As lideranças indígenas pretendem intensificar as cobranças ao governo federal para a demarcação de terras, conforme prometido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a campanha eleitoral de 2022. Eles consideram não apenas poucas, mas, sobretudo, decepcionante a quantidade de reservas destinadas aos povos originários definidas até agora. Essa é a principal reclamação dos representantes das nações nativas reunidas no 20° Acampamento Terra Livre, que estará montado, em Brasília, até a próxima sexta-feira.
Entre os líderes dos povos nativos, há a impressão generalizada de que as demarcações tornaram-se um assunto periférico para o governo Lula — o que aumenta a insegurança nas comunidades, ao estimular a presença de exploradores ilegais (como garimpeiros, madeireiros e pecuaristas) em território indígena. A prova disso, segundo os representantes das nações originárias, é que, em 18 de abril, o presidente assinou os decretos de homologação de dois territórios — Aldeia Velha, na Bahia, e Cacique Fontoura, em Mato Grosso —, quando a expectativa é de que quatro áreas seriam reconhecidas pelo governo federal.
Mea culpa
O próprio Lula, na cerimônia da semana passada, reconheceu que tem feito menos do que o prometido. "Sei que isso frustrou alguns companheiros e algumas companheiras, mas fiz isso para não mentir para vocês, porque temos um problema, e é melhor a gente tentar resolver o problema antes de assinar", reconheceu o presidente, diante de dezenas de indígenas. Duas das quatro áreas que o governo federal optou por não homologar, apesar do Ministério da Justiça e Segurança Pública ter emitido as portarias declaratórias liberando para o reconhecimento, ficam em Santa Catarina — estado governado pelo bolsonarista Jorginho Mello.
"A morosidade por parte do governo nos deixa nessa situação. Como organização indígena nacional e representativa da região, não podemos ver nossos parentes ser mortos e não darmos uma resposta às nossas bases. Enquanto não conseguirmos arrancar estas duas homologações, não vamos sossegar. Não vamos deixar esse governo dormir", ameaçou Kretã Kaingang, também coordenador-executivo da Apib.