Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Coluna do DIB quinta, 29 de dezembro de 2016

COMENTÁRIOS SOBRE AS MEDIANAS DÉCADAS DE TITO FLAVIUS

COMENTÁRIOS SOBRE AS MEDIANAS DÉCADAS DE TITO FLAVIUS

A. C. Dib

 

                   Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar. Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar.

                   Fiel e perene era o amor que Tito Flavius cultivava por ela ‒ amor à primeira vista, aliás, nascido no mesmo dia em que a conhecera ‒, mas, naquele dia, não se sabe o porquê, aquele amor se acentuou. Desejava-a com ardor, com sofreguidão. Desejava-a com paixão, com loucura, como nunca a desejara.

                   A frieza e indiferença, características da meia-idade, evadia-se diante dela. O palpitar do coração, aos pulos, tal qual o de um colegial, crescia no velho peito de Tito Flavius, juntamente com incontida excitação.

                   Curioso ‒ pensou ‒ é que os anos não lhe pesam, mas, ao contrário, robustecem sua graça, seu charme, sua incomparável beleza e seu valor.

                   Admirou, à distância, a suavidade de suas curvas. Aproximou-se, lentamente, sem desviar o olhar. Afagou, suavemente, sua pele lisa e reluzente. Deixou correr os dedos pelas curvas sinuosas da amada.

                   Ansiosa e irresistivelmente, montou-a num só pulo, desejoso de sentir seu balanço suave, macio.

                   Aspirou seu refinado aroma, invariável desde o dia em que a conheceu.

                   Relaxou, prazerosamente, ao sentir, abaixo de si, o generoso estofamento de seu couro.

                   Há! Aquela inigualável italiana! Musa inspiradora! Uma verdadeira máquina! Uma potranca! A seu lado, o calejado coração de Tito Flavius se reconfortava. O sangue fluía mais forte. Sentia-se remoçado. Como ela, outra não havia no mundo. Como respondia bem a todas as suas carícias e comandos. Um regalo para os olhos, e um bálsamo para a alma. Linda, maravilhosa e obediente, mas dona de personalidade ímpar.

                   Jubiloso, Tito Flavius entoou alguns versos melodiosos de Zingara, à Peppino di Capri.

                   Não mais se contendo, deixou sair de si, com energia, toda a carga de prazer, há muito represada. Com um grito, lançado do fundo da alma, acionou a chave de sua exuberante máquina.

                   Ouviu, então, em êxtase, o potente ronco do motor de sua amada Ferrari Testarossa conversível, e, num átimo de segundo, arrancou, fazendo cantar os pneus e levantando, da fricção destes com o solo, vistosa nuvem de fumaça e algumas fagulhas.

                   Largou, imprimindo plena velocidade ao automóvel escarlate, sentido, forte, o bater do vento em seu rosto, e o arder do sol a lhe crestar a pele, naquela radiante manhã de inverno.


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