RIO — A conjugação de paixão e estrutura — nesta ordem — num projeto que sempre se entendeu coletivo explica o título da Viradouro. De volta ao Grupo Especial há apenas dois anos, a escola de Niterói apostou na valorização de seus componentes e da estrutura profissional, para chegar pela segunda vez ao topo do carnaval (a primeira foi em 1997, no entardecer da carreira de Joãosinho Trinta). Os ensaios dominicais na Avenida Amaral Peixoto — endereço do desfile na capital do antigo Estado do Rio — mostravam o empenho dos componentes na busca pela vitória.
(Aqui, uma lição para Liesa e as escolas cariocas, na hora das escolhas eleitorais. Na campanha de 2016, foram todas bater palma para o bispo Marcelo Crivella que, ao se sentar na cadeira de prefeito, virou as costas ao samba.)
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Cada item da bula carnavalesca foi cumprido num desenho lógico pela Viradouro. As escolas têm dois diretores de carnaval - Alex Fab e Dudu Falcão —, um ótimo casal de mestre-sala e porta-bandeira — Julinho e Rute, nota máxima dois anos seguidos —, um dos melhores puxadores da festa — Zé Paulo Sierra — e um consagrado mestre de bateria — Ciça, campeão na Estácio. Talentos experientes que deram o suporte necessário aos carnavalescos Tarcísio Zanon e Marcus Ferreira, estreantes no Grupo Especial.
A dupla, aliás, foi contratada às pressas, para substituir Paulo Barros, que deixou a vermelho e branco intempestivamente, quando os principais profissionais estavam contratados. Os dois chegaram com três propostas de enredo — a que eles achavam menos provável de ser aceita terminou como a escolhida pela direção: a história das ganhadeiras de Itapuã.
Desde o fim do ano, a rádio corredor da folia apontava a Viradouro favorita, com o senão da posição no desfile — segunda de domingo — como obstáculo. Até nisso, a vitória dos bambas niteroienses tem utilidade: derruba o cacoete do júri da Liesa, de considerar dia e hora como critério de avaliação.
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Em outra cidade da Região Metropolitana, a crueldade da derrota no desempate esconde virtudes importantes da Grande Rio. A tricolor de Caxias voltou-se à sua comunidade, diminuiu drasticamente o número de artistas e escolheu num personagem da cidade como enredo. Teve o melhor samba do ano e, não fosse a acidentada entrada do abre-alas, que atrapalhou a evolução, poderia ter finalmente chegado ao título. Bateu — de novo — na trave, mas está no caminho certo. A aposta em talentos de sua comunidade, como a porta-bandeira Taciana Couto (dona de 50 pontos do júri, ao lado do mestre-sala Daniel Werneck) o mestre de bateria Fafá e o puxador Evandro Malandro, pavimentou a recuperação da escola, 10º lugar em 2019. Porque carnaval campeão se faz com quem é apaixonado pelo babado.