares e dispositivos cardíacos — diz respeito a indivíduos submetidos a cirurgias no coração, como para inserção de marcapasso e troca de válvulas
Miocardiopatias e pericardiopatias — a primeira é a alteração do músculo cardíaco;
a segunda envolve problemas na membrana que cobre o coração, como inflamações
Obesidade mórbida — pessoas com índice de massa corpórea (IMC) superior a 40 ou pessoas com IMC maior que 35 e disfunções orgânicas, como obesidade e hipertensão
Hipertensão arterial estágios 1 e 2, com LOA (lesão de órgãos alvo) ou comorbidade — ocorre quando a alteração na pressão
cardíaca do paciente, mesmo que não seja grave, altera a função de outro órgão
Grávidas com e sem comorbidades — a adaptação do corpo da mulher conforme o crescimento do feto leva à baixa imunidade
do organismo, condição que permanece até três meses depois do nascimento
Cardiopatia congênita no adulto — a pessoa nasce com doenças que alteram a função cardíaca, como Tetralogia de Fallot, insuficiência cardíaca, arritmias e comprometimento no miocárdio, o músculo do coração
Pneumopatias crônicas graves — incluem asma e bronquite em condições graves; doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), inflamação causada pela limitação do fluxo de ar por inalação de toxinas, como aquelas presentes na fumaça do cigarro; além de enfisema e fibrose pulmonar
Anemia falciforme — tipo de anemia em que as hemácias do sangue têm forma de foice e é uma doença que atinge, majoritariamente, a população negra; as hemácias em formato diferenciado prejudicam a circulação do sangue, levando a tromboses no rim, pulmão e baço, entre outros órgãos
Imunossuprimidos — inclui indivíduos congenitamente com baixa produção de anticorpos, como os transplantados de órgão sólido ou de medula óssea; pessoas com HIV; doenças reumáticas com uso de corticoides; pessoas em uso de imunossupressores ou com imunodeficiências primárias; pacientes oncológicos que realizaram tratamento quimioterápico ou radioterápico nos últimos seis meses; e neoplasias hematológicas, causadas pela multiplicação acelerada de células sanguíneas, como leucemia
Trocas na Saúde
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), exonerou o secretário-adjunto de assistência à Saúde, Petrus Sanchez. A decisão saiu em edição extra do Diário Oficial (DODF) de ontem. O texto informa que a médica Raquel Bevilaquia assumirá a vaga. Até então, ela atuava como superintendente da Região de Saúde Leste. A exoneração de Petrus teria resultado de desentendimentos internos na pasta, provocados, principalmente, por problemas verificados nos contratos dos hospitais de campanha. Os documentos definiam que essas unidades contariam com unidades de terapia intensiva (UTIs), mas, tecnicamente, isso não é permitido, devido à impossibilidade de instalação de centros cirúrgicos nessas estruturas.
Para saber mais
A vacinação contra a covid-19 em pessoas com comorbidades é tema do episódio da semana do Luz aos Fatos, podcast do Correio Braziliense. A infectologista Ana Helena Germoglio, especialista em controle de infecções, fala sobre doenças crônicas que podem agravar o quadro de quem contraiu o novo coronavírus e explica como a população deve se proteger.
O programa está disponível nas principais plataformas de reprodução de áudio e pelo link: bit.ly/3t3fm8l.