RIO - A crise econômica, que, por um lado, fez com que muitos brasileiros deixassem o país, por outro, abriu espaço para o surgimento de um novo profissional no mercado imobiliário local: o administrador de patrimônio de emigrantes. Os profissionais são um misto de personal organizer e gestor. A ideia é cuidar dos imóveis dos brasileiros que foram morar no exterior, mas vêm ao Brasil passar férias ou visitar familiares, e não querem vender os bens.
De acordo com a Receita Federal, 21.236 pessoas saíram definitivamente do Brasil só em 2017, aumento de 73% na comparação com 2014, quando 12.241 brasileiros deixaram o país. Como nem sempre é possível fazer a administração remotamente, empresas oferecem serviços que incluem desde cuidados com a infraestrutura da casa, como reparos e manutenção e limpeza, até a organização dos cômodos.
Ao observar os conhecidos que deixaram o Brasil e suas dificuldades para administrar os bens estando no exterior, as produtoras de eventos Isabela Haschelevici e Daniela Zabludowski, junto com a arquiteta Caroline Svacina, criaram a 3Concierge em maio deste ano. A empresa cuida tanto da parte estrutural, acompanhando obras e reformas, quanto da parte de decoração.
- Nosso trabalho é focado em promover a manutenção da infraestrutura, identificando a necessidade de obras ou reparos, e treinar os funcionários para que eles conservem o local do jeito que o proprietário deseja. Também cuidamos da decoração, embelezando e renovando os ambientes — explica Isabela.
A maioria dos imóveis atendidos pela 3Concierge fica na Zona Sul do Rio, na Região dos Lagos e na Serra. Cada atendimento é personalizado, mas as preocupações mais comuns dos clientes são a manutenção dos aparelhos de ar-condicionado e o bom fluxo de água quente nos chuveiros. Há também pedidos curiosos.
- Uma de nossas clientes era casada, e o marido detestava objetos de decoração que tivessem frases. Quando eles se separaram, ela nos procurou e pediu que os ambientes fossem reorganizados, colocando quadros e objetos com frases - relembra Isabela.
A produtora de eventos diz que grande parte dos clientes já tentou administrar os bens a partir do local onde foram morar, mas não conseguiam o resultado que queriam.
- Normalmente, a distância e as obrigações no exterior fazem com que os proprietários não consigam gerir o patrimônio da forma que querem. No primeiro contato com o cliente, temos uma conversa bem detalhada para saber seus gostos e preferências, para que a casa seja mantida dentro do seu estilo - explica. - As contas, normalmente, o proprietário paga remotamente. Mas, quando é necessário, também fazemos este serviço.
Alugar o imóvel por pequenas temporadas, para não mantê-lo fechado por muito tempo ou para contar com mais uma renda - que pode ajudar no pagamento de despesas como IPTU e condomínio - também vem sendo incorporado aos serviços oferecidos aos emigrantes.
A Hflex, de São Paulo, por exemplo, além de cuidar da manutenção, se responsabiliza por locações por temporada. Alexandre Dal Maso, diretor comercial da empresa, explica que este tipo de contrato tem muita procura, principalmente próximo ao polos de serviços da capital paulista, onde a empresa tem mais atuação.
- Nossa proposta é ser o olho do dono. Cuidamos do patrimônio do cliente tanto no que diz respeito ao dia a dia do imóvel, como a infraestrutura, até os contratos de locação - explica Dal Maso. - No Centro de São Paulo, a procura por este tipo de contrato de curta duração é maior perto de faculdades e hospitais.
A equipe da Hflex que cuida deste serviço é composta por arquitetos, agentes comerciais e administrativos, e representantes de aliança estratégica.
- Os arquitetos são responsáveis pela questão estrutural, identificando necessidades de reparos e organizando o ambiente. Quando algum problema aparece, entramos em contato com o proprietário, explicamos o que precisa ser feito e, caso seja dado o aval, contatamos os parceiros da nossa equipe de aliança estratégica. Eles fazem a manutenção, como serviço de encanador ou pintura, e fornecem garantias - conta Dal Maso.
A administradora Primar também faz o serviço de conservação de bens de emigrantes. Entretanto, o foco do negócio é alugar o imóvel.
- Quando a pessoa sai do Brasil, cuidamos da manutenção da infraestrutura e fazemos limpezas periódicas no imóvel. Além disso, tratamos do serviço de locação - explica Carlos Samuel de Oliveira Freitas, presidente da Primar. - Além de residências, atendemos imóveis comerciais.