Rio — No início do ano passado, os moradores da Cidade do Cabo, na África do Sul, viveram um medo nunca antes experimentado: de ver a metrópole se transformar na primeira do globo a ficar sem água. A cidade sofreu uma grave crise de abastecimento, resultado de três anos de chuvas escassas em uma região com alta densidade populacional. O susto provocou uma grande transformação nos hábitos de moradores e turistas. Além disso, o valor — simbólico e monetário — da água também mudou.
Para Turton, outras experiências no mundo mostram a importância de se pensar na expansão da oferta.
— Uma comparação deve ser feita com Melbourne, na Austrália, que tem um clima idêntico e um problema semelhante. Os governantes de lá aumentaram a oferta através da dessalinização. Hoje, são capazes de expandir a economia porque passaram a usar esta técnica. A Cidade do Cabo recusou-se a considerar a dessalinização e, quando o fez, ela foi fragmentada e mal planejada — critica Turton.
A brasileira Camila Buenting foi fazer mestrado em Filosofia, na Universidade de Stellenbosch, na Cidade do Cabo, e viveu os dias críticos de redução do uso de água.
— Quando me mudei, já havia restrição. Mas eu não tinha noção do tamanho da seca. O racionamento foi gradativo até dar um salto muito grande, quando passaram a limitar o número de litros que cada pessoa poderia usar por dia — lembra.
A ativista teve de restringir o consumo a 50 litros por dia — em média, numa descarga no vaso sanitário, são gastos 12 litros — e teve que mudar seus hábitos.
— Passei a tomar banho com um balde embaixo do chuveiro e reutilizava a água para dar descarga. Molhava as plantas com a água usada para lavar louça. Enchia baldes com a água usada para lavar roupa na máquina e usava para outros fins — conta Buenting.
Aumento de 300%
A pesquisadora garante que essas mudanças não fizeram com que gastasse mais tempo com as atividades cotidianas do que o normal. Ela explica por que aderiu ao racionamento sem pestanejar:
— Além de ser uma questão que me é cara, pelas razões ecológicas, o valor da água chegou a crescer 300%. A gente sentia no bolso. Também ficamos com muito receio da ameaça de ter de ficar um dia sem poder usar uma gota d’água.