A animação não é só de quem vai se fantasiar e cair na folia. Representantes de hotéis, bares, restaurantes, agências de viagem e lojas de fantasias e adereços estão sorrindo de orelha a orelha, de olho no faturamento que a festa vai trazer. Do dia 21 até a Quarta-Feira de Cinzas, o Estado do Rio terá o melhor carnaval em receitas com atividades formais desde 2017. Estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostra que devem ser injetados na economia fluminense R$ 2,68 bilhões, um terço dos R$ 7,99 bilhões projetados para todo o país. A estimativa é que, em seis dias de Momo, sejam gerados aproximadamente 8.500 empregos temporários no Rio, o maior número desde 2016.
No Rio, o faturamento real em seis dias, segundo o estudo da CNC, deve superar os de São Paulo, Minas Gerais e de todos os estados do Nordeste somados. Descontada a inflação, o crescimento esperado é de 2,3% no Rio contra 1% no país. A alimentação fora do domicílio deve abocanhar a maior fatia (R$ 1,53 bilhão, no Rio).
— A recuperação gradual da economia, a inflação baixa e a desvalorização da taxa de câmbio estão estimulando os gastos com turismo no Brasil e, especialmente, no Estado do Rio — avalia Fabio Bentes, economista da CNC responsável pela pesquisa.
A Riotur chega a alardear R$ 4 bilhões de faturamento só na capital. Porém, os cálculos são de duas semanas e incluem o comércio informal.
Diante do bom momento para engordar o orçamento, a maquiadora Juliana Monteiro não pensou duas vezes. Ela vai deixar os dois filhos, de 3 e 5 anos, com o pai para que possa atender hóspedes no hotel LSH, na Barra. O emprego temporário vai ter até horário camarada: de sábado a terça, das 14h às 18h:
— Vou receber R$ 2 mil pelos quatro dias, quase o que ganho no salão durante um mês. Dá para fazer uma maquiagem a cada 20 minutos — diz.
O diretor-geral do LSH, Aloysio Duarte, não acredita que sejam formadas filas:
— Vamos oferecer shiatsu para quem estiver esperando. O hóspede também poderá ficar no bar enquanto aguarda a vez.
Os mimos têm sido uma estratégia dos hotéis para fidelizar os hóspedes para, quem sabe, ocupar novas datas. Entusiasmada, Laura Castagnini, diretora do Sindicato dos Meios de Hospedagem do município (SindRio), afirma que, este ano, além de Ipanema e Copacabana, os hotéis da Barra também devem se aproximar dos 100% de lotação no carnaval:
— Os números no pré-carnaval já superam os 80%.
Pela primeira vez no Rio, as chilenas Ludmilla Canales e Sandra Burgos já movimentam a economia. As duas não vão ficar na cidade até os desfiles no Sambódromo, mas planejam aproveitar o carnaval de rua.
— A cidade é, mesmo, maravilhosa — elogia Sandra: — Chegamos antes do carnaval, mas não saímos daqui sem ir aos blocos deste fim de semana.
Com as reservas bombando e de olho ainda no público em geral, hotéis estão disputando feijoadas carnavalescas (entre R$ 220 e R$ 480, com direito a apresentação de grupos de escolas de samba e open bar) e festas.
Cem por cento ocupado para o carnaval contra 89% no ano passado, o Copacabana Palace espera receber entre 120 e 130 pessoas no Restaurante Pérgula em cada uma das suas feijoadas, nos dois próximos sábados. As receitas serão preparadas pelo chef João Melo e regadas por rodas de samba de Mangueira e Vila Isabel.
Contratados para baile
Só para atender à altura durante o Baile do Copa, no sábado de carnaval, o hotel precisou contratar uma turma extra de 250 pessoas, que inclui garçons, serventes e seguranças. Com valores a partir de R$ 2.300, pelo menos metade dos dois mil convites para a festa já está vendida. E os seis camarotes da noite black tie, para o mínimo de dez convidados cada (R$ 5.786 por pessoa), não estão mais disponíveis.
— Sempre dá um frio na barriga quando chega o dia do baile — revela o chef executivo do Copa, o italiano Nello Cassese, com quatro anos de hotel e que divide a organização do evento com Luiz Guilherme Cyrino, chef de banquetes: — São três dias de produção e, no sábado, chegamos cinco horas antes.
A cervejaria Tio Ruy, na Barra, e o bar Carioca da Gema, na Lapa, são alguns dos estabelecimentos que também estarão com quadro extra no carnaval. No ramo de lojas, a Caçula começou a contratação temporária ainda em dezembro. Com o mercado aquecido, espera aumentar em 23% este ano as vendas de fantasias e adereços. O resultado positivo levou a Caçula a efetivar este mês alguns de seus extras, como as atendentes Sandra Santos Melo e Jessica Medeiros Portela, da filial de Copacabana, ambas desempregadas há cerca de um ano.
— Que surpresa! Estava vivendo de bico — diz Jessica.
Tão contente quanto ela está o presidente regional da Associação Brasileira de Agentes de Viagem, Luiz Strauss.
— Tivemos um crescimento da venda de pacotes entre 13% e 15%. Será um carnaval diferenciado — celebra ele: — Até turistas europeus e americanos, que cancelaram viagens para a China (por causa do coronavírus), virão para o Rio.
A cobertura do carnaval do jornal O GLOBO tem apoio de Ame Digital.