A seleção de 94 brigava. Com vocês da imprensa, que cobravam mudanças na escalação — primeiro foram os jornalistas cariocas, que exigiram a volta de Romário e conseguiram; depois, os paulistas, que queriam Roberto Carlos no lugar de Branco e fracassaram. Com os torcedores, que vaiaram atuações ruins em jogos das Eliminatórias e até em amistosos. E entre si. A entrada em campo de mãos dadas, que começou na goleada sobre a Bolívia em Recife e virou uma marca da conquista do tetra, demonstrava uma união que não era inabalável no vestiário. Havia brigas por um lugar entre os titulares, questionamentos ao sistema tático, ciúmes, desentendimentos. Mas, de alguma forma, todos esses confrontos serviram de motivação para erguer a taça (o que o capitão Dunga fez proferindo palavrões dirigidos a todo mundo que o criticou, enquanto o técnico Parreira a oferecia aos brasileiros dizendo “Pode tocar que é nossa”).
Pode ter sido só um desabafo, mas pode também ser uma continuação da discussão que Danilo teve com um torcedor depois da estreia. “Aqui não tem ninguém de brincadeira, rapaz!”, gritou o capitão, em resposta a uma cobrança. É difícil traçar o perfil de quem está enchendo os estádios da Copa América nos jogos da seleção. São migrantes com saudade do futebol brasileiro, endinheirados que ignoraram a cotação do dólar para comprar passagens e ingressos, estrangeiros de camisa amarela? Provavelmente uma mistura de tudo isso. E certamente uma amostragem que não representa o conjunto da torcida brasileira. Esse raciocínio poderia levar à conclusão de que não vale a pena se indispor com essa galera. Mas, além de jovens, os comandados de Dorival são humanos.
O que aconteceu na noite de sexta-feira, em Las Vegas, foi que o Brasil jogou bem e goleou o Paraguai, com lances fantásticos de Vini e boas atuações de quase todos os titulares. Poderia ser um momento para desfrutar e começar a reconquistar a alegria e a confiança de uma torcida que — não sem razão — anda descrente e distante da seleção. Esse, talvez, seja o maior desafio de Dorival, que não é pessoalmente afeito ao conflito. Unir-se contra tudo e contra todos funcionou em 94 e, de certo modo, na “família Scolari” de 2002. Mas virou tragédia, com Parreira e Felipão juntos, em 2014. Cada treinador e cada jogador escolhe seu caminho. Cada jornalista e cada torcedor tem suas preferências. Na minha, lambretas e canetas combinam mais com sorrisos do que com palavrões.