Antes do advento da televisão e da Internet, era comum , nas cidades do interior nordestino, o preenchimento da noite, até chegar o sono, com conversas nas calçadas ou nas praças.
A vida calma de antigamente proporcionava às pessoas maior calor humano, amizades consistentes e conversas cheias de humor, que amenizavam as tensões do dia. As rodas nas calçadas ou nas praças serviam de palco para se ouvir histórias engraçadas, verdadeiras ou fictícias, piadas e anedotas. Essa relativa tranquilidade durou até o início da década de 60, quando a televisão chegou ao Nordeste do Brasil.
O progresso tecnológico pôs fim a essas reuniões, que todas as noites aconteciam nas calçadas ou nos bancos de praças.
A televisão, desde o início, interferiu nas relações humanas, passando a influenciar as pessoas, que passaram a dar prioridade às novelas e outros programas. As antigas rodas onde as pessoas amigas conversavam todas as noites foram se dispersando e sendo substituídas pelos programas de televisão. Nas casas, as conversas passaram a se limitar aos intervalos desses programas. As relações humanas ficaram em segundo plano.
Para acabar de vez com o tempo dedicado às conversas “olho no olho”, surgiram o telefone celular e depois a Internet, com suas redes sociais, disponibilizando aos usuários amizades virtuais, com imagens fantasiosas, que diferem das amizades verdadeiras, que tem raízes consolidadas.
O relacionamento humano perdeu sua prioridade. Acabaram-se os flertes, a alegria das cartas recebidas pelo correio e as fotografias com oferecimento. Em suma, o romantismo de antigamente foi substituído por relacionamentos, às vezes iniciados através da Internet, que, dificilmente, correspondem à realidade. Os personagens reais do cotidiano tornaram-se virtuais e passageiros.
A televisão e a informática puseram fim às conversas pessoais, “ao vivo e a cores”. A criatividade das pessoas foi mutilada, pois a televisão já entrega o “prato feito”, castrando o raciocínio.
Os costumes mudaram com o progresso tecnológico, o romantismo acabou e o amor tornou-se “genitalizado”.
Até as cartas anônimas, meio de agressão muito usado antigamente, no interior nordestino, desapareceram. Na época em que eram usadas, essas cartas tornavam-se folclóricas e, através delas, muitos “pecados” eram descobertos.
Certa vez, numa cidade do interior, um conhecido cidadão, cuja mulher não era confiável, recebeu uma carta anônima, avisando-lhe que ele estava levando chifres. Isso, a cidade toda sabia. Mas, muito apaixonado, o homem preferiu acreditar que se tratava de uma infâmia. Guardou a carta e fez de conta que não a tinha recebido. Não comentou nada com ninguém, principalmente com a mulher. Dias depois, o autor da carta, que era alcoólatra, encheu a cara de cachaça e, ao se encontrar com o destinatário, não se conteve e perguntou, na frente de várias pessoas da cidade:
-E aí, Seu Jordão! É verdade que o senhor recebeu uma carta anônima, dizendo que o senhor é corno?
Indignado com o atrevimento do conhecido, o homem respondeu:
– Você me respeite, canalha! Não recebi carta anônima nenhuma!!!
Inconformado, o bêbado insistiu:
-Deixe de mentira, homem! Eu sei que o senhor recebeu, mas não quer dizer! Pois, fique sabendo que quem lhe mandou aquela carta fui eu!!!
Com essa confissão, foi inevitável que o corno reagisse, trocando murros com o autor da carta anônima e prestando queixa contra ele à Polícia.