Itinerar pela periferia do DF, com o ideal de levar cinema de qualidade e estimular a formação de plateias sempre moveu o idealizador do projeto Cinema Voador, José Damata. "O objetivo é renovar a memória pelos grandes clássicos do cinema. Exibimos sempre filmes nacionais, tipo uns 90% — disso não abro mão", explica o programador, que, há seis anos, não emplacava atividades de projeção. Fora da regularidade habitual, há 20 anos, não havia Cinema Voador. Neste e no próximo fim de semana, tudo muda: de graça, com acesso à comunidade, a Praça da Bíblia (Ceilândia), hoje e amanhã, recebe programação às 18h; na Praça do Berimbau (Taguatinga), às 18h, dos dias 1º e 2 de junho, igualmente.
Para exibir os filmes, Damata conta que tem que realizar "milhões" de telefonemas e enfrentar certa burocracia. "Programo com o material disponível no mercado, acesso colecionadores e, às vezes, temos que buscar autorizações com famílias de realizadores. É uma luta, mas diferente do descaso dos streamings, que trazem programações terríveis", avalia Damata.
Para as "duas boas noites", ele conta ter selecionado: o longa infantil Tainá, em que uma menina indígena enfrenta contrabandistas; o curta local, O último raio de sol, de Bruno Torres, que mostra inconsequentes jovens violentos, e o filme Meus dois amores, de Luiz Henrique Rios, baseado em conto de Guimarães Rosa. "Quando trouxe o Cinema Voador para as ruas, o Brasil tinha 38 mil cinemas, daqueles de rua e de arredores de praças. Busquei a distração para o povão, mesmo. Agora, nem tem mais cinema, já que se desmontaram as distribuidoras nacionais; cinema depende do tripé produção, distribuição e exibição. No projeto do Cinema Voador, que agora não tem regularidade nenhuma garantida, mostramos desenhos para crianças e estimulamos debates, como o de universitários que viam até Cidadão Kane (1941) com a gente!", desabafa.
Com possibilidades de projetar filmes em HD, pen-drive e blu-ray, na tela de 11mx5m, "uma tela bem razoável", ao ar livre, o Cinema Voador traz estrutura para receber 400 pessoas na arquibancada. Mostrar filmes adultos e infantis é meta. Amanhã, dois clássicos serão mostrados: A dança dos bonecos, de Helvecio Ratton e O auto da compadecida, assinado por Guel Arraes.
Enquanto idealiza projetar clássicos de Glauber Rocha em Monte Santo (Bahia) e Milagres (Ceará), José Damata sonha com estrutura de editais para dar continuidade ao Cinema Voador, cujo embrião foi em 1993, no Beirute, com exibição de Morte em Veneza. "Tínhamos, naquela época, secretários e governadores interessados em cultura. Havia patrocínio para a difusão de cultura", lembra Damata, que tem no currículo a programação de salas da extinta Academia de Tênis, da Escola Parque, do Teatro Galpãozinho, do antigo Cine Cultura, do Cine Brasília e das salas da Cultura Inglesa e da Casa Thomas Jefferson.
Cinema Voador
Na Praça da Bíblia (Setor P, QNP 19, Ceilândia), hoje e amanhã, a partir das 18h. Hoje, como os filmes Tainá; o curta O último raio de sol e Meus dois amores. Amanhã, A dança dos bonecos; O balão vermelho e O auto da compadecida.