O cantor Claudionor Germano, astro do carnaval do Recife
Em 1962, quando assistente da Gerência do Banco do Brasil, no Recife, apresentei um jovem cantor de Rádio, ao Dr. Pedro Lima, durante momento muito agradável, porque o primeiro diálogo foi meio hilário, em virtude do bom humor de ambos.
Ao introduzi-lo, além da apresentação comercial ao meu chefe, informei que se tratava de um famoso cantor do Rádio Jornal do Commercio.
Uma prosa se iniciou antes que as tratativas comerciais surgissem.
– Ah, então o senhor canta no Rádio Jornal? Sabia que sou acionista de sua empresa, exatamente da Tv Jornal?
– Que bom! Sim, sou cantor, mas aqui o assunto é comercial. Sou Claudionor Germano da Hora e aqui estou para dirimir dúvidas quanto a uma operação comercial que está em curso com uma das clientes do Banco do Brasil, a empresa Gessy-Lever, da qual sou Gerente.
E Dr. Pedro, inteligente, procurou derivar um pouco antes do cliente tratar do assunto. Perguntou se a atividade musical dava dinheiro, ao que o cantor respondeu com segurança quase filosófica:
– É uma profissão muito ilusória. A fama pode subir à cabeça, mas o sucesso é coisa temporária. Por isso tenho uma atividade paralela, sendo comerciário.
– O amigo é pernambucano?
– Sou, nasci na Avenida Caxangá, aqui no Recife, no Dia do Índio: 19 de abril.
– Quantos irmãos tem?
– Lá em casa somos cinco irmãos. Um deles é o escultor Abelardo da Hora.
– Ah, então quer dizer que são “Cinco Horas?…”
Diante do trocadilho, o cliente compreendeu que se tratava de um cidadão agradável e que desejava derivar um pouco a chatice do assunto comercial que o levara ao Banco, soltando conversa. Foi quando o cantor aproveitou para melhor se ambientar.
– Vale dizer ao senhor que tenho boas ligações com o seu Banco, porque com o funcionário José Barreto e um amigo comum, o Aldo Guedes, formamos o conjunto: “Trio Albano”, mas foi coisa de amador.
– O que, rapaz!… Então você está em casa!… Fale mais alguma coisa sobre você.
– Gravei uma das mais notáveis canções de Capiba: “Maria Betânia”, que aliás, foi a trilha sonora da peça “Senhora de Engenho”, de Hermógenes Viana, também, funcionário do Banco do Brasil e ilustre homem de letras.
– O que, meu amigo? Estou admirado!
E desse encontro tão agradável, comecei a imaginar: escrever a biografia de Claudionor. Fiz a pesquisa, muitas entrevistas com cantores, compositores e colecionadores e lancei anos depois, sob o título de “Canta se queres viver”, um livro que motivou um espetáculo realizado no Salão Nobre do Clube Internacional do Recife.
Fizemos um show com um monte de artistas, do qual participaram Onilda Figueiredo, Mêives Gama, Paulo Duarte, Fernando Castelão, Voleide Dantas, Nerise Paiva, Paulo Duarte, Antônio Laborda, Irmãs Acyoman, Mônica Maria, Inalva Pires, Marilene Silva, Flor de Maria, Gilberto Fernandes, Terezinha Mendes, Jakson do Pandeiro, Mimi Castilho, Neide Maria, Inaldo Vilarim, José Auriz, Capiba, Expedito Baracho, Creusa de Barros e alguns outros artistas, sem falar os intelectuais.
Claudionor Germano é um dos maiores intérpretes de Capiba e quando divulgamos aquele livro ele já havia gravado mais de 100 músicas desse compositor, segundo notas de Samuel Valente, um dos maiores colecionadores de música popular brasileira.
Nossa amizade continua representando a maior expressão de afetividade até os presentes dias, quando lhe faço visitas regulares e aproveitamos para rever os melhores tempos do Rádio pernambucano.
Nunca me esqueci de uma das suas frases filosóficas:
“Cante se quiser viver bem! Por isso que eu vivo a cantar!”* * *
Claudionor Germano e Orquestra Nelson Ferreira
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A Dor de Uma Saudade – Composição de Capiba e interpretação de Claudionor Germano