03 de maio de 2020 | 08h00
Era uma daquelas típicas produções em que tudo se encaminhava para que desse errado, mas, sabe-se lá por quê, terminou dando tudo certo - e Casablanca não apenas venceu os principais Oscars de 1943, como esculpiu a fama de ser um dos mais adorados filmes de todos os tempos. E pensar que a empresa produtora Warner pensava inicialmente em fazer o filme com Ronald Reagan e Hedy Lamarr. Não teria sido a mesma coisa, e nem o título, porque a história deveria se passar em Lisboa. Casablanca também é grande por seu elenco, que, a par do astro e da estrela – Humphrey Bogart e Ingrid Bergman –, reúne um dos mais perfeitos times de coadjuvantes da história. Sydney Greenstreet, Paul Henreid, Peter Lorre, Conrad Veidt, S.Z. Sakall e Dooley Wilson a postos, no piano, para que Rick, isto é, Bogart, lhe peça 'Play it again, Sam', e ele ataque de As Time Goes by.
Promote health. Save lives. Serve the vulnerable. Visit who.int
Casablanca, durante a 2.ª Grande Guerra, é esse lugar, no norte da África aonde chegam todos os trânsfugas do nazismo, sonhando fugir para os EUA. Seus caminhos passam pelo café de Rick. É lá que o próprio Rick reencontra Ilsa, agora ligada ao líder da resistência, Victor Laszlo. Só lá pelo meio do filme um flash-back informa que foram amantes em Paris. Uma frase tão absurda que seria ridícula, se não ficasse tão sublime na voz da jovem Ilsa/Ingrid. Ouvem-se tiros de canhão, quando o Exército de Adolf Hitler invade a cidade e ela pergunta a Rick/Bogart - “Serão as batidas do meu coração?”
Casablanca é cheio de frases antológicas. Bogart - “De todas as espeluncas do mundo, você tinha de vir aqui.' Bergman - 'Não sei se terei coragem de deixá-lo de novo.' E "Sempre teremos Paris." Além, é claro, de 'Play it again, Sam', mas essa só existe na lenda. Todo o conflito do filme gira em torno da questão – com quem ficará Ilsa? Laszlo tomará aquele avião? Como reagirão os nazistas? A espelunca de Rick pode reunir a escória da Europa, mas é o melhor elenco do mundo e o local vira o centro da resistência a Hitler. Laszlo incita o público a cantar a Marselhesa, e a cena é de arrepiar. No livro O Pacto entre Hollywood e o Nazismo, Ben Urwand conta como a indústria, para não prejudicar interesses na Europa, demorou a tomar partido. Quando se uniu ao esforço de guerra, foi por meio de filmes como Casablanca que o ministro da Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, fazia projetar aos produtores alemães, berrando com eles. Era o tipo de filme que queria que fizessem, mas, claro, invertendo papeis, com judeus, e não nazistas, como vilões.