Raimundo Floriano
Castello Carlos Guagliardi, o Carlos Galhardo, filho dos italianos Pietro Guagliardi e Saveria Noveli, nasceu em São Paulo (SP), a 24.04.1913, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), a 25.07.1985, aos 72 anos de idade.
Com um ano de nascido, sua família mudou-se para o Rio. Aos oito anos de idade, com o falecimento de Saveria, o pai deixou-o com um parente, no bairro do Estácio, para aprender o ofício de alfaiate.
Apesar de não gostar desse trabalho, aos 15 anos já era alfaiate, abandonando os estudos, apenas com o Primário completo, para dedicar-se à profissão. Passou por várias alfaiatarias cariocas e, numa delas, trabalhou com Salvador Grimaldi, alfaiate e barítono, com quem costumava ensaiar duetos de opera. Em casa, gostava de entoar sozinho canções italianas e árias.
O início de sua carreira como cantor profissional aconteceu em 1933, ano em que, numa reunião em casa de um irmão, onde estavam presentes Mário Reis, Lamartine Babo, Jonjoca e Francisco Alves, cantou a modinha Deusa, de Freire Júnior. Gostando muito de sua voz, Francisco Alves aconselhou-o a tentar o rádio. Nessa época, Carlos trabalhava numa barbearia e, através da manicure e cantora portuguesa Maria Fernanda, conseguiu entrar em contato com pessoas influentes da Rádio Educadora, hoje Tamoio, onde se apresentou, naquele ano, cantando a valsa Destino, de Nonô e Luís Iglésias. No dia seguinte, foi procurado por um representante da RCA Victor, que o convidou para fazer um teste na gravadora. Cantando o samba Até Amanhã, de Noel Rosa, foi aprovado, incorporando-se ao coro que acompanhava os artistas, até gravar seu primeiro disco, com os frevos-canção Você Não Gosta de Mim, dos Irmãos Valença, e Que É Que Há?, de Nelson Ferreira, que fizeram muito sucesso no Recife.
Logo a seguir, lançou seu segundo disco, com dois sambas de Assis Valente, Pra Onde Irá o Brasil e É Duro de se Crer. Ainda em 1933, gravou Samba Nupcial, de José Luís e Jaime Silva, Elogio da Raça, marchinha, Pra Quem Sabe Dar Valor, samba, e Boas Festas, marcha natalina, composições de Assis Valente, e o samba Pão de Açúcar, de Assis e Artur Costa. Era o desabrochar de uma careira vitoriosa que se manteve firme até 1978, quando registrou seu último LP. Além da RCA Victor, da qual era contratado, trabalhou, mediante cachê, em várias emissoras do Rio, entre elas Mayrink Veiga, Rádio Clube, Philips e Rádio Sociedade, arrebentando no Carnaval de 1934 com a marchinha Carolina, de Hervé Cordovil e Bonfiglio de Abreu, gravada pela RCA Victor.
Em 1935, já contratado pela gravadora Colúmbia, estreou como cantor romântico, com a valsa Cortina de Veludo, de Paulo Barbosa e Oswaldo Santiago, seu primeiro grande sucessos no gênero. Grande destaque mereceu em 1936 sua gravação da valsa Italiana, de Paulo Barbosa, José Maria de Abreu e Oswaldo Santiago. Desde então, passou a ser um dos intérpretes mais requisitados no cenário musical carioca. Em 1938, participou do filme Banana da Terra, dirigido por J. Ruy.
Em 1943, gravou aquele que seria um de seus maiores sucessos e que se tornaria em espécie de seu prefixo, a valsa Fascinação, de Marcelo Marchetti, com versão de Armando Louzada.
Em 1945, gravou, na Continental, com Dalva de Oliveira e Os Trovadores, a adaptação de João de Barro para a história infantil Branca de Neve e os Sete Anões, em dois discos, com músicas de Radamés Gnatalli. Em 1952, passou o ano inteiro em Portugal, realizando apresentações por todo aquele país. Em 1953, foi eleito o Rei do Disco, pela Revista do Disco.
Em 1955, casou-se com Eulália Salomon Bottini e participou do filme Carnaval em Lá Maior, dirigido por Ademar Gonzaga. Em 1957, atuou no filme Metido a Bacana, de J. B. Tanko.
Carlos Galhardo dominou em todos os gêneros da MPB, do Romance ao Carnaval. Guardo em meu acervo 504 títulos que ele gravou, sendo 182 de marchinhas e sambas carnavalescos. Isso em falar nos inúmeros sambas de meio de ano e das valsas que o consagraram. Até mesmo as gerações mais modernas, do Século XXI, não desconhecem as marchinhas Alá-lá-ô, de Nássara e Haroldo Lobo, gravada em 1941, e Cadê Zazá?, de Roberto Martins e Ari Monteiro, lançada em 1948.
Sua popularidade nas Décadas de 1940 e 1950 foi tão grande que era apresentado como Carlos Galhardo, O Cantor Que Dispensa Adjetivos, ficando também conhecido como O Rei da Valsa, títulos consagrados pela Revista do Rádio e a mídia em geral.
Como um dos cantores que mais venderam discos no Brasil, chegou à era do LP com força total. Aqui apresento capas de alguns de seus vinis:
O início dos Anos 1960, marcado pela avalanche produzida pelo Rock e pela Bossa Nova, fez com que sua carreira entrasse em declínio, como acontecia com todos os ídolos da Velha Guarda, arrefecimento também registrado com os programas radiofônicos, frente à onda avassaladora da TV.
Como acima foi dito, gravou seu último LP em 1978. Em 1983, participou de seu derradeiro espetáculo montado, o show Alá-lá-ô, em homenagem ao compositor Nássara, que também atuava ao lado da cantora Marília Barbosa, dirigidos ambos por Ricardo Cravo Albin, igualmente autor do roteiro da atração, apresentada na Sala Funarte.
Ao final da vida, atuava, com frequencia, em shows por todo o Brasil. Faleceu no dia 25 de julho de 1985, no Rio de Janeiro, em casa, vítima de infarto, e seu corpo foi sepultado no Cemitério São João Batista.
Carlos Galhardo foi um dos cantores que mais venderam discos no Brasil, contabilizando, só em discos 78 RPM, cerca de 580 gravações. Hoje, seus álbuns são ainda encontrados, com certa facilidade, em sebos virtuais.
A Editora Revivendo, em seu excelente trabalho divulgador dos ídolos que fizeram nossa história musical, tem em seus catálogos os seguintes CDs:
Aqui vai pequena amostra de seu imenso repertório:
Boas Festas, marcha natalina, de Assis Valente, lançada em 1933:
Alá-lá-ô, marchinha, de Nássara e Haroldo Lobo, de 1941:
Bye, Bye, My Baby, frevo-canção, de Nélson Ferreira, de 1944
Cadê Zazá?, marchinha, de Roberto Martins e Ari Monteiro, de 1948:
Deus Me Ajude, samba de Francisco Alves, David Nasser e José Roy, de 1952:
Para finalizar, ouçamos a valsa Fascinação, de Marcelo Marchetti, versão de Armando Louzada, gravação de 1943, que sempre vem à baila quando o nome de Carlos Galhardo é mencionado, e que lhe deu, mui merecidamente, o título de O Rei da Valsa: