Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense quinta, 09 de maio de 2019

CERRADO: FLORES ENCANTADAS

 

Flores encantadas
 
 
Artesãos mantêm viva a tradição de colher e trabalhar arranjos com plantas exclusivas do cerrado

 

» DARCIANNE DIOGO*

Publicação: 09/05/2019 04:00

Francinaldo:  

Francinaldo: "Desde os 10 anos, eu vinha com meus pais. Eles colhiam e eu e meus irmãos desidratávamos as plantas e vendíamos"

 



Elas encantam e alegram a fachada da Catedral Metropolitana. Aglomeradas em barraquinhas de artesãos, as flores secas do cerrado são uma atração a mais para quem passa pelo local. É impossível não se impressionar com tamanha beleza e diversidade. São mais de 50 espécies, com cores que vão do rosa-neon até o vermelho-vibrante. Por trás de cada uma dessas flores, há um segredo especial: a maneira de fazê-la.

Todo o processo de elaboração, como colheita, tingimento e decoração é um trabalho minucioso e demorado. O artesão Francinaldo Fernandes dos Santos, 51 anos, administra uma das barracas das flores secas. A tradição, que veio de família, se resume em amor pelo trabalho. “Desde os 10 anos, eu vinha com meus pais. Eles colhiam e eu e meus irmãos desidratávamos as plantas e vendíamos. Adoro essa profissão e me considero um autodidata no assunto”, brinca.
O artesão explica o passo a passo da produção das flores, para, ao final, compor uma decoração especial ao comprador. Todas as quartas, quintas, sextas-feiras, e sábados, Francinaldo se dedicada apenas à colheita, um trabalho que leva em torno de quatro horas. “A maioria das flores eu pego no cerrado do Entorno. Algumas eu também encontro em Alto Paraíso de Goiás”, diz.

Entretanto, é nessa etapa que ele se depara com uma das maiores dificuldades. “Está difícil encontrar as plantas por causa de três motivos: desmatamento, queimadas e pecuária. O trabalho de colher é artesanal, não usamos maquinários. Então, quando eu puxo a flor, ela não vem com a raiz e não morre. Brota outras vezes. Agora, quando passa um trator ou tem uma queimada, toda a raiz morre”.

Após a coleta, as flores passam pela fase de aperfeiçoamento. No primeiro momento, elas ficam expostas ao sol para secar, e depois são pintadas com anilina, uma tinta específica de couro, palha e flores. O resultado completo só fica pronto depois de seis horas. “É muito difícil encontrar essa beleza para vender em outros lugares, porque é um trabalho árduo e nem todos querem fazer. Mas a maior satisfação é quando está tudo pronto e vemos o quanto as pessoas se encantam”, explica o artesão.

Na barraca em que comanda, a diversidade é grande. São dezenas de espécies à venda: capim-rabo-de-raposa, pingo-de- ouro, papolinha, dentre outras. Os valores variam entre R$ 4 e R$ 30. De todos os tipos de plantações, a flor-porta-guardanapo é uma das mais procuradas pelo público. “O passo a passo dela é mais complexo. Tiramos primeiro a celulose e a clorofila, depois a cozinhamos na soda, pintamos e moldamos em formato de rosa”, destaca Francinaldo.

O comerciante e agricultor Rivelino de Souza, 44, está em Brasília há oito meses. Ele veio do município de Cariré (CE), com o propósito de arrumar um emprego, mas se deparou com portas fechadas. Foi quando decidiu trabalhar de ajudante em uma das barracas de flores secas do cerrado. “Ainda estou aprendendo como funciona o processo das flores. Sei apenas vender, mas vou me aprimorando aos poucos”, conta com diversão. Para ele, a profissão é relaxante e ajuda a distrair. “Antes de chegar aqui, eu não tinha nenhum contato com essa área. Foi uma novidade e me empolguei bastante.”

 (Ed Alves/CB/D.A Press)  

 (Ed Alves/CB/D.A Press)  



Preservação
 
Embora as flores secas sejam uma marca registrada de Brasília, elas se encontram ameaçadas pela ocupação predatória do homem na região do cerrado. O tema preocupa os especialistas e os artesãos que dependem da matéria-prima para garantir a renda salarial. Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, divulgados em junho do ano passado, em dois anos, o cerrado perdeu 14.185 km² por causa do desmatamento. A área corresponde a cerca de 1 milhão de campos de futebol.

Professora de ciências agrárias do Instituto Federal de Brasília (IFB), Edilene Carvalho explica que, cada vez mais, as áreas de preservação natural estão sendo afetadas. “As construções de edifícios, prédios, casas e empresas, queimadas e invasão do cerrado, como o cultivo agrícola, têm sido os principais motivos que degradam as plantações”, argumenta. Segundo ela, a conscientização humana sobre a importância do bioma deve ser feita de maneira específica. “O que tem acontecido é que as pessoas coletam as flores de maneira errada, de modo que não deixam indivíduos que vão gerar novas sementes e se multiplicar.”

A doutora em botânica pela Universidade de Brasília (UnB) e diretora de vegetação e flora do Jardim Botânico (JBB), Priscila Oliveira, ressalta a falta de respeito por parte da população na degradação do cerrado. “A vegetação do bioma é muito arbusto e o conhecimento que as pessoas têm é que aquilo não passa de um simples mato. Mas, é importante entender o quão essas plantas são ricas para a capital e tem característica única”, destaca.

Rivelino de Souza: começando a aprender o negócio das flores%u201D (Ed Alves/CB/D.A Press)  

Rivelino de Souza: começando a aprender o negócio das flores

 



Na visão do turista
 
O servidor público Eude de Amor, 28, veio de Sergipe, na companhia de cinco amigos para realizar um curso de capacitação em Brasília. A oportunidade de conhecer a capital não poderia ter passado em branco. “Já fomos ao memorial JK, à Biblioteca Nacional e queremos ir a todos os principais pontos turísticos daqui. É tudo muito diferente de onde moramos, o clima, a temperatura e a cultura, está  superdivertido”, conta.

No passeio, o que não passou despercebido foram as barracas das flores secas do cerrado, o que encantou o grupo. “Lá em Sergipe não temos isso. É impressionante os detalhes do trabalho, as cores, tamanhos e tipos”, explica Eude.
Após morar 15 anos no DF, a operadora de máquina Silvana Augusta, 43, decidiu se mudar para São Paulo, e desde então já se passaram 27 anos. Mas depois de tanto tempo, a saudade falou mais alto e ela decidiu vir passar alguns dias na capital para matar a saudade. “A sensação que tenho é de estar em casa. Amo esse lugar. É incrível ver como a cidade mudou tanto, está mais moderna”, conta. O passeio na calçada da Catedral Metropolitana logo foi interrompido pela beleza das flores secas. “São muito lindas. Quero comprar uma de cada. O trabalho que os artesãos fazem é perfeito e detalhista.”
 
*Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira
 
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