Anúncio de festa dançante na Lapinha
Está definitivamente confirmado que, dançar, nos dias atuais, tem relação muito maior com “malhar” ou “fazer ginástica” que propriamente sentir o prazer da dança ao lado do par.
Nas festas, já são muito poucos os momentos para “dançar a valsa”, seja num aniversário de 15 anos ou num casamento. Poucos sabem dançar.
A moda passou a ser, literalmente, “pular” – que é o que resolveram chamar de “dançar funk”.
Valsas vienenses desapareceram. Samba-canção, bolero, tango, samba, também. Com esses ritmos desapareceram também as famosas danceterias como Elite, onde a gafieira tinha valor inestimável. Acrescentaram à palavra samba, e resolveram chamar de samba-gafieira. Foi o início da caminhada para o desaparecimento.
Agora a moda é “funk”, e já há, também, quem saia de casa não para “dançar funk” – mas para “pular funk”, quase que com a mesma conotação de “pular carnaval.”
Mas, no passado, dançar era outra coisa. Dava prazer e muitos se orgulhavam de saber fazer isso. Eu sempre fui um poste – mas, confesso, na primeira vez que ouvi e vi uma apresentação de bumba-boi, o clima era tão envolvente, que acabei dançando, sem saber.
Participar de uma festa, num clube, onde estivesse tocando uma “Orquestra”, tipo Severino Araújo, Ivanildo, e outras tantas, era uma glória alcançada. Da mesma forma que, sair de casa para ir dançar numa gafieira.
Lembro bem que, naqueles passados anos, esses locais de festas e danças até realizavam concursos para oferecer um troféu e premiação em espécie ao par que melhor dançasse, além de conferir, também, quem dançava melhor de forma individual.
Houve até, na então muito conhecida casa de danças “Lapinha”, na capital paraense, por anos seguidos os concursos de danças. Eram convidados os melhores dançarinos e dançarinas dos estados vizinhos, com todas as despesas de passagens e hospedagens pagas por uma semana. Era importante conhecer a cidade, o clima, ter informações dos concorrentes.
Certa vez, o melhor dançarino de São Luís, Luizinho do Chapéu (apelido fictício) recebeu um convite para participar desse concurso. Não esperou muito para decidir viajar e competir. Após algumas “eliminatórias” chegou o dia da grande final. A final de melhor dançarino, envolvendo um paraense, da tradicional família Malcher e o representante maranhense, de São Luís, Luizinho do Chapéu.
Começada a festa e a disputa, tudo caminhava para uma decisão no cara ou coroa. Mas, o jurado, escolhido a dedo e composto por figuras importantes nas noites paraenses, reparavam em tudo, nos mínimos detalhes. Desde a forma de vestir, de modos de educação, no comportamento pessoal, na forma de beber e até na bebida escolhida durante a competição. Tudo contava ponto.
Sapato “furado” na sola era inaceitável
Como qualquer competição para pessoas, havia também os momentos de descanso e descontração, para garantir o ar de cavalheirismo aos dançarinos.
Eis que, num desses momentos de descontração, Luizinho do Chapéu sentou para ingerir uma bebida e, descontraidamente, cruzou a perna. Ao cruzar a perna, sem se dar conta, Luizinho do Chapéu acabou exibindo o solado do sapato.
E, pasmem, o sapato de Luizinho do Chapéu estava furado. Furado no solado. Foi eliminado na hora e sequer voltou ao salão.
Vitorioso, o representante da família Malcher voltou ao salão apenas para continuar dançando amistosamente, e receber o troféu e a rica premiação.
Como é que alguém que é bom de dança não consegue perceber que o solado do sapato está furado?
No bom maranhensês, “Zulive”!