COMO NO MENSALÃO, LULA DIZ QUE NÃO SABIA DE NADA SOBRE O TRÍPLEX E PÕE A CULPA NA MULHER, JÁ FALECIDA
Em mais de cinco horas de depoimento, na primeira vez diante do juiz Sérgio Moro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou ser dono do tríplex no Guarujá, apresentou-se como uma vítima de ataques, reclamou que está sendo perseguido, sem provas, pelo que fez durante o governo e, em diversos momentos, transferiu a responsabilidade pelas visitas ao tríplex para a esposa Marisa Letícia, morta em fevereiro deste ano. “A verdade é o seguinte: não solicitei, não recebi, não paguei e não tenho nenhum tríplex”, afirmou Lula.
Moro perguntou se Lula tinha desistido do tríplex depois que ele visitou o imóvel. “O senhor decidiu que não ia ficar com esse primeiro tríplex já na primeira visita que o senhor fez em fevereiro de 2014?”. Lula confirmou. “Foi isso. Nunca solicitei e nunca recebi apartamento. Imagino que o Ministério Público vai, na hora em que for falar, apresentar as provas. Eles devem ter pelo menos algum documento que prove o direito jurídico de propriedade para dizer que é meu o apartamento.”
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva atribuiu a Marisa o interesse inicial pelo tríplex do Edifício Solaris, “certamente para fazer investimento”. O petista admitiu que visitou o imóvel acompanhado da primeira-dama e do empreiteiro Léo Pinheiro, mas negou que tenha solicitado ou recebido o apartamento. Segundo a força-tarefa da Operação Lava-Jato em Curitiba, o imóvel seria propina paga pela construtora OAS.
O depoimento seguiu o script imaginado pela defesa, embora o ex-presidente estivesse visivelmente nervoso e desconfortável. Coçava a barba constantemente, em um cacoete já identificado por petistas próximos como um sinal de impaciência. Tirou e colocou os óculos algumas vezes e folheou um maço de papel levado por ele para o depoimento.
“Estou sendo vítima da maior caçada política que um político brasileiro já teve”, disse o ex-presidente, ao iniciar sua fala. “Sou julgado pela construção de um Power Point mentiroso, aquilo é ilação pura”, completou. O juiz Sérgio Moro reagiu dizendo que o depoimento deveria ter relação com o processo, e não ser um discurso político. “Eu queria deixar claro que, em que pesem alegações nesse sentido, da minha parte, não tenho nenhuma desavença pessoal contra o senhor ex-presidente, certo?” Lula ficou em silêncio.
“O que vai determinar o resultado deste processo, no fim, são as provas que vão ser colecionadas e a lei”, prosseguiu Moro. “Também vamos deixar claro que quem faz a acusação neste processo é o Ministério Público, e não o juiz. Eu estou aqui para ouvi-lo e para proferir um julgamento ao final do processo.” Sutilmente, Lula concordou. Por fim, Moro esclareceu que o boato de que Lula poderia ser preso durante o depoimento era apenas isso, um boato.
O ex-presidente também negou ter qualquer conhecimento sobre o esquema de pagamento de propinas e a prática de ato de corrupção dentro da Petrobras. “Você acha que, se tivesse alguém roubando lá, eles iam me falar? Um pai, muitas vezes, não sabe a nota dos filhos na escola”, comparou o ex-presidente. Lula, no entanto, confirmou, à sua maneira, o depoimento dado na semana passada pelo ex-diretor da Petrobras, Renato Duque.