COMUNHÃO DA SERRA
Quintino Cunha
Ontem, à noite, eu vi a minha Serra,
Como uma virgem, trêmula, contrita,
Recebendo de Deus, daqui da terra,
Uma hóstia do Céu, hóstia bendita.
Como foi, para vê-la assim? De neves
Era o véu transparente, que a cobria,
Vendo-se aqui e ali negros tons leves,
Do negro que do verde aparecia.
Tons negros, talvez restos, que os comparo,
De alguma nuvem torva, esfacelada
Por Deus, que só queria o Céu bem claro,
Porque ia dar a hóstia consagrada!
o cafeeiral, que rebentava em flores,
A grinalda na fronte lhe brotava;
E o frio, rebento dos temores,
No seu intimo, o frio rebentava!
Assim a Natureza era o sacrário,
De onde Deus dava a comunhão radiosa
À Serra! E era o Céu o grande hostiário
E era a lua, a hóstia luminosa.
E digam que eu não vi a minha Serra,
Como uma virgem, de grinalda e véu,
Recebendo de Deus, daqui da terra,
A hóstia luminosa lá do Céu!