14 de maio de 2021 | 05h00
“Parece uma ‘sofrência’?”, pergunta Xororó aos 40 jornalistas que participaram de uma coletiva de imprensa, promovida pelo site Resenha Musical, para o lançamento da canção Pássaros, parceria dele, Tonny e Kleber. A balada, cantada pela primeira vez no programa do Faustão, em abril, chega agora às plataformas digitais. “Não, é uma música de amor”, sentencia Chitãozinho. De fato, a canção fala de amor à moda antiga – pelo menos para o universo sertanejo. Não tem bebedeiras, traições, sarjeta, ligações para o ex na madrugada – temas tão comum à tal ‘sofrência’, nome pelo qual são conhecidas as baladas pop feitas por nomes como Marília Mendonça, Gusttavo Lima, Zé Neto & Cristiano e Naiara Azevedo.
A letra escrita por Xororó surgiu há cerca de 3 anos, quando ele, em sua fazenda, viu um gavião executar um voo “fantástico”. "Pensei: que liberdade tem esse pássaro! Veio a ideia da canção. E os pássaros lembram paixão”, conta. O próximo passo foi mostrar a letra para os parceiros da dupla Tonny e Kleber. O primeiro, segundo Xororó, revelou que tinha uma melodia pronta, inspirada justamente em um vídeo que havia visto com imagens captadas em uma câmera colocada em um pássaro. Tudo se encaixou.
“Caiu no meu colo. Eu ouvi o Xororó cantando sozinho e foi impactante. Resolvemos gravar juntos”, conta Chitãozinho, que colocou a voz com a canção já pronta. A gravação da faixa foi cuidadosamente planejada por Xororó. Seguidor fiel do isolamento social – há mais de um ano ele não vai nem mesmo para sua fazenda –, ele escolheu um estúdio perto de onde mora, na cidade de Campinas, no interior paulista, para realizar a gravação.
O filho Júnior assina com ele os arranjos e a produção, também dividida com o tecladista Cláudio Paladini, que faz direção musical da dupla. O videoclipe de Pássaros, gravado de forma quase caseira, traz imagens da gravação em estúdio e de Chitão fazendo sua parte em separado, em sua casa.
Esse trabalho à distância, já muito comum no meio musical nos últimos anos, se intensificou com a pandemia. Embora façam parte de uma geração que trabalhou muito em estúdio, com músicos, compositores e produtores sempre reunidos, com canções que muitas vezes nasciam até mesmo dessa convivência, a dupla é entusiasta desse trabalho mais remoto.
“É muito mais fácil e rápido. Depois que passar a pandemia, isso vai ser muito mais comum ainda. Veio para ficar. De estúdio não tenho saudade. Sinto falta é da emoção de fazer no palco”, diz Chitãozinho. “Já gravei viola por celular. Com a tecnologia que os estúdios têm atualmente, é possível deixar o som perfeito”, completa Xororó.
Cinco décadas. O primeiro disco de Chitãozinho & Xororó foi lançado em 1970 e abria com a faixa Galopeira, versão de Pedro Bento para a Galopera, composição do paraguaio Mauricio Cardoso Ocampo, na qual Xororó, ainda adolescente, já mostrava que seria uma das vozes de destaque do gênero.
O sucesso de fato só chegaria quase uma década depois, com o álbum 60 Dias Apaixonados, que alcançou à época o cobiçado disco de ouro por 150 mil cópias vendidas. Era um prenúncio do que aconteceria em 1982, quando venderam 1,5 milhão de discos por conta da canção Fio de Cabelo. Com a dupla, de certa forma, a música sertaneja deixou de ser vista com preconceito. Com Evidências, música que virou cult nos últimos anos, eles provaram que poderiam ser também pop.
A comemoração dos 50 anos de carreira estava programada para acontecer em 2020, com álbum e apresentações especiais. Tudo teve que ser adiado pela dupla, que agora programa a festa para 2022. Um dos desejos dos irmãos é trazer para o Brasil o cantor Barry Gibb, o único da banda Bee Gees ainda vivo – em 1993, a dupla fez uma versão da música Words, que contou com a participação do trio.
“Queremos fazer algo tão especial como o Sinfônico (projeto com arranjos e regência de orquestra do maestro João Carlos Martins, gravado ao vivo na Sala São Paulo, com participações de Caetano Veloso, Sandy e Fábio Jr.). Podemos cantar qualquer tipo de música, aproximar as canções do sertanejo como fizemos com as canções de Tom Jobim (Tom do Sertão). É só questão de ouvir o que a música pede e encontrar o equilíbrio”, diz. A dupla, como já de praxe em suas entrevistas, evita entrar em temas polêmicos. Questionados sobre política e o debate que o tema gera nas redes sociais, os irmãos preferiram não tomar partido. “Eu defendo o distanciamento, o álcool em gel e a vacina”, diz Xororó. Chitão diz que acha o momento “triste”. “Artista tem que cantar, falar sobre música. A política virou uma quedas de braço. Não vale a pena se posicionar. Torço para que reformas sejam feitas e que venha um novo horizonte pela frente.”