Eu e tu numa redinha
Num vai e vem compassado
Ouvindo o canto de um torno
Em um gemido arrastado
Enquanto pela janela
Vem beijar tua face bela
Um ventinho assoprado.
Assoprado do nascente
Depois de lamber o mar
Trazendo na brisa fria
Um quê de “te quero amar”
E o meu pé na parede
Empurra a nossa rede
Fazendo um torno cantar.
Cantar de pura alegria
Por nós dois ali deitados
Tu dormindo no meu peito
Eu com meus olhos fechados
Cheirando os teus cabelos
E todo ancho por tê-los
Sobre o meu peito assanhados.
Assanhados pelo vento
Entrando pela janela
Refrescando o fim da tarde
Enquanto o torno à capela
Vai seu lamento cantando
Gemendo e nos balançando
Numa cantiga singela.
Singela feito teu rosto
Tão belo sobre meu peito
Descansando do amor
Há pouco na rede feito
Invejado pelo vento
Que o torno sem movimento
Até chamou de perfeito.
Perfeito feito o quadro
Dos dois pares de calçados
Esquecidos sob a rede
Uns sobre outros deixados
Largados sobre o tapete
Ouvindo o torno em falsete
Como dois apaixonados.
Apaixonados!
Como eu e tu na redinha.