Nos paralelepípedos respingados de chuva e suor, uma sandália ainda ensaia um passo em plena quarta-feira de cinzas, embora cinza nenhuma haja. Pula e dança na luxúria de um frevo, sozinha, sem par. Uma cantiga alegre entoada por marinheiros de Olinda não deixa que a festa acabe tão cedo. Confetes e serpentinas se misturam aos cheiros de cerveja e de mijo. E de um trombone distante e invisível ouve-se Capiba. Escuto murmúrios, sussurros e suspiros vindos de dentro daquelas casas que hospedaram alegria e receberam festa, numa folia única e quase solitária, feita de lembranças boas. No intervalo de cada nota e acima dos compassos ritmados da música dormem passos dançantes sonhando desejos e vontades, alegrias e saudades, gozos e risos do carnaval que se foi. Um ano depois, tudo de novo. É Carnaval.