CARNAVAL EM TIBAU: MATANDO A PAU
(Publicada no dia 01.06.2015)
Raimundo Floriano
Carnaval de rua de Tibau
Tibau - encantado balneário potiguar
Neste ano de 2015, com a ausência das Escolas de Samba brasilienses, vivemos, em compensação, fenômeno inusitado, com o povão acorrendo espontaneamente a todas as armações de folia, sem patrocínio oficial, sem a intromissão do governo, na abolição definitiva – assim espero – do Carnaval plastificado.
Para mim, o Carnaval é festa de rua, com os blocos de sujos e troças gandaieiras surgindo de cada beco, de cada esquina, em cada viela. Foi assim que vi meus irmãos mais velhos e seus amigos saindo pelas ruas balsenses, entrando nas residências levando a alegria e também se reabastecendo de bebida e tira-gosto.
Cresci curtindo essa lembrança e tive a oportunidade, juntamente com Luiz Berto, de carregar o povão pelas superquadras de Brasília, enquanto durou a Banda da Capital Federal, até que autoridades governamentais tolhessem nossa aprontação, sob o pretexto de que, com nossa música, fazíamos barulho, prejudicando o repouso de figurões coroados da República.
Aprendi a tocar trombone visando apenas um objetivo: alegrar os desapercebidos que, sem condições financeiras de frequentarem salões de clubes sociais, fazem da rua seu espaço durante o período momesco. O flagrante abaixo mostra que realizei esse ideal. Numa segunda-feira de Carnaval, em 1979, pela manhã, voltava eu duma armação. Ao passar por Sobradinho, cidade-satélite de Brasília, vi um grupo que desfilava pelas ruas, dançando, cantando e pulando, ao som de reduzidíssimo instrumental: um surdo, um tarol com o couro furado, um reco-reco e latas. Desci de meu fusquinha e incorporei-me àquela moçada, o que ficou para sempre registrado:
Mas voltemos ao Carnaval Brasília/2015.
Este ano, segundo avaliação da imprensa e da Polícia Militar, compareçam à Praça do Cruzeiro, onde se concentraram os blocos vindos de pontos diversos, mas de um milhão e quinhentas mil pessoas. As imagens abaixo dão duma ideia de como isso foi:
Lindo!! Maravilhoso!!! Desbundante!!!
Em todas as imagens pesquisadas, procurei, como quem procura agulha no palheiro, a figura imprescindível, indispensável, característica do Carnaval de minhas quimeras:
Sua Excelência, o Músico de Sopro!
E é agora que passo a me referir do Carnaval de Tibau!
Antonio Gomes e Raimundo Floriano
Há muito tempo, venho falando aqui no Maestro Antonio Gomes Sales, de Caraúbas (RN), que continua realizando, a meu pedido, um trabalho importantíssimo no resgate de partituras de marchinhas, frevos e sambas carnavalescos, em suas horas de folga, sem nada cobrar por isso. Até o próximo Carnaval, estaremos com 500 novas peças que, somadas às já digitalizadas, perfarão a marca de l.720, que serão colocadas à disposição de todos os músicos do Brasil e do Exterior, via Internet, e tudo isso grátis. Será nossa contribuição para o a perenidade da Música Carnavalesca Brasileira. Ei-lo aqui com a Banda de Música de Caraúbas, da qual é o Regente:
Pois bem, este ano, o Maestro Antonio Gomes foi convidado pelo Maestro da Orquestra Enrick Frevo para dar uma canja no Carnaval de rua de Tibau, e ele não se fez de rogado.
Tibau é um pequeno município potiguar à beira-mar, emancipado há 19 anos e com menos de 4 mil habitantes, sabendo estes aproveitar os bons momentos da vida. É o que se deduz vendo a população seguindo a Orquestra no Carnaval, com a participação de Antonio Gomes Sales, o primeiro saxofonista da esquerda para a direita.
Músicos e foliões tibauenses na Segunda-feira Gorda
No vídeo abaixo, gravado com celular na Terça-feira Gorda, a Orquestra interpreta o frevo de rua Cabelo de Fogo, composição de José Nunes, no qual se tem o prazer de apreciar o perfeito diálogo entre as palhetas e os metais:
Vocês notaram os foliões seguindo a orquestra? Verdadeiro bloco de sujos! É por isso que eu não me canso de proclamar:
No Carnaval, Tibau matou a pau!
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