COPA SÃO PAULO JÚNIOR – ADO
Paulo Azevedo
Ado
Este ano de 2018 começou muito bem. Primeiro, que pude rever na TV o espetacular, genial e poético Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, e acompanhar a Taça São Paulo de Juniores. É o único campeonato que acompanho, por alguns motivos, primeiro, porque o disputei duas vezes, pelo Fluminense, em 1990 e 1992. Em 1989, o Flu foi campeão, mas eu não estava na relação da viagem. Segundo, porque gosto de ver novos talentos, e isso, de certa forma, dá um tom nostálgico.
Mas o que me marcou mesmo foi em 1990, em um jogo-treino contra os profissionais do Bangu, lá em Moça Bonita, como preparativo para a Copinha. Logo que entrei, no campo para o aquecimento, um jogador do Bangu me chamou a atenção. Era o Ado, aquele ponta-esquerda do Bangu, vice-campeão brasileiro em 1985.
Fiquei de longe, olhando. Ele, muito magro, tinha um sorriso infantil e discreto. Lembrei-me de que ele perdera o pênalti na final contra o Coritiba, em pleno Maracanã. Fiquei triste e pensativo.
O jogo treino-começou, o Ado foi cruzar uma bola e mandou-a longe. Um senhor gritou da arquibancada: "Oh Ado, vai aprender bater pênalti! “ O Ado olhou, abaixou a cabeça e, minutos depois, saiu do treino.
Aquilo acabou comigo. Pensei como deve ser difícil conviver com isso... Mas Zico e Baggio perderam pênaltis em Copa do Mundo, tudo bem, mas Zico e Baggio foram Zico e Baggio. E o Ado?
Muito tempo depois, o Gomes, que era o capitão e o cobrador do último pênalti que deu o título ao Coritiba, foi meu treinador no Monte Azul Paulista. Simpático, gente fina. Em resenha pós-treino, perguntei sobre essa final, e ele contou que foi o Coritiba contra o Brasil inteiro, afinal de contas o Bangu era o queridinho, com Marinho, Arturzinho, Cláudio Adão e Ado, timaço. Mas o que mais marcou o Gomes foi, ao descer o túnel, ver o Ado de cabeça baixa e chorando muito, compulsivamente, feito criança.
Todo ano, quando começa a Copinha, lembro do Ado e peço que tenha tido uma boa vida e que esse fardo não tenha pesado tanto. Espero que ele não tenha os olhos tristes do Barbosa, desde 1950 até o final da vida.
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Feliz com os juniores do Flamengo dos meus amigos Mauricio Souza e Fabiano Médici, e do grande fisioterapeuta Dudu Calçada. Espero que esses meninos campeões tenham a capacidade de superar os desafios e se tornarem homens.
Parabéns a todos do grupo!
" A vida é travessia", Riobaldo, Lagarta de Fogo, Grande Sertão: Veredas.