SÃO PAULO - O que vai ser do Brasil sem seu camisa 10 na Copa América era a pergunta que se fazia depois do corte de Neymar. A seleção se dispôs a olhar para frente e viu diante de si a 11 de Philippe Coutinho.Mais livre do que nunca, mais presente na área do que Tite jamais havia ousado em fazer, ele deu conta do recado. Foi do meia dois gols da vitória sobre a Bolívia por 3 a 0, no Morumbi, numa noite de espasmos de bom futebol e silêncio teatral das arquibancadas.
Foi como uma corrente contagiante. A CBF, estimulada pela celebração dos 100 anos do primeiro título sul-americano do Brasil, colocou a seleção de branco, cor do uniforme na época, e trabalhou sua comunicação de forma retrô, em preto e branco e falso desbotado. O problema é que em campo os pentacampeões seguiram a mesma linha em boa parte da partida, jogaram em câmera lenta, como se estivessem em um filme do antigo e saudoso Canal 100.
A torcida seguiu no embalo e assistiu ao jogo com o silêncio de quem ouve uma ópera ou assiste à troca de bolas numa partida de tênis. Só abriu mesmo a boca no intervalo para vair o desempenho da equipe de Tite, escalada inicialmente com Casemiro e Fernandinho em linha, em um esquema 4-2-3-1 que logo foi abandonado. Ao perceber que a equipe não criava, o treinador soltou o volante do Manchester City e tentou aumentar a criatividade no meio de campo.
Mas em termos de construção ninguém foi mais decisivo do que Roberto Firmino. Solto para se movimentar como faz no Liverpool, abriu espaços para Philippe Coutinho entrar na área. Na volta para o segundo tempo, logo conseguiu ser decisivo. Aos 3 minutos, descolou ótimo passe para Richarlison, que finalizou. A bola bateu na mão do zagueiro boliviano, o que a arbitragem só conseguiu ver depois de recorrer ao VAR. Philippe Coutinho, que herdou de Neymar o posto de cobrador, bateu com frieza para abrir o placar: 1 a 0 Brasil.
O camisa 20 seguia inspirado. Em uma de suas várias quedas para os lados da grande área, recebeu a bola e caprichou no cruzamento. Philippe Coutinho, dentro da pequena área como se fosse um atacante, só precisou escorar para ampliar o placar para a seleção.
Depois disso, Tite mexeu na equipe, o que não teve muito efeito. A Bolívia também seguiu a mesma, incapaz de levar qualquer perigo ao gol de Alisson. O ponto alto da noite, para ele, foram os gritos de lindo que ouvia da arquibancada cada vez que batia o tiro de meta.
Nada mais aconteceria se não fosse o talento individual de Everton, que entrou no lugar de David Neres. Aos 39 minutos, fez bela jogada e marcou um golaço para satisfazer os mais de 47 mil torcedores no Morumbi. Acabou a partida, a torcida aplaudiu e as caixas de som colocaram um jazz para tocar. Uma síntese da noite.