Lotes prontos para circular
Por sorte e muito trabalho em outras profissões paralelas, vivi o pedaço de minha vida financeira até agora com certa facilidade. Mas nunca optei por pertencer ao Quadro de Tesouraria.
Aos 14 anos entrei no City Bank e aos 21 passei para o Banco do Brasil onde fiquei até me aposentar.
Nunca me preocupei em concursar-me para categorias mais elevadas porque meu destino mesmo estava ligado ao jornalismo e assim fui tramitando nas duas profissões por mais de 30 anos.
Ainda hoje me dedico às atividades intelectuais, para enfrentar condignamente a fase de aposentado, sem que me classifiquem de um “inútil-social”.
Já vi muito dinheiro no exercício da profissão bancária.
Por ter iniciado como “office-boy” no maior Banco americano, antes do expediente, a grande Caixa Forte era aberta pelos srs. Henrique Ernestino Martins e Afonso Arthur de Souza Leão, cada qual com uma chave e um “segredo”.
Eu entrava levando um carrinho de bagagens, juntamente com Seu Odilon Medeiros de Morais, o chefe-de-caixa, para retirar a dinheirama que deveria ser entregue aos caixas Luiz Martins, Dirceu Valois e Luiz Loureiro, a fim de se iniciarem o expediente.
Eram retiradas várias caixas de aço, contendo cédulas e moedas, que eu carregava sob rodas até os guichês.
Anos depois, no Banco do Brasil, fui responsável por muitas remessas de dinheiro entre agências. Os tempos eram outros! Recebíamos na tarde anterior enormes sacos de juta esborrando de papel-moeda, para conduzi-los de automóvel com destino a Caruaru, João Pessoa, Natal e de avião para Maceió, Fortaleza e Rio de Janeiro.
Numa certa época me foi sugerido optar pela carreira de Tesouraria, porque o ordenado era bem maior, mas do amigo Renato Machado Maia ouvi um questionamento:
– Você está preparado para ficar contando de 1 a 10 até aposentar-se?
Durante vários meses, quando trabalhei no Câmbio, nosso setor era separado da Tesouraria por uma tela e eu via os colegas contando as cédulas de 1 a 10, depois os maços, que também eram contados até 10 e colocava-se a fita indicativa.
Tudo funcionava contando-se de 1 até 10.
Meditei por vários dias, consultei meu velho e não tomei nenhuma iniciativa para trocar de Quadro. Deus me livre passar 30 anos contando dinheiro dos outros!
Há poucos dias conversando com o colega João Pires e Menezes – que hoje sob o peso dos seus 90 anos, ainda se delicia com seu sax – a prosa decorreu ao som de boas recordações.
Ele me disse que fez concurso para o Banco, foi empossado como Escriturário, mas por pouco tempo exerceu as atividades contábeis. Depois se formou em Direito, todavia nunca ativou seu diploma. E concluiu – com larga risada – informando que nunca deixou de trabalhar contando papel-moeda e amarrando os maços, no setor de Tesouraria, onde sempre foi bem remunerado.
Até aposentar-se o trabalho diário era contar de 1 a 10 durante seis horas.
Triste sina, contar tanto dinheiro dos outros, todos os dias!