O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) decidiu, por unanimidade, durante a 103ª reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, conceder o registro do choro como Patrimônio Cultural do Brasil. Como parte do cadastro, o gênero musical será inscrito no Livro das Formas de Expressão. A cerimônia ocorreu com a presença do presidente do Iphan, Leandro Grass, que destacou a relevância do reconhecimento do choro como patrimônio.
De acordo com a ministra da Cultura, Margareth Menezes, "esse é um passo muito importante para a música brasileira, que é referência pela sua diversidade de ritmos. O choro é uma construção do povo brasileiro e o Brasil precisa, cada vez mais, se apropriar do chorinho, que é nosso e lindo desde o seu surgimento. Agora, como Patrimônio Cultural do Brasil, será mais um momento muito especial para todos os que gostam e valorizam a nossa cultura".
Após a votação do conselho, a programação seguiu com apresentações culturais no Clube do Choro de Brasília. O fundador da Escola de Choro Raphael Rabello, Reco do Bandolim, esteve à frente de todo o processo de registro e comemora o marco como essencial para a valorização da música brasileira. "Esse reconhecimento significa uma espécie de testemunho da tradição artística histórica. O choro está na base da música brasileira, ele vem antes do samba, é o espelho da nossa alma profunda. Considero uma vitória muito grande, especialmente para o povo brasileiro."
O pedido de registro foi feito pelo Clube do Choro de Brasília em 2011, e entre muitas exigências para o Iphan avaliar a qualificação do choro como patrimônio imaterial, foi necessário coletar cartas de recomendação pelo Brasil inteiro, que reconheciam, inclusive, o trabalho do Clube do Choro como importante defensor da música popular brasileira.
Escola
Em 1998, Reco do Bandolim fundou a Escola de Choro Raphael Rabello, que é referência nacional para o gênero, e desenvolveu a metodologia de ensino do choro, música de tradição oral passada de mestre para discípulo.
Diretor-geral da instituição e violonista, Henrique Neto acredita que a transmissão desse conhecimento é essencial para a cultura brasileira. "O choro é fundamental para a identidade cultural do país. O nosso trabalho, aqui em Brasília, sempre foi defender a manutenção da tradição e renovação desse gênero, que é reflexo do povo brasileiro".
Um clima de festa e muita música tomou o palco do Clube do Choro depois da decisão do Iphan de reconhecer o gênero como expressão brasileiraFotos: Minervino Júnior/CB/D.A Press
Lucila Moraes, 62, é aluna de flauta na Escola Raphael Rabelo desde 2015. "As aulas são muito profissionalizantes. Não é como uma escola tradicional, a gente entra focado para aprender realmente a tocar choro". Lucila acrescenta que "o choro é o Brasil. Tenho orgulho de terem conseguido o registro. É uma música muito difícil de tocar, não é para qualquer um. E merecia, sim, esse destaque."
Clara Aguiar, 30, estuda pandeiro desde o ano passado. A aluna afirma que frequentar o ambiente e testemunhar a celebração cultural do choro são essenciais para ela. "Todo mundo é muito amigo, é uma galera de todas as idades. Ir para a escola é a parte mais feliz do meu dia. O choro é a descoberta de um novo mundo, de uma nova etapa da minha vida".
*Estagiárias sob a supervisão de José Carlos Vieira