RIO — O mais ambicioso projeto da Força Aérea Brasileira (FAB), o chamado programa F-X2, entrou na quinta-feira em uma nova fase, com o primeiro voo do Gripen NG no Brasil, batizado pela Aeronáutica como F-39E. O caça sueco, configurado apenas para testes, voou por uma hora e três minutos, após decolar no Aeroporto de Navegantes (SC), às 14h04, e pousar no Centro de Ensaios em Voo, na sede da Embraer, em Gavião Peixoto (SP), às 15h07. A aeronave, que não teve contratempos em seu primeiro teste por aqui, veio da Suécia dentro de um navio, que atracou, no último domingo, no porto do município catarinense.
— A partir desse momento, iniciaremos os ensaios em voos no Brasil. Já fizemos alguns na Suécia. Agora, faremos conjuntamente com a Embraer, utilizando pilotos de testes da Embraer e da Força Aérea Brasileira — afirmou o diretor do Programa Gripen, da Saab, no Brasil, Bengt Janér.
O F-39E alcança 2.400 km/h, o que representa duas vezes a velocidade do som. É uma aeronave multimissão, com funções de patrulha (ar-ar), ataque (ar-terra) e ainda com capacidade de operações contra alvos marítimos (ar-mar).
— É um caça que podemos chamar da geração 4.5 +. Ou seja, um degrau abaixo do topo. Ainda assim, podemos afirmar que é o estado da arte em termos de tecnologia em aviação — explicou Nelson Düring, especialista no setor e editor-chefe do portal Defesanet.
O programa F-X foi concebido há 20 anos. De lá pra cá, ocorreram atrasos e controvérsias. Em 2009, já rebatizado como FX-2, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a anunciar, durante visita do então presidente francês Nicolas Sarkozy a Brasília, a escolha pelo Dassault Rafale. A decisão não foi chancelada pela Aeronáutica. E, em dezembro de 2013, a ex-presidente Dilma Rousseff anunciou o acordo com a fabricante sueca, que tem como principal destaque a transferência de tecnologia e a produção de 15 das 36 aeronaves em solo brasileiro.
— A grande virtude do programa Gripen não é só gerar conhecimento, mas ter carga de trabalho. A participação da indústria nacional é decisiva. Se a indústria brasileira não fizer a parte dela, nós não recebemos a aeronave. São 62 projetos, extremamente detalhados, com transferência de tecnologia para a indústria e para o Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA). Cada um deles visa uma área diferente — explicou o presidente da Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (Copac), da Aeronáutica, Major-Brigadeiro do Ar Valter Borges Malta.
Os primeiros 13 caças serão integralmente produzidos na Suécia. Outros oito serão fabricadas na Europa e finalizados no Brasil, que participará ativamente da produção das unidades com dois lugares, que ainda não haviam sido desenvolvidas na época da assinatura do contrato.