SALVADOR - Há quem fale em “organismos vivos” para definir times de futebol, no sentido de que estes necessitam estar em permanente adaptação. Seja porque adversários o desvendam, seja porque seus jogadores oscilam em forma física ou técnica. Nesta terça-feira, enfrenta a Venezuela, na Fonte Nova, às 21h30m, uma seleção brasileira que vive na Copa América mais uma etapa de uma mudança que, silenciosamente, é mais drástica do que se imagina. Tite não anunciou o time, mas deverá ter de volta um jogador que é chave para entender boa parte das transformações atuais, inclusive de sistema tático: Arthur.
O volante do Barcelona é vital no equilíbrio da seleção: não impede que Daniel Alves tenha certa liberdade para construir jogadas e permite que Philippe Coutinho seja um meia mais avançado.
— Arthur encontra muitas saídas, é o primeiro passe para achar os jogadores de meio-campo e de frente. Ele dá muita muita construção de jogadas — disse Tite.
Tite foi cobrado por não promover uma renovação mais profunda após a derrota na Rússia. Mas, hoje, restam apenas cinco titulares da equipe base das eliminatórias, formada em 2016, quando Tite assumiu: Alisson, Daniel, Marquinhos, Casemiro e Coutinho.
Mudança pós-Copa
Tudo começa no 4-1-4-1, com Paulinho e Renato Augusto como meias centrais e Coutinho partindo da ponta direita, que funcionou de imediato. Mas, perto da Copa da Rússia, lesão e queda de forma de Renato Augusto fizeram Tite ter que se mover. Ele tentou manter o sistema, levando Coutinho para o meio-campo, na vaga de Renato. O hoje jogador do Barcelona não teve o mesmo rendimento e, especialmente pelo lado esquerdo, o time perdeu consistência. A função exigia que Coutinho cobrisse uma porção muito grande de campo.
Reequilibrar o meio foi o dever de casa pós-Copa. E Arthur despontava como o meio-campista raro no Brasil: passe, organização de jogo e certa ajuda defensiva. Mas num amistoso contra o Panamá, percebeu que manter o 4-1-4-1, tendo Arthur como um dos meias centrias, o fazia receber a bola mais avançado,entre as linhas defensivas do adversário. O que não é cômodo para um jogador que prefere iniciar jogadas, ver o jogo de frente. Daí a ideia de fazê-lo retroceder alguns metros. O time se aproximou do 4-2-3-1, esquema pouco habitual na carreira de Tite, com Arthur mais perto de Casemiro.
— Temos meias versáteis, cada um com sua característica. Em todas elas, a ideia é Coutinho ter mais liberdade — emendou Tite.
Fim dos problemas? Nem tanto, porque a lesão de Arthur no amistoso com Honduras limitou os testes. Ver o time funcionar bem nesta terça-feira cedaria a Tite enorme alívio.