Não muito recentemente, uma excelente revista foi lançada no cenário brasileiro: a RAE Executivo, editada pela Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, São Paulo. De conteúdo refletindo a nossa realidade, o seu primeiro número contemplou análise do professor Marcos Fernandes Gonçalves da Silva, sobre tema que bem poderia ser interessante aos que buscam a construção de um país ético, aplaudido nos quatro cantos do planeta: “a liberalização democrática brasileira não coincidiu com a eliminação da corrupção crônica e que a sociedade ainda não se encontra capaz de controlar a bandalheira, apesar da existência de dispendiosa máquina.”
Para que o leitor tenha uma ideia apropriada da dimensão desse sistema, naquela época, que até hoje pouco controla, alguns dados quantitativos do artigo do articulista: a Secretaria Federal de Controle é composta de 23 secretarias internas, empregando 3.000 pessoas, entre técnicos e auditores; o Siafi é online, operado por profissionais bem remunerados; a Advocacia Geral da União emprega cerca de 200 funcionários públicos; o TCU possui um quadro de 2.000 servidores; o Ministério Público congrega 3.000 servidores, incluindo 300 promotores; e a Polícia Federal, representada pela Receita Federal, tem mais de 200 funcionários, inclusive investigadores altamente qualificados. A tal quantitativo devem ser acrescentados os servidores de funções similares nos estados e municípios. Segundo aquele pesquisador, no Orçamento Federal do ano de 1995, a manutenção do aparelho federal de controle custou aos bolsos dos contrbuintes a “módica” quantia de 330 milhões de dólares. Repetindo por extenso: trezentos e trinta milhões de dólares!
A bandidagem praticada é tão extensa que, breve, algum estudioso sobre o assunto, publicará um Dicionário da Trambicagem, com explicações detalhadas sobre anões do orçamento, dólares falsificados, adulterações de moedas nacionais e estrangeiras, funcionários fantasmas vendendo Açaí, pix forjados, recibos frios, superfaturamentos, obras inacabadas, ministros da Educação eticamente ribeirinhos, fakenews eletrônicos, mala preta, vôos-com-papai e mil e tantas outras presepadas, todas subdivididas em ramificações detalhadas, envolvendo conchavos políticos e policiais, partidários e judiciais, em favor do que hoje se denomina cretinamente “pactos pela governabilidade”. Afora algumas patacoadas financeiras praticadas por pastores evangélicos que maculam os ensinamentos do Homão e da Reforma.
Diz o professor Marcos Fernandes Gonçalves que “tornar a corrupção objeto de análise econômica pode contribuir para a compreensão e o combate ao fenômeno”. E disse mais: “Na Inglaterra e na França a corrupção já foi endêmica e crônica, mas a evolução institucional restringiu e controlou os atos de políticos e funcionários públicos” E mais: “Nessas sociedades, passou-se do clientelismo e do patrimonialismo para a obediência por meio da administração da propriedade pública – considerada a existência de um sistema de delito e punição”.
Fico a imaginar se no Brasil existisse aquela punição asiática, a de levar cem chibatadas no rabo em praça pública, por desrespeito ao bolso do consumidor. Seria um espetáculo verdadeiramente inusitado assistir diariamente, em frente da Catedral de Brasília, por exemplo, ministros da Educação, de colarinho branco e ares de pastores cristãos fervorosos, bundas para o alto, calças arriadas, levando chibatadas de musculosos açoitadores profissionais, todos eles devidamente contratados, mediante concurso público, pela Secretaria Nacional da Punição Exemplar, SENAPE, sediada em Brasília e dotada de um diretor-superintendente e vinte e sete adjuntos, toda a estrutura sendo custeada pelo ICADIP – Imposto Contra Abocanhamentos do Dinheiro Público, mais um imposto destinado à fiscalização do erário público, protegendo-o dos sabidórios de sempre.
A esperança é a de nunca testemunhar funcionários do SENAPE, de bundas ao léu, levando chibatadas por novos concursados devidamente portandores de chibatas mais modernas, de efetividade proclamada aos quatro ventos em campanhas eleitorais.
Imaginemos as vergastadas no rabete do ministreco ribeirinho: ele iria perder os fios restantes da careca, embora não fosse eliminado o ridículo bigodinho metido a III Reich.