Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo domingo, 17 de fevereiro de 2019

COMO NASCE UM HIT?

 

Como nasce um hit? Autores das 20 canções mais ouvidas no Brasil hoje explicam

Ostentação e 'guerra à inimiga' ficaram no passado, termos comuns em redes sociais ganharam destaque
 
 
O cantor Gabriel Diniz no clipe de
O cantor Gabriel Diniz no clipe de "Jenifer", um dos grandes hits no Brasil em fevereiro de 2019 Foto: Divulgação
 
 
 

RIO - A namorada que chega “atrasadinha” ao encontro. A mulher que briga ao ver o ex com uma outra, “match” do Tinder. A pessoa que vivia na farra e hoje, na fossa depois de perder o amor, nem se reconhece em seu desejo de não sair de casa. O sujeito que, maltratado pela mulher, diz a ela que agora vai “pegar todo mundo” e que talvez até a beije “numa balada qualquer” sem reconhecê-la. A amante que se culpa pensando na traída. Outra amante, mas esta torturada pelo ciúme. O cara que lamenta a perda da namorada por ter cedido a uma aventura. Outro que debocha de quem ostenta “Chandon” enquanto ele só precisa do “dom” pras suas conquistas. Aquela que quando desce na pista faz tremer o chão. A que bebe, liga, transa e se arrepende. O moleque que anuncia que vai pro Baile da Gaiola “ficar de marola”.

O painel de personagens exposto acima é bem conhecido por milhões de brasileiros. Em sertanejo, funk, pagode e mesmo rap, eles desfilam nas 20 músicas mais ouvidas no Brasil hoje — segundo levantamento referente ao mês de fevereiro solicitado pelo GLOBO a Youtube, Spotify, Deezer e Crowley.

 

Por trás da variedade de tipos encontrados nas canções (e dos cantores famosos que as interpretam), há dezenas de compositores — muitos deles recorrentes nas paradas de sucesso, apesar de anônimos para o grande público. Responsáveis por criar essas figuras e situações, são eles que tentamapontar, nesta reportagem, os caminhos para atingir os ouvidos e corações da massa.

Sem receita, com técnica

O primeiro item da receita, segundo os entrevistados é: não há receita. Mas há técnicas. Algumas bastante prosaicas, como explica Junior Gomes, autor que aparece com duas músicas entre as 20:

— Tento focar em frases que eu vejo as pessoas postando no Instagram, por hashtags. Fico caçando as que chamam a atenção. “Notificação preferida” (gravada por Zé Neto e Cristiano, está na lista de mais tocadas) , por exemplo, eu vi alguém postando e me chamou a atenção. Pensei: “Caraca, isso dá uma música”. Eu me inspiro no que o povo posta, porque são frases que já estão na cabeça das pessoas.

 

Outra da lista, “Quem me dera” (Anderson Valente/ Romim Mata/ Thalison/ Walber Cassio/ Xuxinha) parte do mesmo recurso, ao transformar em verso a frase-meme “Deus me livre, mas quem me dera”. Mas há quem entenda que esse método tem seus contras, como Everton Matos, autor de “Ciumeira” e “Passa mal” (ambas na lista). Ele assina as duas com Paulo Pires, Diego Ferrari, Ray Antônio, Guilherme Ferraz e Léo Sagga (combo de compositores da empresa Single Hits, que se propõe a ser uma fábrica de sucessos).

— Tem muita gente que vê tema na internet — diz Matos. — Mas o problema é que às vezes você chega com algo que todo mundo tá falando, leva pro cantor e descobre que já chegaram três músicas pra ele sobre o mesmo tema. Gosto mais de pegar frases como “a sorte dele é que ele beija bem”, que uma amiga nossa falou e que acabou gerando “Sorte que cê beija bem” (sucesso com Maiara e Maraisa) .

Bruno Caliman — autor de hits como “Camaro amarelo” e de duas canções das 20 mais tocadas hoje, “Cobaia” e “Péssimo negócio” — tem um método mais elaborado.

— Estudei cinema, escrevo roteiro, leio muito, penso muito a construção do texto a partir da ideia de ethos e pathos de Aristóteles — conta Caliman. — Minhas músicas são quase como roteiros. Eu apresento o personagem, situo onde ele está, descrevo a cena, procuro uma perspectiva diferente. “Cobaia”, por exemplo, fala de uma relação amorosa como se fosse alguém pedindo emprego. São características das minhas canções. Mas vejo isso como um traço de um pintor, não como uma fórmula. Até porque se você copiar, não vai ter o mesmo resultado.

Graciliano e Luan Santana?

Caliman começou como compositor de jingles — chegava a cidades do interior da Bahia, compunha para os estabelecimentos locais e depois oferecia a eles suas músicas-propaganda (“Vivi disso por quatro anos”, lembra). Ele explica que a habilidade de fazer canções que “pegam” passa não só pela letra, mas pelos aspectos musicais:

— “Te esperando” (sucesso de Caliman na voz de Luan Santana) tinha um monte de acordes e dissonâncias. Mas lendo “Memórias do cárcere”, de Graciliano Ramos, percebi uma coisa. O livro tem uma parte inicial num ritmo chato, mas que depois você percebe o sentido daquilo. A primeira parte de “Te esperando” fala da vida tediosa da personagem, então refiz, pus uma melodia tediosa, repetitiva, em cima de dois acordes. E só no refrão vem o ponto de virada.

 

Umberto Tavares — parceiro de Jefferson Junior em “Terremoto” (dueto de Anitta e Kevinho que está no topo da lista) — também defende que arranjo e sonoridade podem ser até mais importantes do que a letra:

— O refrão de “Bang”, da Anitta, é um frase de sax. Era algo que eu percebi que estava rolando lá fora e achei que tinha tudo a ver com ela. Além disso, naquele momento o reaggaeton estava ganhando espaço no mundo, e ele fica entre 95 e 100 bpm (batidas por minuto) , bem mais lento que o funk, que é 130 bpm. Seguimos essa tendência e deu certo — lembra Tavares. — Já “Terremoto” foi feita pra Anitta e Kevinho cantarem juntos. Partimos dessa palavra, que tinha a ver com os dois, e fizemos a canção a partir daí.

Sensibilidade para perceber lacunas

A observação do mercado da música — seja as tendências internacionais, seja o comportamento do público do artista para quem se compõe — é comum a muitos dos arquitetos de hits. Autores de um dos maiores sucessos do Brasil hoje, “Jenifer”, o coletivo de compositores Big Jhows (formado por Junior Lobo, Thawan Alves, Thales Gui, Leo Sousa, Allef Rodrigues, João Palá, Fred Wilian e Junior Avellar) recorre até a estatísticas para definir seus temas. “Separada”, por exemplo, sucesso do grupo gravado por Maiara e Maraisa, foi inspirada em uma portagem sobre mulheres que cuidam dos filhos sozinhas.

 

Diego Barão, autor de “Atrasadinha” ao lado de Leo Brandão e Wynnie Nogueira, acredita que muitas vezes é importante identificar as tendências pra poder evitá-las:

— É bom ver onde estão as lacunas, o que não está sendo coberto. O mercado sempre quer algo novo.

Isso inclui a leitura da sociedade brasileira. Aparecem nos 20 hits códigos das redes sociais e suas implicações nas relações (“Notificação preferida”, “Status que eu não queria”), ao mesmo tempo em que o discurso da ostentação e da “inimiga” perde força.

— É fora de contexto hoje uma canção de uma mulher em competição com a outra. A batalha da fiel contra a amante (que fez sucesso no funk) hoje não teria sentido — acredita Umberto Tavares.

A rotina da composição não obedece a caprichos da inspiração. Os Big Jhows, por exemplo, trabalham com a meta de quatro músicas por dia. Vine Show — coautor de “Notificação preferida” (com Junior Gomes Thiago Alves e Samuel Alves) e “Tem o dom” (com Benicio Araujo e Jenner Melo) — resume:

— É uma linha de produção. O índice de acerto aumenta quando você tem mais material. Falam que estamos esquecendo o dom, mas vivo disso. Nos shows, vou para o meio do povo, ouvir a discussão dos namorados, as cantadinhas da balada. Costumam dizer: “você é um poeta”. Mas me considero mesmo um contador de histórias.


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