Baratinha Ford mod. 1941, semelhante ao carro de Baby Costa
Há 70 anos, no Recife, eu apreciava com meus amiguinhos, o Circuito Automobilístico de Boa Viagem, que acontecia nas manhãs de domingo e surgiram a partir de 1949. Vibrávamos, gritando e sorrindo face às emoções do estalo dos motores com os escapes abertos.
Em função desses eventos que eram patrocinados pelo Automóvel Clube de Pernambuco, as ruas Barão de Souza Leão e Armindo Moura (atual Porta Larga) foram recapeadas, a fim de formar o quadrilátero da corrida, que se iniciava próximo à esquina da Pracinha, na Av. Boa Viagem.
Dos pilotos pernambucanos, os mais famosos foram Itagibe Chaves, Gegê Bandeira, Baby Costa, além de Chico Landi, que em sua primeira apresentação, veio do Rio de Janeiro, trazendo seu carro-de-corridas num vapor da Cia. de Navegação Costeira.
Muitos anos depois vim a conhecer pessoalmente Itagibe Chaves, o que me causou grande emoção e fiz referências às suas performances.
A Masseratti de Chico Landi
Chico Landi tinha vantagens por concorrer com carro importado da Itália, máquina típica para corridas, que já se sagrara vencedora no Circuito da Gávea, do Rio. Era uma Masseratti muito fogosa, sem capota. Ele já se apresentava com macacão, capacete e óculos especiais.
Sempre era considerado “em vantagem” porque fora participante do famosas corridas até competições fora do Brasil.
Tempo houve em que o Automóvel Clube de Pernambuco excluiu daquelas corridas os “carros especiais”, como aqueles fabricados para competições, permitindo-se os de linha esportiva, como os ingleses mais modernos, como os Subean-Talbot, que fizeram mito sucesso concorrendo sem alterações mecânicas.
Alguns carros de desenhos mais antigos se adaptavam. Competiam sem os para-lamas, tampa da mala, estribos e bancos, permitindo-se alterações nos motores, que poderiam ser “envenenados”.
Os Citroen estavam chegando ao Recife e eram infernais principalmente nas curvas. Quando os pilotos do Rio de Janeiro começaram a se apresentar, as corridas o circuito perdeu parte de sua graça, porque eles participavam com carros fabricados para corridas.
Para ver o espetáculo mamãe permitia que eu fosse com Avanildo Maranhão, Pedro Geraldo, Coaraci Ferrer e outros, da faixa dos 14 anos. Ao chegar, tomávamos posição na esquina da Avenida Boa Viagem com a Rua Barão de Souza leão, bem próximo ao local de partida.
Ficávamos sentados no meio fio, sob um sol de lascar, no verão de dezembro até a corrida se iniciar. Outro local muito apreciado pelos espectadores era a curva do aeroporto, quando os motores já haviam esquentado.
O nosso ponto de observação era estratégico, por ser bem próximo da partida e por ali os carros saiam com toda a força. Faziam curvas espetaculares, salientando-se a explosão dos motores, durante as trocas de marchas, quando os escapes pipocavam, provocando grandes emoções.
Dos concorrentes do Recife um dos que mais me impressionaram foi Baby Costa, com sua “baratinha” Ford, mod. 1941, que surgia sem os para-lamas, tampa do capô, da mala e os estribos.
Numa daquelas competições ficou na tribuna de honra o ex-campeão mundial argentino, Dom Juan Manuel Fângio, uma legenda das pistas internacionais.
O Recife ficou famoso por esse tipo de esporte que se realizava anualmente. Depois, essas corridas foram transferidas para as pistas da Cidade Universitária e perderam muito público, porque, quando em Boa Viagem, as pessoas iam apreciar as corridas e depois aproveitavam para tomar “banhos-salgado”, como se chamava naqueles anos.
Foram as melhores lembranças esportivas de minha mocidade as manhãs do Circuito de Boa Viagem.