Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Carlito Lima - Histórias do Velho Capita quinta, 09 de novembro de 2023

CINEMA, A EMOCIONANTE ARTE DE CONTAR HISTÓRIA (CRÔNICA DE CARLITO LIMA, COLUNISTA DESTE ALMANAQUE)

 

 

Quando a televisão apareceu os derrotistas previram o fim do cinema e da rádio, mal sabiam da força de comunicação e de informação que tinham e têm até hoje os filmes e as rádios, claro que mudaram as tecnologias, a poderosa televisão também mudou para sobreviver e continuar com a forte concorrência.

Em Maceió nos anos 50 havia vários cinemas. O mais moderno e movimentado era o Cinearte na Rua do Comércio, centro da cidade. No bairro da Pajuçara o Cine Rex era a distração das adjacências. Perto do Mercado reinava o Cine Ideal. Esses três cinemas pertenciam a um senhor conhecido na cidade, morador da praia de Pajuçara numa casa bem colorida, estilo art nuveau, infelizmente derrubada pela devastação imobiliária. Pressionado pela concorrência esse senhor vendeu-os à maior rede nacional de cinema, Luiz Severiano Ribeiro. No bairro da Ponta Grossa, Moacir Miranda, um amante do cinema, chegou a rodar alguns filmes, presenteou os moradores com o aprazível Cine Lux, o maior cinema da cidade. Como também a família Voss construiu o Cine Plaza no bairro do Poço. Além desses citados havia o Cine Royal por trás do Teatro Deodoro e o Cine Sururu, um “poeira” em Bebedouro, ao ar livre, no quintal da casa do proprietário; o espectador além de comprar ingresso levava sua cadeira. Quando chovia suspendia a seção. Esses eram nossos templos da maravilhosa Sétima Arte, assistíamos ao que havia de melhor em arte cinematográfica depois de um ou dois anos de sua estreia nos cinemas do Sul Maravilha.

O Cinearte, o mais antigo, nas décadas de 20 e 30 teve o primeiro nome, Cine Floriano, mudou para Capitólio e finalmente Cinearte. No final da década de 50 era obrigatório o uso de paletó para assistir às soirées (noite). Filmes em preto e branco, tela quadrada, cadeiras de madeiras, muitos ventiladores; ao escurecer as portas laterais eram abertas para amenizar o calor. Foi a época de grandes filmes: “Rebeca, a Mulher Inesquecível”; o clássico “Casablanca”, e as chanchadas nacionais de Oscarito e Grande Otelo.

Aos domingos pela manhã no Cine Ideal era vez dos filmes de cowboys, Roy Rogers, Zorro, e outros heróis. Imperdíveis eram as séries que terminavam sempre com o mocinho em situação de perigo e o indelével final escrito: “Voltem na próxima semana”.

As sessões da tarde, as matinês, eram geralmente cheias de alunos fugidos das aulas. Nas chiques soirées do Cinearte, o jovem comparecia interessado no filme e nas paqueras, ao encontrar no saguão com alguma paquera cochichava em seu ouvido pedindo para guardar o lugar. Quando o filme começava se a cadeira ao lado estivesse vaga, era o sinal, o rapaz sentava-se, era início de namoro. A moça só deixava segurar a mão. Beijar, depois de dois meses.

Havia um bom programa depois do filme, passear pela Rua do Comércio olhando vitrines das grandes lojas: A Brasileira, A Radiante, Lojas Tupy, Nova Aurora e tomar um sorvete na Gut-Gut, Danúbio ou DK1. Geralmente retornava para casa caminhando de mãos dados recebendo a brisa fresca da Avenida da Paz.

Certa época houve uma modernização nas instalações dos cinemas em todo o Brasil: poltronas acolchoadas e ar condicionado. Como também nova tecnologia nos filmes: tecnicolor e o cinemascope. Foi a época de grandes filmes americanos românticos: “Suplício de Uma Saudade”, “Pic-Nic”, “Vertigo”, “Tarde Demais para Esquecer”, “Candelabro Italiano”. Uma revolução que os cinemas de Severiano Ribeiro ofereceram ao Brasil. Apenas aqui em Maceió, o Cinearte continuava com cadeiras de madeiras, ventiladores, sem o mínimo conforto. Foi quando houve uma atitude de cidadania encabeçada pelos estudantes de Direito, fizeram manifestações, assinaram crônicas, nada abalou à administração do cinema. Até que resolveram partir para ação. Planejaram um movimento pacífico chamado de FILA BOBA. Os estudantes faziam uma enorme fila em todas as sessões, cada estudante ao chegar ao guichê perguntava pelo preço do ingresso, ouvia a resposta, não comprava, imediatamente saía da fila dando lugar ao próximo e entrava novamente no final da fila. Dessa maneira pouca gente conseguiu entrar no cinema.

Os estudantes queriam apenas a melhoria de conforto que a Luiz Severiano Ribeiro proporcionou nos cinemas do Brasil. A notícia chegou aos jornais, rádios e televisão, começou a se espalhar por toda cidade, os estudantes de engenharia, medicina e odontologia aderiram. A FILA BOBA aumentou, dobrava dois quarteirões na Rua do Comércio. Depois de uma semana de boicote, sem baderna, sem vandalismo, sem clientela, o Cinearte fechou para reforma. Reabriu meses depois com o nome de São Luiz, com poltronas estofadas, ar condicionado, cinemascope. Foi uma bela vitória da cidadania e da inteligência. Os Shoppings acabaram com os cinemas de bairros oferecendo salas superconfortáveis. Porém, nesse tempo de pandemia as salas fechadas, estamos nos valendo dos serviços de “streaming” na televisão. Eu assisto pelo menos a um filme por dia. E viva o cinema, a mais linda arte de contar história.


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