CIRO MONTEIRO, O MESTRE DO SAMBA
Raimundo Floriano
Seu nome é grafado de duas formas, ora com “Y”, ora com “I”. Prefiro esta última, consagrada na Enciclopédia da Música Brasileira, da Art Editora Ltda., edição coordenada pelo Maestro Régis Duprat.
Ciro Monteiro, cantor e compositor, nasceu no subúrbio do Rocha, Rio de Janeiro, no dia 25.5.1913, cidade onde veio a falecer a 13.7.1973, aos 60 anos de idade. Seu pai, dentista, era Capitão do Exército reformado e funcionário público. Tinha nove irmãos, todos com nomes começados pela letra “C”. Era primo de Cauby, Andyara e Araken Peixoto, e sobrinho do pianista Moacyr Peixoto
Aos dois anos de idade, mudou-se para Niterói, entrando, em 1920, para o Grupo Escolar Alberto Brandão, cursando, a partir de 1925, a Escola Profissional Washington Luís, e, depois, em 1929, o Instituto de Humanidades.
Nessa época, já cantava em festas em dueto com o irmão Careno, quando um tio, chamado Nonô, costumava levar a dupla Sílvio Caldas e Luís Barbosa para ensaiar em sua casa. Daí, surgiu sua primeira oportunidade no rádio: em 1933, Silvio Caldas convidou-o para substituir Luís Barbosa no Programa do Casé, da Rádio Philips. A nova dupla fez sucesso, mas ele, com remorso de ter abandonado o irmão, resolveu não mais cantar.
Em 1934, porém, o produtor Diocleciano Maurício levou-o de volta ao rádio, para trabalhar no Programa das Donas de Casa, idealizado e dirigido por Napoleão Tavares, na Rádio Mayrink Veiga. Foi aí que começou a desenvolver seu próprio estilo, elaborado a partir do gênero de Luís Barbosa, cantando sempre com uma caixa de fósforos na mão, a marcar o ritmo.
Sua primeira gravação aconteceu na Odeon, com o samba Perdoa, de Kid Pepe e Jaime Barcelos, e a marchinha Vê Se Desguia, de Kid Pepe, Germano Augusto e Fadel, em 1935, para o Carnaval de 1936.
Nesse mesmo ano, passou para o horário noturno da Rádio Mayrink Veiga, atuando ao lado de outros cantores de sucesso, como Chico Alves, Carmen Miranda e Mário Reis.
Participando de programas em todas as emissoras cariocas, lançou, em 1937, no Programa Piccolino, de Barbosa Júnior, seu primeiro grande sucesso, Se Acaso Você Chegasse, samba de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins, que gravou pela RCA Victor, em 1938.
A partir de então, Formigão – apelido que ganhou do compositor Frazão – começou também a compor, geralmente em parceria com Dias Cruz. Em 1939, formou com o cantor Dilermando Pinheiro a Dupla Onze, que passou a atuar na Rádio Mayrink Veiga.
Gravou, em 1940, Oh, Seu Oscar, samba de Ataulfo Alves e Wilson Batista, e, até o final da década, destacou-se, a cada ano, com pelo menos um samba de sucesso pela Victor.
Vejamos alguns deles: Beijo na Boca, de Ciro de Souza e Augusto Garcez, e Os Quindins de Iaiá, de Ari Barroso, em 1941; O Bonde São Januário, de Ataulfo Alves e Wilson Batista, vencedor do Carnaval, Você É o Meu Xodó, de Ataulfo Alves Wilson Batista, afirmando-se como grande intérprete, e Botões de Laranjeira, de Pedro Caetano, em 1942; Beija-me, de Roberto Martins e Mário Rossi, em 1943; Falsas Baiana, de Geraldo Pereira, compositor a quem muito ajudou, em 1944. Boogie-woogie na Favela, de Denis Brean, abafando de norte a sul, em 1945; Deus Me Perdoe, de Humberto Teixeira e Lauro Maia, O que se Leva Dessa Vida, de Pedro Caetano, e Santo Antônio Amigo, de Pereira Matos, Neneco e A. Gomes, três registros consagrados pelo povo em 1946. Pisei Num Despacho, de Geraldo Pereira e Elpídio Viana, em 1947; e Sereia de Copacabana, marchinha de A. F. Marques e Antônio Borges, em 1948.
Ciro Monteiro foi casado com a cantora Odete Amaral, outro grande nome da Música Popular Brasileira.
E 1940, começou ele a apresentar sintomas de distúrbios pulmonares, passando, então, a diminuir seus compromissos artísticos.
Em 1954, gravou, pela Todamérica, outro samba de sucesso, Escurinho, de Geraldo Pereira, e, dois anos mais tarde, estreou como ator na peça Orfeu da Conceição, de Vinícius de Moraes, fazendo o papel de Apolo, pai de Orfeu.
A seguir, apresentou-se em boates paulistas, entre as quais a Cave, e, em 1958, fez, com Dias da Cruz, sua música de maior êxito como compositor, Madame Fulano de Tal, grande êxito gravado por Nélson Gonçalves.
Internou-se, em 1959, no Sanatório de Correias, sendo submetido a uma intervenção cirúrgica que o fez pensar em parar de cantar. Mas, ao mostrar uma composição para Paulo Marques, na CBS, dois anos depois, foi convidado por Roberto Corte Real para gravar, surgindo, então, seu LP Sr. Samba, que o relançou.
Nessa mesma época, voltou para a Rádio Mayrink Veiga e começou a participar de shows na televisão.
A seguir, gravou, pela CBS, o LP Sr. Samba, Volume 2, e passou a fazer parte do programa Bossaudade, apresentado, e 1965, na TV Record de São Paulo, por Elizeth Cardoso, do qual sairia um LP gravado ao vivo pela Copacabana, como acompanhamento do Regional de Caçulinha. Ainda em 1965, apresentou-se, em São Paulo, com Dilermando Pinheiro, no show montado por Sérgio Cabral, Telecoteco Opus nº 1, com muito sucesso, gravando um LP, pela Philips, com o mesmo nome – reeditado pela Fontana, nove anos depois –, no qual se destacaram músicas como Alô, João, de Baden Powell, Minha Palhoça, de J. Cascata. Emília, de Wilson Batista e Haroldo Lobo, Florisbela, de Nássara e Frazão, e Formosa, de Baden Powell e Vinicuis de Moraes, que ele havia lançado no programa O Fino da Bossa.
Em 1968, lançou, com Nora Ney e Clementina de Jesus, o LP Mudando de Conversa, pela Odeon, gravação do show do mesmo nome, produzido por Hermínio Belo de Carvalho, realizado no Teatro Santa Rosa, do Rio de Janeiro. Com Jorge Veiga, gravou, em 1971, o LP De Leve, pela RCA Victor, em que cada um repassou o respectivo repertório, cantando em dupla ou sozinho.
A última vez em que registrou sua voz foi cantando com Vinícius de Moraes e Toquinho os sambas Que Martírio!, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, e Você Errou, de sua autoria, gravações lançadas em 1974, depois de sua morte, no LP Toquinho, Vinícius, e Amigos.
Ciro faleceu no Rio de Janeiro, com apenas 60 anos, como já dito. Foi sepultado, com grande acompanhamento, no Cemitério São João Batista, no bairro de Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro, ao som do Hino do Flamengo, do qual era apaixonado torcedor, cantado por integrantes da Torcida Jovem e coberto com as bandeiras rubro-negra, de seu clube, e verde-e-rosa, da Estação Primeira de Mangueira.
O poeta e compositor Vinicius de Moraes o considerava "o maior cantor popular brasileiro de todos os tempos". Em 2009, a sessão Hoje na História, do Jornal do Brasil, publicou reportagem relembrando seu falecimento. Segundo a reportagem ele teria dito as seguintes palavras, em algum momento durante os 10 dias em que ficou internado: "Leve um recado pros meus amigos Vinícius de Moraes, Fernando Lobo e Reinaldo Dias Leme. Diga a eles que é pra não chorar, porque eu tenho um encontro marcado com Pixinguinha, Stanislaw Ponte Preta e Benedito Lacerda. Eu não bebo há dois anos, e agora vou tomar o maior pileque da minha vida".
Ficou conhecido pelos admiradores como "O cantor das mil e umas fãs".
Os discos aqui citados, encontram-se à disposição nos sites de busca, assim como coletâneas contendo remasterizações de sucessos que nos deixou, como esta:
Ciro Monteiro legou-nos um repertório e 212 faixas, a maioria sambas de meio de ano. Para relembrar o trabalho desse inesquecível ícone da MPB, escolhi algumas de suas criações que gosto de cantar:
Se Acaso Você Chegasse, samba de Lupicínio Rodrigues, e Felisberto Martins, seu primeiro sucesso:
Falsa Baiana, samba de Geraldo Pereira, merecedor de regravações por vários intérpretes:
Santo Antônio Amigo, samba de Pereira Matos, Neneco e A. Gomes, que tem muito a ver com Balsas, minha terra Natal, cujo padroeiro é Santo Antônio: e
Deus Me Perdoe, onde os cearenses Humberto Teixeira e Lauro Maia se juntaram para fazer uma obra-prima do samba brasileiro:
Você É o Meu Xodó, samba de Ataulfo Alves e Wilson Batista, onde ele mostra um gingado muito especial:
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