No ano da graça de 2002, a Associação de Moradores do bairro Benedito Bentes convidou-me para coordenar um trabalho de planejamento do bairro com a participação da comunidade e todos os segmentos de moradores. O resultado foi impressionante, com diagnóstico, levantamento de problemas, soluções sugeridas pelos próprios moradores. Deram um belo e sugestivo título ao trabalho: “O Benedito Bentes que nós Queremos”.
Surpreendeu-me trabalhar com a dedicação da comunidade e perceber que a maioria dos moradores não sabia quem foi Benedito Bentes. Aproveitei e contei um pedaço da história de um dos maiores homens públicos de Alagoas do Século XX.
“-Nos anos 30, vindo do Amazonas, aportou por essas bandas um cidadão de nome Manoel Bentes com sua família. Ficou encantado com as águas verdes da praia da Avenida e disse que aqui ficaria para sempre com sua mulher e seus quatros filhos: José, Benedito, Ana e Terezinha. Criou seus meninos, deu-lhes educação, viveu como alagoano fosse, trabalhou, prosperou e morou para sempre em Alagoas”.
Todos os filhos de Manoel casaram-se com alagoanos, misturando o sangue manauara com os caetés das Alagoas. Dona Ana casou-se com o médico Manoel Menezes; José de Anchieta, oficial do Exército casou-se com Dona Izolina; Dona Terezinha, esportista, mulher de fibra, deu a vida trabalhando dedicando-se à Cruz Vermelha casou-se com Júlio Normande, intelectual e esportista. Finalmente Benedito Geraldo do Vale Bentes casou-se com Vega Lima, filha de Heráclito Lima, grande proprietário de coqueiros de Alagoas. A família Bentes povoou o Estado, tem Bentes por todos os cantos das Alagoas. São cinco os filhos de Benedito Bentes: Luciano, Marden, Humberto, Eduardo e Geraldo.
Formado em Direito, entretanto, Benedito Bentes desenvolveu a atividade do comércio por muitos anos. Em 1961 com a eleição do major Luiz Cavalcante ao governo do estado foi por ele convidado para a presidência da CEAL aonde exerceu o cargo até agosto de 1974 quando faleceu repentinamente. Na presidência da CEAL teve a companhia dos diretores Napoleão Barbosa, Osvaldo Braga, Lenine de Melo Mota. Eletrificou todas as sedes dos municípios alagoanos com energia da CHESF tornando-se, na época, o primeiro Estado da federação a ter todas as suas sedes dos municípios eletrificadas.
Benedito Bentes foi também presidente do SESC/SENAC em Alagoas, Diretor da Confederação Nacional do Comercio e outros cargos de destaque no cenário político e econômico de Alagoas e do Brasil.
Tenho a maior honra em ter sido amigo de Bené, assim era chamado pelos mais íntimos. Éramos vizinhos na Avenida da Paz onde a classe média alta foi morar nos anos 50/60. Trabalhador, Benedito Bentes, tinha uma visão estratégia do futuro de Alagoas como poucos. Em sua época sempre foi homem imprescindível aos governos. A meu ver, devia ter sido governador do Estado.
Seu bom humor, sua alegria e a inteligência, são as melhores lembranças que guardo com carinho daquela extraordinária criatura. Com sorriso e risada inconfundíveis fazia questão de receber os amigos em sua casa, era um festeiro. Ligado ao convívio social da cidade tornou-se presença marcante nas grandes festas do Clube Fênix Alagoana, Iate Pajuçara ou Jaraguá Tênis Clube. Naquela época os grandes cantores do Brasil eram contratados para as festas de clubes. Bené tinha um conhecimento de vida social que extrapolava Alagoas. Muitos desses cantores depois de cantar iam tomar um drink em sua casa, onde tive a alegria de conversar com Jair Rodrigues, Elizeth Cardoso, Wilson Simonal, entre outros.
Há 50 anos quando Benedito Bentes completou 50 anos houve uma festa em sua confortável casa na Avenida Fernandes Lima. Compareceu a elite econômica e intelectual das Alagoas. Em certo momento fui ao quarto dos meninos, um verdadeiro alojamento, enorme quarto com um grande ventilador rodando tentando amenizar o calor das cinco camas. Logo na entrada estava Teotônio Vilela numa banqueta, uma garrafa de bom uísque ao lado, rabiscando algumas anotações. Teotônio alegre me informou, “Capitão prepare o coração para ouvir minhas palavras saudando nosso querido Bené, hoje estou inspirado”.
Mais tarde embaixo das mangueiras frondosas, a eloquência e a inteligência de Teotônio deixaram todos emocionados. Aquele discurso devia estar guardado, uma peça retórica para constar nos anais da História das Alagoas. Foi um dos mais brilhantes discursos que ouvi em minha vida. A festa do Bené prolongou-se até mais tarde com muita alegria, parecida com o dono. Terminou tarde da noite, éramos jovens, ainda tivemos fôlego para outras festas, outros Beneditos.
Nesse ano, Nessa semana, tem festa no céu. Teotônio deve estar preparando-se para celebrar os cem anos de Bené, o centenário de nosso querido e inesquecível Benedito Bentes. Ele representa um tempo, uma bela época de nossa cidade. São lembranças que dão uma pontada de saudade.