Com a chegada da temporada eleitoral 2022, quando inúmeros quadros políticos se tornarão passado, a história de Caim e Abel, os primeiros filhos míticos de Adão e Eva, merece ser recordada, para ser hoje muito bem aplicada. Um estudo não muito recente de Gerry Lange e Todd Domke, intitulado Caim e Abel no Trabalho, ressalta duas evidências. A primeira revela que Caim não é totalmente mau, tampouco um psicopata. Ambicioso, sim, ele apenas deseja provar a si mesmo que é superior em poder e status. Mestre na arte de trapacear, vive bem consigo mesmo porque sempre está mentindo para si próprio.
A segunda evidência apresenta Abel, o irmão, como um sujeito de índole aberta, alma desarmada, acessível, fala mansa e muito bom caráter, embora mimado por ser caçula. Uma pessoa possuidora de requisitos para lidar com muitos outros abéis, embora por derradeiro incapaz de conviver com Caim sem sair chamuscado. Ou liquidado.
No picadeiro político de 2022, os abéis devem sempre exercitar duas perguntas “binoculizadoras”: vale a pena compartilhar histórias embaraçosas com outras pessoas?; quais as possíveis consequências, se alguém mais souber de tais histórias?
Na feitura de parcerias, os abéis descuidados se esborracham, por não saberem diferenciar esquerdistas que cumprem o trato estabelecido, de esquerdeiros (a expressão é de Guerreiro Ramos) que se postam de bons moços. Como bens clonados, os caims ignoram a ética para a conquista do poder, ansiosos por status e dinheiro fácil. Muito diferentemente dos abéis, eles chegam cedinho ao trabalho, cercam-se de auxiliares de fake news nada honestos, contabilizam fotos e notas sociais e imaginam que o campo da luta é tal e qual o seu derredor gabineterial, o de muito ódio e de falsidades mil.
Todo Abel refuga a tese “algumas pessoas merecem ser engabeladas porque se postam idiotamente ingênuas, nunca atentas às tramas de Caim, um expert em táticas que infernizam e geram encrencas”. E por desejar continuar bonzinho, caladinho, sempre encolhido ou cumprindo as tarefas mais espinhosas, nunca se sai bem nas cláusulas “aliancistas”. E sofrem ataques cibernéticos dos ruminantes que apenas agridem, tentando reviver o ideário de uma inteligência assassina que meteu um balaço na mente em abril de 1945, num bunker já quase destruído, matando ainda sua dedicada esposa Eva.
Facilmente se pode identificar um Caim. Basta perceber seu nível de preocupação com “quem conhece quem” para o estabelecimento das suas armações. De postura sempre inconveniente, todo Caim acha que nunca fez nada de errado, não sendo motivo para vergonhas. E pouco se lixa para ideias e princípios, pois não pensa além da sua inferioridade mental política. Concordando com todos os lados, a sua meta é convencer sempre, pondo fé nos seus subterfúgios analíticos, aplaudidos pelos que politicamente nunca saíram do charco.
O semblante de um Caim sobressai-se facilmente: olheiras profundas, olhares furtivos e sem fixação demorada, ar de teatral preocupação, pouco riso, a refletir fingida solidariedade para com o social, voz farofeira, também viciada em cochichos, cabelo à moda antiga, cor de pele amorenada, própria dos que deambulam pelos derredores palacianos de motocicletas.
Todo Caim possui uma capacidade ímpar, a de forçar os outros a jogar o seu jogo. Só integra siglas partidárias que comecem pela letra “p”, inicial também de poder, pantim, papata e paparrotada, também sendo idolatrados os termos patifaria, peraltice e povo, este último apenas citado quando a época chega nos palanques armados em tempos de apelação.
É chegada a hora dos abéis se desabestalharem, em 2022. Para felicidade geral da Nação Brasileira, que merece futuros mais promissores para todos.
Para quem gostaria de identificar melhor as grosserias emitidas por quem não sabe pensar sensatamente, recomendo a leitura de A MENTE DE HITLER: O RELATÓRIO QUE INVESTIGOU A PSIQUE DO LÍDER DA ALEMANHA NAZISTA, Walter C. Langer, São Paulo, LeYa, 2020, 272 p. Leitura que esclarece porque Adolfo Hitler não deve ser classificado por agente irreflexivo. Um líder que poderia ter tido melhor desempenho se não ouvissem as recomendações alucinantes de um Hess, de um Goring e de um Goebbels, de muitos imitadores bundões neste Brasil que amamos.