Cruzar com europeus no mata-mata virou a grande barreira para o Brasil nas últimas Copas. Em 2006, caiu para a França. Quatro anos depois, para a Holanda. Em 2014, o atropelo para a Alemanha. Por fim, em 2018, a queda para a Bélgica. Por isso, são inevitáveis os questionamentos sobre o quanto a seleção está preparada para enfrentá-los. Nos Mundiais anteriores, foi possível chegar com alguma noção. Desta vez, Tite está no escuro. Chega ao Qatar tendo feito só um jogo com rivais do Velho Continente em todo ciclo: contra a Repúblico Tcheca, que completa hoje três anos.
Tite já manifestou sua preocupação com a falta de confrontos com europeus. Em mais de uma vez, suplicou por uma oportunidade de medir forças com adversários do outro lado do Atlântico. Mas ela não deve ser atendida até o Qatar. O calendário de seleções da Uefa praticamente inviabilizou qualquer possibilidade. Os jogos pela Eurocopa (incluindo fase qualificatória) e pela Liga das Nações preencheram as datas Fifa. As poucas que ainda poderiam ser aproveitadas foram perdidas com a prorrogação das Eliminatórias continentais devido à pandemia. Um cenário que deixa a dúvida: o quanto este hiato pesará na preparação?
A maioria dos jogadores da seleção atua na Europa e está acostumada a jogar contra os atletas que enfrentarão no Qatar. A principal perda é coletiva. O time de Tite ataca como os principais rivais europeus: com cinco homens (às vezes, seis), sendo dois alargando o máximo possível os lados do campo. E, justamente por essa mecânica já ser padrão por lá, as defesas também são mais preparadas para neutralizá-la. Um exemplo disso foi dado esta semana pela surpreendente Macedônia do Norte, que resistiu à pressão da Itália e deixou a atual campeã da Eurocopa fora de sua segunda Copa seguida.
— As seleções da Europa são pensadas para neutralizar as amplitudes dos dois pontas. E também o jogo entre linhas, como as tabelas do Neymar e do Paquetá — analisa Leonardo Miranda, responsável pelo blog Painel Tático, do site GE. — São defesas melhor postadas do que as daqui da América. Seria uma chance para o Tite aprimorar seu estilo de jogo com a bola.