CORDEL DA MULHER ATREVIDA
Goretti Albuquerque
Não sou Mulher que se diga
ETA! Que “Dona Patroa!
Também o pior não diga,
Se eu não sou tão a “Boa,”
Chamem-me de Atrevida
Um pouco de Pervertida,
Porém jamais fui atoa.
Nunca fui de ganhar Temas,
Mas me visto de Poema
Sou meu próprio Diadema.
Chamem-me Pedra Noventa
Vou pra casa dos Sessenta
Meio a reverso e Dilema.
Enfim, sou meu próprio lema.
Eu nasci bem desprovida
Dos atributos reais.
Era triste e inibida,
Com silhueta normal.
Ás vezes desengonçada
Em outras, um pouco ousada,
Mas sem trejeitos Fatais.
Aos poucos fui me encarando
Aceitando-me como eu era...
Não era a Bela Encantada
Mas, eu vivia essa espera.
De um dia transformar-me
Na mais formosa Donzela
E ser de fato a Fera.
Abri porteira no “Mundo”
Por onde eu nem caberia,
Pisei abismo profundo
Submergi com “Valia”
Comi poeira da estrada
Atravessei a invernada
Estampei-me com Ousadia.
Só não Roubei nem Matei
Nem em vícios fui parar.
Lombo de Touro eu montei.
Pulei muro a me arrastar
Para poder escapar
Saltei por cima do Mar
Tentando me equilibrar.
Quem conhece a Face Dura
Do chão que pisa a Pobreza,
Colhe a “Provisão Madura
E trás no rosto a Beleza
Planta capim no asfalto
Produz seu grande roçado
Sem cansaço e sem Moleza.
Porém quem não compreender
É que não viveu no Fio,
Da Navalha a entender,
Que na voz de um arredio
Existe um gritar latente
Não se tem vida decente
Com a barriga vazia.
Senti dor e desalento
Sem poder dar nem um pio.
Assemelhei-me ao jumento,
Quando lhe falta alimento
Inclina pra baixo a crina
Faz de seus passos, sua Sina
Relincha buscando alento.
Para encurtar essa história,
Guarde-me em sua memória.
Sou filha da “Persistência”
Tenho irmãos com Sapiência
Doutor em Sabedoria.
Penso com muita Ousadia
Sou a Mãe Da Valentia.