Ô abre-alas que ela vai passar... no metrô. Alessandra Negrini apareceu pulando carnaval no coletivo paulista num vídeo que viralizou, na semana passada. Há oito anos, ela é rainha do Acadêmicos do Baixo Augusta e voltava do ensaio do bloco, que, este ano, tem a frase “Viva a resistência” como tema.
— Carnaval é a grande resistência, festa pagã da alegria. As pessoas estão precisando desse transbordamento, uma espécie de saudades do Brasil — diz a atriz, que começou a gravar a série “Fim”, da Globo, baseada na obra de Fernanda Torres. No final de 2019, ela rodou “Cidade invisível”, dirigida por Carlos Saldanha para a Netflix e com previsão de estreia para este ano.
Nesta entrevista, feita por WhatsApp, Alessandra diz que tem sensação de um “rock star” ao subir no trio. Prestes a completar inacreditáveis 50 anos (em agosto), ela fala ainda da imagem de sexy e da paixão pelo Corinthians.
Quem é rainha não perde a majestade nem no metrô?
Foi espontâneo. Ainda estava brincando de rainha, mas na vida civil (risos). Adoro andar de metrô, é o rolê mais chique e civilizado que tem. Fora, é claro, quando dá pra ir a pé. Aí, a cabeça esfria, a ansiedade baixa. Mesmo sem ter a praia , a gente sente uma brisa. Cada vez mais procuro aproveitar a cidade assim, usando minha coroa de cidadã.
Quais as novidades do Baixo Augusta prepara este carnaval?
Além da nossa banda, comandada pelo Simoninha, e da nossa madrinha, Tulipa Ruiz, teremos Fafá de Belém, Elza Soares e Nação Zumbi.
RAINHA DE BLOCO:Alessandra Negrino fala de boa forma e energia
Como é a sensação de subir no trio do bloco?
Uma experiência particular. Às vezes dá preguiça, né? Fantasia, exposição, foto, é trabalhoso. Mas quando vai chegando perto, lembro daquela sensação de rock star, o coração começa a bater mais forte e, daqui a pouco, tô em cima do trio de novo, e mais um ano, dançando como se não houvesse amanhã.
O que diria para quem fala que o carnaval de SP é frio ou “mauricinho”?
Isso é intriga da oposição. Carnaval de São Paulo é rolê dos “Maurício”, dos mano, das mina, das trava, dos gay e de quem mais chegar.
Curte amor de carnaval?
Já vivi umas poucas experiências bem marcantes e diria que incríveis. No carnaval, lembramos que não estamos no controle da vida, que somos parte do bloquinho que baila e vai passando.
Que costume machista mais te irrita no carnaval?
Tenho a sensação de que, finalmente, os homens estão começando a aprender a se comportar com respeito. As mulheres estão mais assertivas, o rolê tá ficando mais civilizado, mais moderno.
Você faz projetos alternativos de teatro com a galera da Praça Roosevelt, textos de jovens autores. Por que é importante contar essas histórias?
Não faço distinção de alternativo ou oficial, faço o que acredito que tenha valor.
Como avalia o tratamento dado à Cultura pelo atual governo e o que deseja a Regina Duarte?
Sorte. Espero que possa realizar algo e, sendo a atriz gabaritada que é, devolva à Cultura o tratamento digno que ela merece. Que possa mostrar a esse governo e aos que o apoiam que a Cultura não é um inimigo a ser combatido. É uma potência a ser explorada, expandida, incentivada, e que é através da nossa cultura e só dela, que podemos ser fortes.
Você é super corinthiana. Tem inveja do Flamengo como todo não-flamenguista?
Nunca! Aqui é Corinthians, na saúde ou na doença, na alegria ou na tristeza, sempre serei apaixonada pelo meu time.
PAPEL MARCANTE:Alessandra viveu "Engraçadinha, seus amores e seus pecados"
Você explodiu com “Engraçadinha” e fez muitos papéis sexys. Já confundiram personagem e atriz? Enfrentou assédio?
Nunca enfrentei assédio, sempre fui respeitada como atriz antes de qualquer coisa. O que me interessa é chegar ao coração das pessoas. O resto é fantasia que a gente põe e tira, brinca de ser sexy, engraçada, má, boa. O que me interessa é trabalhar com a verdade humana. Falar do quanto é difícil e lindo ser gente. Da luta, da saga heroica que é a vida de qualquer um de nós.
Ficou quatro anos afastada das novela até “Orgulho e Paixão” (2018). O personagem te interessou?
Eu queria fazer um personagem cômico. Normalmente, chamam você sempre para a mesma coisa.
Seu filho está estreando como ator em "Amor de mãe". Acha que ele leva jeito?
Ele é profundo e verdadeiro, além de lindo, é claro, (risos). O resto é experiência e treino. No mais, desejo que saiba ser feliz e que seja forte para aguentar o tranco. Ele é.
VILÃ DE JANE AUSTEN:Alessandra Negrini na novela "Orgulho e paixão"
Antes do empoderamento estar no centro do debate contemporâneo, você se comportava de maneira livre. Teve educação sem moralismo?
Ninguém é livre de moralismos, temos que equilibrar as pressões. Liberdade, pra mim, é um valor, assim como o amor. Nunca soube ser diferente de mim mesma, até quando tentei. A gente vai aprendendo a conviver com os outros, amar e, ainda assim, ser fiel a si próprio.
Na sua opinião, qual é a questão mais difícil para o feminismo hoje?
Ser livre versos se deixar amar; ser forte e saber se entregar; ser independente e poder ser acolhida. Enfim, contradições que podem nos atordoar. O desfio é pacificarmo-nos internamente, na nossa condição feminina, mas antes de tudo humana. Ser mulher pode ser rótulo, somos gente. Às vezes, eu só quero ser. Nem mulher, nem bonita, nem feia, nem ter tantos anos, nem nada, só ser eu, Alessandra.
Por que acha que te consideram sexy e veem tanto borogodó em você?
Sei lá, deixa eles verem. Ruim não é.
Em tempos de fluidez na sexualidade, você se permite transitar entre os gêneros?
Nunca tive vontade.
Você tem fama de temperamental. Melhorou com a idade ou, quando precisa, a “Engraçadinha” volta?
Não sei que fama é essa (risos)... Me acho mó fofa.