Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo domingo, 07 de junho de 2020

CAFU COMEMORA OS 50 ANOS

 

Em carta, Cafu comemora 50 anos e conta como lida com morte do filho

'Quero mostrar como minha família e eu nos fortalecemos em tempos muito difíceis'
 
 
Cafu beija a taça do penta, em 2002 Foto: Dylan Martinez / REUTERS
Cafu beija a taça do penta, em 2002 Foto: Dylan Martinez / REUTERS
 
 

Hoje estou completando 50 anos. É um aniversário marcante, mas será uma comemoração completamente diferente das demais. Em virtude da pandemia que está ocorrendo, estarei longe de muitas pessoas que são próximas a mim, e após completar um ano de um pesadelo que jamais imaginei passar, sinto que hoje é um bom momento para compartilhar e lidar com as emoções de milhões de perdas de todo o mundo, estou convencido do que estamos sentindo agora.

No dia 4 de setembro de 2019, Deus levou meu filho, Danilo Feliciano de Morais. Ele tinha apenas 30 anos. Alguns acontecimentos neste mundo são inexplicáveis. Não há rima nem razão. Perdi meu filho em meus braços. Eu tentei salvá-lo e ajudá-lo, mas ele partiu. Este era e é um sentimento de vazio, é uma sensação horrível. Às vezes nos sentimos impotentes, outras vezes nos sentimos tão fortes em nossos corpos e mentes, mas em um dado momento como esse, sua força física é o mesmo que nada, não ajuda. Por não conseguir salvar seu próprio filho, você se sente completamente fraco.

 

Mas Deus o levou e tenho certeza de que ele está muito bem onde está agora. Ele está cuidando de nós e rindo lá de cima de tudo o que estamos fazendo aqui. Oro para que nenhum outro pai passe por isso, pois um pai jamais deveria enterrar seu próprio filho.

Cafu ao lado do filho Danilo Foto: Reprodução Instagram
Cafu ao lado do filho Danilo Foto: Reprodução Instagram

 Até hoje, não expus esse trágico incidente e, embora eu não queira detalhar os acontecimentos daquele dia ou dos dias imediatos, semanas e meses após sua morte, me sinto preparado para falar sobre determinadas coisas. Sinto-me da mesma maneira que muitas outras milhões de pessoas em todo o mundo se sentem, e que a cada dia no meu amado Brasil passam por sentimentos semelhantes de perda repentina. Quero contar e compartilhar. Quero usar esta carta para mostrar como a minha família e eu nos fortalecemos em tempos muito difíceis. Quero compartilhar nossas paixões, que incluem o esporte, e que têm nos ajudado nesta batalha.

Antes de prosseguir e embora esta seja a primeira vez que falo diretamente sobre a morte do meu filho, devo agradecer às milhares de pessoas que me enviaram seus pensamentos e orações. As palavras não podem expressar o quanto isso significou para mim e para minha família naquele momento e, do fundo do meu coração, agradeço a todos e a cada um de vocês que nos ajudaram nesta superação.

 

Da mesma forma que estou mencionando a minha família, tenho certeza que com essa pandemia que está acontecendo em cada canto do mundo, as pessoas em quarentena estão passando o maior tempo possível com seus entes queridos. E aqueles que estão distantes de seus entes queridos devem estar pensando e sentindo falta das famílias como jamais sentiram. Isso me lembra a força e o apoio que recebi da minha família após a morte do Danilo. Minha família é grande, e eu sou um dos seis irmãos. Não tive o apoio deles apenas naquele momento, mas também nesta crise atual. A família é a base de tudo. Renovamos nossas forças todos os dias juntos, para que possamos superar essa dor e encarar o futuro juntos.

A dor de perda permanece, no entanto, devemos sempre recordar de momentos positivos. Quando penso no Danilo, lembro do que ele mais gostava, que era fazer brincadeiras com as pessoas. Logo, quando essa dor vem, sempre lembro desses momentos bons e acabo sorrindo. É assim que lidamos com a sua partida, de uma maneira mais positiva.

 

E mais uma vez, como ainda há o isolamento aqui no Brasil e em muitas outras partes do mundo, estou passando ainda mais tempo com aqueles que estão perto de mim. Estou treinando todos os dias e estou treinando-os todos os dias, o que se tornou uma atividade familiar diária e bem divertida. As pessoas me verão como um famoso positivo, feliz e que está sempre sorrindo. Vejo como uma avaliação necessária da minha pessoa, mesmo estando longe da mídia. Dessa forma, sempre procuro ver os aspectos positivos de tudo, mesmo enfrentando esta pandemia assustadora, podemos observar o tempo maior que ganhamos com as nossas famílias. Para mim, particularmente, certamente é uma bênção, pois costumo viajar tanto que muitas vezes não estou presente e perto dos meus familiares. Hoje, por meio desse fato negativo há uma situação positiva. Claro, sinto falta de estar em contato com o público em geral. Sou uma pessoa popular e não há nada que me alegra mais do que conhecer pessoas e conversar com elas sobre o futebol.

Cafu trabalha no Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2022 Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo
Cafu trabalha no Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2022 Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo

 Também realizei muitos trabalhos nos últimos meses junto ao Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2022, onde sou embaixador global. Através da nossa cooperação e do programa "Geração Incrível", tive a oportunidade de conhecer centenas de jovens fãs de futebol de todo o mundo, e antes desse isolamento, trabalhei nas sessões de treinamento com eles. Ao lado de meus colegas embaixadores, Xavi, Samuel Eto’o e Tim Cahill, vemos a alegria no rosto dessas crianças quando chegamos e brincamos com elas. Sinto muito falta disso. Sei que o programa realizou diversas sessões virtuais para que todas as crianças isoladas em casa pudessem acompanhar. Isso é admirável e é uma grande inovação durante esse período. Tenho certeza de que todos pensam o mesmo ao ver pela primeira vez a alegria nos rostos das crianças quando elas jogam futebol. Isso é insubstituível. É o que mais me alegra e é o que mais sinto falta.

 

Como já disse a mim mesmo em todos os dias de lutas do ano passado, essa dor e negatividade não durarão eternamente. Embora eu tenha certeza de que nunca esqueceremos esse momento, isso aliviará. E quando tudo isso acabar e retornarmos à vida normal, certamente apreciaremos as pequenas coisas que consideramos muito mais importantes.

Neste momento, estamos enfrentando tempos sombrios, mas como diz o ditado: a noite é sempre mais escura antes do amanhecer.

Peço a todos que se protejam, fiquem em casa, fortifiquem-se, fiquem juntos. Cuidem uns dos outros e lembrem-se que um dia, em breve, isso tudo acabará.


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