*Parceria do GLOBO com o projeto independente que joga luz sobre histórias pouco conhecidas do futebol e da cultura do continente africano
A grande surpresa da Copa do Mundo no Catar é, sem dúvidas, o Marrocos. A seleção africana alcançou as quartas de final pela primeira vez em sua história, sendo apenas a quarta seleção do continente africano a chegar nesta fase do Mundial. Logo depois, a primeira semifinal de um país africano na história das Copas, após derrotar Portugal.
Porém, antes disso, os marroquinos vivenciaram diferentes processos em Copas, entre o protagonismo, por ser a primeira seleção africana a passar de fase ,em 1986, até a campanha sem precedentes deste ano.
Na Copa do Mundo disputada na França, em 1998, os “Leões do Atlas” contavam com uma de suas melhores gerações de atletas da história do país. O elenco era composto por jogadores como Mustapha Hadji e Noureddine Naybet, que se tornaram lendas no futebol do Marrocos.
Desde então, a seleção vivenciou longos 20 anos sem disputar um Mundial. Até que, em 2018, uma nova geração, com Hakim Ziyech e Achraf Hakimi, apareceu no radar. Dois atletas nascidos no exterior, mas com ligações estreitas com o país africano por serem filhos de marroquinos. O primeiro recebeu o convite da Federação Marroquina de Futebol quando estava prestes a ser convocado pela Holanda, seu país de nascimento. Já o segundo, nascido em Madri, na capital espanhola, estava próximo de defender a Fúria.
O desempenho na fase de grupos na Copa da Rússia não foi suficiente para colocar de volta o país nas oitavas de final de um Mundial. Porém, a semente havia sido plantada naquela edição.
Antes da viagem ao Catar, o cenário da equipe sofreu alguns imprevistos. O maior deles foi o efeito da relação desgastada entre o técnico bósnio Vahid Halilhodzic e Ziyech, a principal estrela dessa geração. Após mais de um ano do craque sem atuar na seleção, a Federação Marroquina resolveu demitir o antigo treinador.
Na Copa de 2022, Marrocos é uma das seleções com mais jogadores vindos da diáspora: são 14 atletas. Muitos deles desenvolvendo seu futebol na Espanha, Bélgica e França. Este é mais um recado do processo intensivo de captação de jovens atletas liderado pela Federação Marroquina e que deve aumentar nos próximos anos. Junto a isso, os marroquinos também contam com atletas que saíram do futebol nacional e hoje brilham na seleção, como o zagueiro titular Nayef Aguerd, o substituto do ex-defensor Benatia na seleção.
Igualando o recorde de países africanos classificados para as oitavas (2014), conquistando vitórias marcantes e revelando jogadores, a Copa no Catar é histórica para o continente africano.
Senegal
No Grupo A, Senegal chegou como uma das favoritas à classificação. Mesmo sem Sadio Mané, seu principal craque, o técnico Aliou Cissé construiu um elenco competitivo. Na primeira rodada, a derrota para a Holanda não desanimou, e a primeira vitória veio na segunda partida, contra o Catar.
Nem mesmo a eliminação para a Inglaterra nas oitavas ofuscou a boa campanha senegalesa . O ciclo pós-Copa parece próspero.
Tunísia
A Tunísia surpreendeu com a boa partida contra a badalada Dinamarca. Mesmo na derrota para a Austrália, as “Águias do Cartago” mostraram capacidade de criação e viram o empate, ou até mesmo a virada, escapar nas chances perdidas.
Na terceira rodada, a Tunísia protagonizou o jogo que enlouqueceu muita gente: a vitória histórica e emocionante contra a seleção francesa, em um duelo repleto de simbolismo que não cabe no pequeno mundo que gira dentro das quatro linhas.
Camarões
No Grupo G, Camarões foi de possível saco de pancadas para a seleção que marcou a história do futebol africano. Depois de uma doída derrota para a Suíça e um eletrizante empate contra a Sérvia, os “Leões Indomáveis” chegaram na terceira rodada buscando a classificação contra a seleção pentacampeã do mundo. Nos acréscimos, a bola encontrou a cabeça de Aboubakar, autor do gol que deu a primeira vitória de uma seleção africana sobre Brasil em Copas.
Gana
No Grupo H, Gana sofreu com os efeitos de ser a seleção mais jovem em média de idade (24,7 anos). Capaz de fazer um jogo competitivo contra Portugal, sucumbiu à pressão da vingança contra o Uruguai, restando apenas nos minutos finais abraçar o algoz rumo à desclassificação.
Entre esses jogos, a segunda rodada trouxe a consagração de Kudus. Uma das revelações da Copa, o jogador fez dois gols contra a Coreia do Sul na vitória ganesa por 3 a 2. Além dele, Zigi, que teoricamente era o terceiro goleiro antes do Mundial, se destacou com grandes defesas.