Depois de dois anos de privação, nos blocos de 2023 só se fala em uma coisa: liberdade. Em meio às fantasias elaboradas , apenas uma hot pant e um tapa-mamilo, que estão em alta entre as mulheres, foram capazes de expressar a alegria desse momento. Não se sabe ao certo quando o adereço tomou conta dos cortejos, mas se tornou uma verdadeira tendência. Os acessórios lembram aqueles usados pelas dançarinas em espetáculos burlescos nos séculos XIX. Se antes remetia a sensualidade feminina, hoje foi ressignificado como um símbolo de autonomia do próprio corpo.
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É a primeira vez que Luciana Abud, 35 anos, de São Paulo, está saindo de casa para pular carnaval usando somente um pequeno pedaço de fita colante nos seios, a hot pant, uma peça que há vários carnavais virou hit. Ela conta que, a princípio, se sentiu insegura, e até levou uma blusa, mas depois o sentimento de liberdade foi tomando conta. O seu maior medo era o assédio, mas Luciana se surpreendeu com o respeito das pessoas nos espaços.
— Está sendo uma experiência muito legal. Todo mundo olha, isso é inevitável, até mesmo mulheres. Mas não me incomoda. Sinto que isso gera uma curiosidade — conta.
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Sua amiga, Lorena Ribeiro, advogada de 28 anos e também de São Paulo, aderiu a um visual parecido, com uma blusa de renda transparente e sem nenhuma outra peça tapando os mamilos.
— É óbvio que os caras olham, mas eu acho que há 10 anos seria muito pior. Eu sinto que a gente venceu, mesmo que um pouquinho, mas só de conseguir andar pela orla sem ser importunado já é uma vitória. Isso para mim também é uma evolução pessoal, tanto mulher quanto como feminista, considero até mesmo uma licença poética — diz Lorena. Elas concordam que o visual é mais confortável, ainda mais em meio ao calor e à multidão dos blocos.
Um ponto que não passou despercebido pelas paulistas, é que o assédio está muito mais presente no dia a dia nas ruas e nos transportes públicos do que no carnaval. Este ano o governo do estado do Rio lançou a campanha ‘Ouviu um não? Respeite a decisão’, contra o assédio sexual em meio aos blocos de carnaval. As amigas parabenizaram a ação e disseram ter visto distribuição de informativos e incentivo às denúncias de violência.
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Mamilos: Jhenifer apostou em um biquíni transparente, hot pants e uma saia de fitas para compor o visual — Foto: Taís Codeco/Agência O Globo
A estudante Jhenifer Gonçalves, de 22 anos, veio de Macaé pular carnaval em terras cariocas. A jovem apostou em um biquíni transparente, com apenas algumas flores tapando os mamilos.
— Carnaval pode tudo! Por enquanto tem sido bem tranquilo, ninguém veio mexer comigo, mas eu também estou em um grupo grande e vim de carro, acho que isso ajuda. Se tivesse que vir de ônibus ou metrô acho que me sentiria mais insegura — conta.
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Mamilos: Mariane Nóbrega e Laís Castro, de Fortaleza, se divertem em bloco no Rio — Foto: Ana Branco/Agência O Globo
Mariane Nóbrega e Laís Castro, de Fortaleza, adoram frequentar os blocos no Rio de Janeiro e, mesmo com os seios à mostra e uma hot pant que mostra parte do bumbum, também não tiveram problemas com assédio e se surpreenderam com a segurança.
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— Sentimos que, depois da pandemia, as pessoas estão mais animadas. A gente adora carnaval e esse é um momento de felicidade. Estamos nos sentindo bem respeitadas, não houve nenhum assédio nem violência por estarmos vestidas assim — conta Laís.
Mamilos: Foliã mostra adesivos de mamilo que comprou para o carnaval — Foto: Giovanna Durães/Agência O Globo
A tendência do adesivo de seios não cativou apenas as cariocas e brasileiras. Após curtir seus primeiros blocos, a norte-americana Melanie Gaunt também aderiu aos adesivos. Visitando o Rio de Janeiro pela primeira vez, ela decidiu se jogar de vez no carnaval, embalada pela sensação única de liberdade, que afirmou nunca ter vivenciado em sua terra natal.
— Assim que vi meninas usando fiquei encantada. Decidi ir ao Saara e comprar um monte desses adesivos para usar ao longo do feriado. A cada dia uso um diferente e ainda deixo dentro da pochete para ter de reserva - conta Melanie.