Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo quinta, 20 de fevereiro de 2020

CARNAVAL 2020: MUSAS DESCOBREM NO SAMBA O ALÍVIO PARA OS PROBLEMAS

 

Musas descobrem no samba o alívio para os problemas

Mulheres contam como transformam a energia da Marquês de Sapucaí em combustível no dia a dia
 
 
Paula, da Vila Isabel, aprendeu a sambar aos 50 Foto: Roberto Moreyra / Agência O Globo
Paula, da Vila Isabel, aprendeu a sambar aos 50 Foto: Roberto Moreyra / Agência O Globo
 
 

Foi aos 50 anos que a paisagista Paula Bergamin aprendeu a sambar. Começou espiando aulas de dança na academia de Ipanema onde treinava. E achava que o primeiro desfile na Sapucaí, em 2014, satisfaria seu sonho de brilhar na Sapucaí. Ledo engano... A energia da Avenida a viciou. E atualmente, aos 58, musa da Unidos de Vila Isabel, fez do requebrado um estilo de vida. Uma superdose de alegria que compartilha com outras mulheres, também musas na Passarela, que descobriram no samba uma força vital.

— Pode parecer piegas, mas é realmente um remédio para a alma. É químico, emocional. Aconselho a todos — diz Paula, que ganhou o apelido Madonna da Vila, pelo vigor e pela aparência física que lembram a diva da música pop: — A primeira vez que pisei na Sapucaí era como se meu corpo estivesse tomado por uma corrente elétrica.

Conhecida por projetar jardins de famosos como o artista plástico Vik Muniz e frequentadora dos bailes da high society, Paula não se contentou em ser uma “visitante” na escola de samba. Ela se integrou à comunidade, não falta a um ensaio de rua e participa de ações sociais da Azul e Branco. Já quando o assunto é a idade, a musa diz que passou a receber, nas redes sociais, dezenas de mensagens de mulheres que a pedem dicas e dizem que ela as incentiva. Mas conta que enfrenta, sim, alguns preconceitos — o que poderia parecer assunto já superado, démodé para os dias de hoje. Com sorriso no rosto e samba no pé, no entanto, ela logo reverte qualquer tipo de prejulgamento.

— No mínimo sou uma surpresa onde chego. Vejo olhares muito céticos quando veem uma mulher madura como musa, como se associassem a idade a não conseguir fazer o que faço. Mas tenho um prazer que você não tem ideia de desarmar essas pessoas quando mostro que minha alegria de desfilar é verdadeira, que eu me dedico ao samba. O meu maior prêmio é mudar esse pensamento preconceituoso — afirma a paisagista, que tem quatro netos.

 
A projetista vive intensamente o dia a dia da escola Foto: Roberto Moreyra / Agência O Globo
A projetista vive intensamente o dia a dia da escola Foto: Roberto Moreyra / Agência O Globo

Para Joany Macias, musa da União da Ilha do Governador, o samba também é um combustível que, além de prazer, é uma terapia de fato. Aos 23 anos, ela começou a tratar Lúpus, doença inflamatória autoimune que, nela, se manifesta com fortes dores pelo corpo e fraqueza. A paixão pelo carnaval, porém, sempre fala mais alto. E, quando pisa no Sambódromo, é como se todas as consequências da doença desaparecessem.

— Mesmo com o fôlego limitado, é o meu lugar. Apesar das dores, eu me recuso profundamente a não poder viver essa paixão por causa da minha condição — afirma.

Panamenha, desde a adolescência ela vive na cidade de Los Angeles, nos Estados Unidos. Contudo, há mais de duas décadas vem ao Brasil religiosamente durante o Reinado de Momo. E, há quatro anos, exibe puro gingado enquanto atravessa a Passarela do Samba.

Pé quente colocado à prova

Neide Rocha, de 58 anos, musa da Beija-Flor de Nilópolis, tampouco consegue se enxergar longe da Sapucaí. Desde o fim da década de 1970, ela desfila na escola. Por muito tempo, foi ritmista, numa época em que se contavam nos dedos as integrantes femininas nas baterias das agremiações. Muito popular entre os componentes e dedicada aos compromissos da Azul e Branco, Neide Tamborim, como é carinhosamente conhecida, diz ter se surpreendido quando recebeu o título de musa, há dois anos.

 
Neide desfila na Beija-Flor desde o fim da década de 1970 Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo
Neide desfila na Beija-Flor desde o fim da década de 1970 Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo

— Levei um susto. Achava que musas eram aquelas mulheres altas, famosas... Eu, uma simples ritmista, com 56 anos na época, achei que foi uma consideração incrível da minha escola — ressalta Neide, que não abriu mão de desfilar com seu tamborim: — Foi um passo incrível que abriu caminho para outras mulheres que chegam a certa idade e acreditam que não têm mais condições.

Já são 43 carnavais de Beija-Flor. Pé quente, ela emprestou seu talento a uma outra escola apenas em 1992, quando a Grande Rio foi campeã do Grupo de Acesso e subiu para o Especial. Numa trajetória de tantas folias, Neide lembra de dois momentos de cuidado redobrado na pista, porém, inesquecíveis: em 1986 e em 2002, desfilou grávida de nove meses. Em todo esse tempo, afirma a musa, só agora ela busca uma preparação mais específica para os desfiles:

— É um trabalho muito desgastante, tanto na parte física quanto mental. Eu toco e sambo sem perder o ritmo. Não posso atrapalhar a bateria. Agora, com quase 60 anos, faço pilates para fortalecer os músculos, principalmente os braços. No dia do desfile, me mantenho concentrada. Não bebo, não fumo e opto por comidas mais leves.

 

Paixão sem fronteiras

Embora não ostente o mesmo currículo de Neide, a promotora de Justiça americana Simone Michele, de 41 anos, foi nomeada musa da Acadêmicos de Vigário Geral. Ela fará sua estreia amanhã, na Série A, e voltará à Sapucaí no domingo, pela Unidos do Viradouro. O samba, conta ela, tem servido “para ver a vida por outros ângulos”. Acostumada a lidar com histórias de violência por causa da profissão, Simone encontrou no carnaval uma válvula de escape.

— Trabalho em um tribunal e meu dia a dia é pesado demais. Pelo segundo ano, venho para compartilhar da alegria dessa festa extremamente democrática, onde não há ricos ou pobres, pretos ou brancos, brasileiros ou estrangeiros. Há gente feliz — diz Simone, que faz aulas de samba há um ano e leva um pouco da cultura brasileira a regiões pobres de Nova York.

A cobertura do carnaval de rua no jornal O Globo tem apoio de Ame Digital.


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