CONFISSÃO DOS OLHOS
Alberto de Oliveira
Na sala, muita vez, junto aos que estão contigo,
Noto entrando que ao ver-me, entre surpresa e enleio
Ficas, como se acaso um sofrimento antigo
Eu te viesse acordar lá no íntimo do seio.
Por que enleio e surpresa? Olham-te, e empalideces;
Pões a vista no chão, fazes que desconheces
Estar ao pé de ti quem te perturba; acaso
Vais distraída; aqui tocas a flor de um vaso,
Ali de um velho quadro atentas na gravura;
Achegas-te à janela, olhas a tarde pura,
Voltas. De face então vês-me a estremecer. Quase
Disseste o que dizer te anseia há muito; a frase
Íntima, breve e ardente, em teu lábio purpúreo
Aflou num palpitar, fez ouvir um murmúrio,
Mas refluiu... Em torno atentos te encaravam.
Foi quando para mim teus grandes olhos voaram,
Voaram, vieram, assim como do firmamento
Duas estrelas, e a alma unindo a um pensamento
Único, em fluido a escoar dos raios de ouro em molhos,
Somem-se em mudo assombro, abismam-se em meus olhos.
E em minh'alma, lá dentro, eu sinto então, querida,
Que eles deixam cair, no ardor em que me inflamo,
Ah! e com que calor, com que sede de vida!
Letra a letra, a tremer, o teu segredo: Eu te amo!