RIO — O carnaval se renova, e a criatividade do folião também. Todos os anos, a realidade do carioca vira matéria-prima para a folia. A começar pelos nomes dos blocos. De protestos a homenagens, tudo vira samba. Ou melhor, desfile. A programação completa do carnaval de rua do Rio, São Paulo e Belo Horizonte você encontra no site do jornal O GLOBO.
PROGRAME-SE:Veja as datas e os horários dos blocos e compartilhe com amigos
Este ano sobrou para Marcelo Crivella e as ameaças da prefeitura do Rio de multar organizadores do carnaval não oficial. Para ironizar a decisão (e provocar, é claro), nada melhor do que criar, justamente, um bloco informal. Assim nasceu o CPF do Crivella.
— Ele multou um bloco em que tocamos e ameaçou outros organizadores. Daí surgiu a ideia de um bloco-protesto criticando a atitude do prefeito, que caminha contra um dos maiores ativos culturais e turísticos da cidade — explicou um dos organizadores, que não quis se identificar para não receber multa no próprio CPF.
Os protestos, aliás, sempre deram o tom do carnaval de rua do Rio. Prata Preta, por exemplo, é uma homenagem ao capoeirista Horário José da Silva, herói da Revolta da Vacina. E o Escravos da Mauá foi criado por um grupo de trabalhadores do Instituto Nacional de Tecnologia, nas proximidades da Praça Mauá, que se sentiam explorados.
Órfãos do Brizola e Caetano Virado são outros blocos que seguem a trilha de homenagens. O primeiro ao ex-governador Leonel Brizola, o segundo a Caetano Veloso. Sargento Pimenta também celebra os Beatles e arrasta milhares de fãs. E até movimento artístico ganha espaço na festa popular.
Dalí Sai Mais Cedo é outro grupo que nasceu de forma quase espontânea quando amigos tiveram a ideia de criar um bloco surrealista. Como todos tocavam em diferentes blocos de carnaval, decidiram que sairiam no pré-carnaval. Ou seja, mais cedo...
Salvador Dalí já havia sido escolhido para simbolizar a homenagem ao surrealismo quando os fundadores do bloco perceberam que o artista era uma personalidade tanto controversa. Eles até pensaram em mudar, mas já era tarde, e o trocadilho falou mais alto.
— Não deu para fugir do trocadilho. Dalí pegou e, apesar de não ter sido a melhor pessoa, é uma referência e faz parte da homenagem ao surrealismo — conta Luana, uma das fundadoras do bloco, que estreou em 2018 num desfile com mais de 5 mil foliões.
Humor dá o tom
Por falar em trocadilho, como não se lembrar de pérolas como Só o Cume Interessa, Butano na Bureta, Balança Meu Catete, Chroma Aqui Na Minha Mão e Vai Tomar no Grajaú? Alguns são recentes, outros têm décadas de história, mas sempre se renovando.
Entre os clássicos, o Rola Preguiçosa - Tarda, Mas Não Falha é outro clássico da folia, com 27 anos de desfiles em Ipanema. Nos anos 80, época da fundação, HIV era tabu, e o bloco abordava o tema de forma leve. Com o passar dos anos, outras pautas foram abraçadas. Em 2020, Queiroz e o escândalo das “rachadinhas” vão embalar o desfile.