- Eventualmente, o vírus ia chegar por aqui. O que temos que fazer são aqueles cuidados básicos que devemos ter sempre inclusive que é de lavar sempre as mãos, evitar contato com olho e boca e estar sempre com o cartão de vacinação em dia, nos protegendo das doenças que podem debilitar nossa saúde e nos tornar mais vulneráveis. O corona causa mais receio pois é desconhecido ainda, mas não há razão para pânico.
Prestes a embarcar num cruzeiro pelo litoral brasileiro já na primeira semana de março, a advogada Isis Barreto, de 32 anos, é uma das que estão apreensivas com as notícias, principalmente sobre navios que precisaram ficar em quarentena por conta da epidemia. Somente nos primeiros dois meses do ano, passageiros de três transatlânticos encararam algum tipo de retenção: o Costa Smeralda, na Itália, o Diamond Princess, no Japão, e o MS Westerdam, no Camboja.
Ela não desistiu de viajar, mas ainda tem dúvidas sobre como se prevenir e os reais riscos para sua saúde:
— Até pouco tempo atrás, não sabia direito nem como se pegava. Como não havia casos no país, não me preocupava tanto. Mas dentro de um navio, em contato com diversas pessoas, fico mais receosa, ainda mais sabendo dos casos de quarentena.
A precaução da carioca tem fundamentos, mas não há motivos para cancelar a viagem caso o destino não tenha registrado casos concretos de pessoas infectadas pelo vírus, afirmam médicos. É preciso ficar atento, pois a lista de países afetados pelo coronavírus aumenta. Nos últimos dias, foi a vez de a Itália, onde pelo menos 14 pessoas já morreram em decorrência da doença, e para onde viajou o primeiro brasileiro diagnosticado com o vírus.
A seguir, veja o que dizem especialistas dos ramos da saúde sobre e do direito do consumidor, e o que as empresas estão para fazendo para proteger os passageiros e evitar que o novo coronavírus embarque em mais transatlânticos pelo mundo.
É arriscado embarcar durante a epidemia?
O infectologista Edimilson Migowski, especialista em Medicina do Viajante pela UFRJ, afirma que o coronavírus Covid-19 tem levantado apreensão na comunidade médica internacional com razão. Mas não vê motivo para pânico, principalmente no Brasil.
— Não recomendaria o cancelamento da viagem, especialmente se ela for pela litoral nacional ou aqui perto, já que ainda não foram confirmados casos no país. O fato de estarmos no verão, e o vírus ter se propagado no inverno do Hemisfério Norte, demonstra uma adaptação ao clima de lá, o que também nos favorece — esclarece Migowski.
O médico, no entanto, alerta para a taxa de letalidade da doença, que chega a 2%, número maior do que o do H1N1 e da própria dengue, já velha conhecida dos brasileiros. Portanto, é preciso ter atenção:
— É um vírus novo, portanto quase 100% das pessoas não têm imunidade. Além disso, a transmissão é feita entre humanos, diferentemente do que acontece com a dengue. Então, basta estar em ambientes fechados ou encostar em algo contaminado para que a disseminação seja facilitada.
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Como prevenir este e outros vírus?
É possível minimizar os riscos, diz o médico Estevão Nunes, vice-diretor de Serviços Clínicos da Fiocruz. Os cuidados de higiene são os mais importantes, principalmente dentro de um transatlântico. E não apenas em relação ao Covid-19:
— Lavar as mãos e os alimentos é fundamental, em qualquer época, inclusive, para evitar a proliferação também de outros vírus. Assim como usar álcool gel sempre que possível. E evitar contato com pessoas que apresentem sintomas e que tenham estado em áreas contaminadas nos últimos meses também é importante. Navios de cruzeiro reúnem muitas pessoas em espaço relativamente pequeno, o que aumenta a probabilidade de transmissão.
Com isso, evitar ambientes ainda mais confinados lá dentro é uma boa opção:
— Já temos observado que as companhias estão precavendo seus passageiros e tripulantes, oferecendo mais informações a todos na embarcação. Em caso de qualquer alteração na saúde, é preciso comunicar imediatamente os órgãos responsáveis no navio. Não há motivo para ter medo ou cancelar a viagem. Só é preciso estar atento.
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Em que casos é possível cancelar o cruzeiro?
O passageiro que tiver comprado bilhetes ou contratado pacotes para navios que passarão por destinos em alerta por causa do Covid-19, como a China, a Coreia do Sul, o Irã e, agora, a Itália, podem pedir reembolso ou cancelamento sem multa, segundo a advogada Luciana Atheniense, especializada em direito do consumidor voltado para o turismo.
A advogada ressalta, no entanto, que o mesmo não se aplica se o cruzeiro em questão incluir apenas portos em regiões onde não há casos da doença ou apenas poucos infectados comprovados, como o Brasil.
— Quem vai embarcar para uma viagem marítima no Brasil ou no Caribe, por exemplo, corre um baixo risco de entrar em contato com a doença. Principalmente se a companhia de cruzeiro estiver tomando as medidas determinadas pelas autoridades competentes, como a triagem de passageiros que estiveram em locais mais atingidos pelo surto — explica Luciana.
Para ela, a situação da Itália pode justificar ainda um questionamento junto às empresas quanto a roteiros por outros destinos europeus:
— A gente observa que na Europa é diferente, pela facilidade de ir e vir dos turistas integrantes da Comunidade Europeia ser muito maior, assim como a vulnerabilidade de contrair essa doença.
A advogada orienta os viajantes que já comprara bilhetes ou pacotes, ou já reservaram hospedagem, em lugares mais afetados pelo Covid-19, que procurem o quanto antes as empresas (agências de turismo, companhias aéreas, de cruzeiros ou hotéis) para uma conciliação. Com a justificativa de o destino contratado já ter confirmado a presença de pessoas infectadas, principalmente para as cidades onde o governo local já restringiu o deslocamento da população para locais públicos (praças, estádios e museus, entre outros.
Que medidas estão tomando as empresas?
As principais armadoras de cruzeiros do mundo estão adotando protocolos de segurança comuns em relação ao novo coronavírus. Um deles é a triagem de passageiros e tripulantes.
Costa Cruzeiros e MSC estão impedindo a entrada no navio daqueles que estiveram na China continental, Hong Kong ou Macau (ainda que apenas em conexões em seus aeroportos) e Coreia do Sul, e nas cidades italianas Casalpusterlengo, Codogno, Castiglione D'Adda, Fombio, Maleo, Somaglia, Bertonico, Terranova dei Passerini, Castelgerundo e San Fiorano, na região de Lodi, na Lombardia, e na cidade de Vò Euganeo, situada em Pádua, na região de Veneto, num período de 14 dias antes do embarque.
Nos navios do grupo da Royal Caribbean, a restrição de embarque é para pessoas que estiveram na China continental, Hong Kong ou Macau, Coreia do Sul e as regiões italianas do Vêneto e da Lombardia num período de 15 dias antes da data de início do cruzeiro.
A Disney Cruise Line também ampliou suas restrições para quem esteve nas regiões de Lombardia e do Veneto até 14 dias antes de embarcar. Quem esteve na China continental, Hong Kong ou Macau até 15 dias antes também não poderão embarcar.
Já a triagem dos passageiros e tripulantes da Norwegian Cruise Line está restrita, até o momento, apenas aos que estiveram na China continental, Hong Kong ou Macau, 30 dias antes do embarque.
Em todas as companhias de cruzeiros, passageiros e tripulantes que que tiveram contato com pessoas diagnosticadas com o vírus ou apenas com suspeita de infecção, antes da data do embarque, também estão sendo proibidos de entrar nos navios. Todas as pessoas estão passando por uma espécie de questionário e devem assinar um termo de responsabilidade para garantir a veracidade das informações fornecidas à companhia de cruzeiros e às autoridades portuárias.
Além disso, todas as pessoas estão tendo suas temperaturas medidas antes do embarque. Se o termômetro marcar 37,8°C ou mais, a pessoa será barrada, assim como se apresentar sintomas como calafrios, tosse ou dificuldades respiratórias. As empresas anunciaram também ter reforçado a limpeza nos navios.
Como o vírus afetou as rotas dos cruzeiros?
Desde que a epidemia estourou na China, em janeiro, as companhias cancelaram cruzeiros saindo ou parando nos portos daquele país, um dos maiores mercados do setor atualmente. A MSC, por exemplo, precisou modificar o roteiro de seus navios Splendia e Bellissima, trocando portos chineses por escalas em Cingapura e Vietnã, entre outros. Já a Norwegian tirou portos do Sudeste Asiático dos próximos roteiros do Norwegian Spirit. Em vez de terminar em Cingapura, o cruzeiro de 24 dias saindo da África do Sul agora será concluído em Pireu, na Grécia. Já a Costa suspendeu temporariamente a oferta de excursões em terra às regiões de Piemonte, Lombardia e Vêneto (onde fica Veneza, por exemplo).