Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo sábado, 19 de novembro de 2022

COPA DO MUNDO: A HISTÓRIA DO NAVIO QUE LEVOU O BRASIL AO PRIMEIRO MUNDIAL

 

Por Thales Machado — Rio de Janeiro

 

Navio Conte Verde, que levou o Brasil para a Copa de 1930
Navio Conte Verde, que levou o Brasil para a Copa de 1930 Reprodução
 

Quando a seleção brasileira chegar a Doha hoje, não terá demorado mais do que seis horas de viagem desde Turim, na Itália, onde o time treinou e pega o avião rumo ao país da Copa às 10h30. Tempo bem mais curto do que a primeira viagem de uma seleção do Brasil para a Copa, há 92 anos. Ainda que o primeiro Mundial, em 1930, tenha sido realizado no Uruguai —e que o time brasileiro, sem nenhum jogador que morava na Europa, tenha feito sua preparação no Rio de Janeiro — a viagem também começou na Itália.

Mas não, não havia nenhum atleta brasileiro perdido no porto de Gênova no dia 20 de junho daquele ano, quando o Conte Verde, suntuoso navio que levaria a seleção a Montevidéu partiu rumo à América do Sul. A embarcação saiu de lá carregando apenas a seleção da Romênia, mas com um roteiro essencial para que a competição fosse realizada.

 

Voos transatlânticos, na época, eram, além de caros, raros. Quatro seleções fizeram, então, um “fretadão”: da Itália, a embarcação seguiu para a França, onde subiram a bordo, além da seleção do país, um trio de árbitros, os dirigentes da Fifa, incluindo o presidente Jules Rimet e a taça, que levava o mesmo nome. Em Barcelona, Espanha, quem embarcou foram os belgas. Depois de algumas paradas para descanso em ilhas portuguesas e espanholas, o Conte Verde enfrentou o mar aberto por sete dias até chegar no Rio de Janeiro.

Veja detalhes da embarcação e da viagem que levou o Brasil ao primeiro Mundial — Foto: Editoria de Arte

 

 

 

Treinos improvisados

 

Navegando pela costa brasileira com quatro das 13 seleções da Copa, chegou a Montevidéu no dia 4 de julho, depois de duas semanas de viagem e nove dias antes da abertura do Mundial, quando finalmente os jogadores puderem reencontrar a bola. As seleções improvisaram. Fotos da época mostram treinos físico no convés, usando cadeiras do navio para improvisar obstáculos.

O Conte Verde não deu muita sorte às seleções. Todas, incluindo a brasileira — com uma derrota para a Iugoslávia e uma vitória contra a Bolívia — foram eliminadas na primeira fase. O campeão foi o Uruguai, país-sede, após vencer o país vizinho, a Argentina, por 4 a 2 na final.

Outros dois navios levaram seleções ao Uruguai naquela época, com histórias pitorescas. O SS Florida foi contratado pela Iugoslávia e pelo Egito. A saída era de Marselha, na França, mas outro barco que levava os africanos atrasou e eles acabaram não chegando. Desistiram da Copa. Já o SS Munargo saiu de Veracruz, no México, com a seleção da casa, mas ao invés de rumar ao sul, foi para o norte. Deu a volta para buscar a seleção dos EUA.

No Conte Verde, a volta teve drama após a parada no Rio. Um jogador romeno, Alfred Feraru, foi diagnosticado com pneumonia no meio do Atlântico. Na parada final da embarcação, de novo em Gênova, ele ficou para receber tratamento em um sanatório, e não seguiu de trem até a Romênia, onde seus companheiros chegaram já desesperançosos de suas chances de sobrevivência.

 

Funeral para um vivo

 

O boato de sua morte se espalhou, e a fake news foi tão convincente que sua esposa (há fontes que dizem que foi sua mãe) organizou um velório. Os livros de História — talvez já fantasiados pelo tempo — contam que foi justamente na manhã de seu funeral que ele voltou para a casa, causando desmaios na família. Fato é que ele estava vivinho. Tanto que disputou as Olimpíadas de Inverno de 1936, em Berlim. Ficou em 13º lugar nas duplas na patinação artística.

Atracado em Xangai no dia da rendição da Itália aos Aliados em 1943, recebeu ordens para que fosse afundado para não cair na mão dos japoneses. Submerso em um local que impedia o tráfego no estaleiro, teve que ser levado à superfície novamente, num trabalho que demorou três meses. Dias depois, um bombardeio o afundou novamente, no mesmo local. Mais seis meses de labuta.

A seleção brasileira de 2022 pode fazer mais história no Catar do que a de 1930 fez no Uruguai. O avião fretado que carrega o time de Tite, mais rápido e moderno, dificilmente viverá as desventuras daquele primeiro navio.


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