01 de junho de 2021 | 12h00
Para alguns, eles se parecem com personagens de Peanuts - se Charlie Brown e sua gangue tivessem crescido. Essas raras curiosidades intrigam e confundem até mesmo os especialistas. "Eles são um enigma para mim", diz Jean Schulz, esposa do falecido cartunista Charles M. Schulz, que os desenhou.
São sete obras em quadrinhos que fora desenhadas em preto e branco, em meados dos anos 1950, e que são chamadas coletivamente de tiras "Hagemeyer". Quatro delas apareceram em livros. As outras três tiras "perdidas" foram encontradas e compradas em leilão em maio de 2020 - mas nunca foram amplamente publicadas, de acordo com o Museu e Centro de Pesquisa Charles M. Schulz.
Os sete originais de "Hagemeyer" serão exibidos ao público pela primeira vez em 17 de junho na galeria do museu em Santa Rosa, Califórnia, como a peça central de uma exposição intitulada "Adultos por Schulz". E alguns espectadores inevitavelmente tentarão fazer comparações com "Peanuts".
No entanto, ao contrário da famosa criação de Schulz - que nunca retratou suas figuras adultas - as amostras de "Hagemeyer" exibem apenas personagens adultos, que incluem um pacato trabalhador de escritório chamado Elmer Hagemeyer e uma chefe gritona, chamada Miss Hamhock.
As sete tirinhas foram criadas vários anos depois da estreia de "Peanuts", em 1950; o museu acredita que Schulz apresentou "Hagemeyer" como um produto com potencial para seu distribuidor, a United Feature Syndicate, que aparentemente não se interessou em lançá-lo.
Schulz lançou vários trabalhos em quadrinhos durante aquela década, incluindo um painel de esportes e jogos intitulado "It's Only a Game", além do trabalho religioso "Young Pillars", centrado na adolescência.
Depois que o museu adquiriu os três originais de "Hagemeyer" redescobertos no ano passado - o vendedor permaneceu anônimo -, os funcionários do Museu Schulz puderam entender um pouco mais sobre o conceito da tira, incluindo quem era o personagem-título. (O museu agora possui todas as sete obras de bico de pena, cada uma com cerca de 29 por 7 polegadas, que ainda mostram as linhas de lápis subjacentes do cartunista.)
O criador de "Peanuts", que morreu em 2000, "queria desenhar uma tira de aventura", disse Jean Schulz durante uma recente ligação por Zoom, observando que seu marido sempre desenhava adultos, inclusive em seus cadernos de rascunhos do Exército da Segunda Guerra Mundial - ilustrações que iam do traço realista ao mais bem humorado.
Ela acrescenta: "Schultz acreditava firmemente que você precisa saber como desenhar algo antes de poder fazer um cartoon". Não muito depois do lançamento de "Peanuts", Charles Schulz e um amigo, o artista Jim Sasseville, apresentaram, em colaboração, uma história de aventura intitulada "Joe Cipher".
O trabalho foi rejeitado, mas a arte de "Hagemeyer" sugere que Schulz estava determinado a se lançar em outros recursos. Gênero e políticas de escritório que refletem a época estão entre os temas escolhidos, como quando Hagemeyer diz: "Simplesmente não consigo me acostumar a ter uma mulher como chefe".
"Hagemeyer" também gerou perguntas sobre a inspiração criativa de Schulz - e qualquer conexão com "Peanuts". "Ele está apenas tentando explorar algo que possa funcionar, tentando divulgar o que tem de melhor", disse o curador do Museu Schulz, Benjamin L. Clark. "O artista se revela um conhecedor de histórias em quadrinhos, e não vejo esse personagens como versão adulta dos 'Peanuts'."
Uma conexão evidente está na relação de um amigo de Schulz da vida real chamado Hagemeyer e as aparições com esse nome em seus quadrinhos. Elmer Roy Hagemeyer e Schulz se conheceram enquanto trabalhavam no Kentucky, durante a Segunda Guerra Mundial. Como o jovem Schulz estava visivelmente com saudades de casa, o Coronel Hagemeyer, que era uma década mais velho (meu "irmão mais velho", descreveu Schulz, anos mais tarde) decidiu o colega soldado para sua casa em St. Louis para passar um tempo com ele e sua esposa.
"Ele precisava de alguém para ajudá-lo a se sentir mais seguro", Hagemeyer disse mais tarde sobre o período que passaram em Camp Campbell. Quase uma década após a guerra, Schulz visitaria Hagemeyer em St. Louis. Talvez "ele estivesse procurando por outra ideia" durante a viagem, diz Clark.
Nas aventuras de "Peanuts", "Hagemeyer" seria mais tarde reconhecido como o nome de casado do professor de Linus, bem como o sobrenome do professor de música de Marcie.
Havia também um amigo caloroso de Charlie Brown chamado Roy. A tira de quadrinhos que nunca foi pertence a essa lista de referências da vida real que inspirava a caneta de Charles "Sparky" Schulz. Ainda assim, Jean Schulz comenta, ao olhar para os desenhos de "Hagemeyer": "Não vejo Sparky nela."